O que é valor?

O que é valor?

Ontem me peguei estudando pela quarta ou quinta vez o livro O Banquete, de Platão. Me chamou a atenção que um livrinho de bolso, com mais de 2.400 anos, vendido a preço de banana (hoje até mais barato que a banana) tenha um nível de ensinamento como este. Me chama ainda mais atenção a minha dificuldade de entendê-lo. Se tão baratinho e pequeninho, por que muitas grandes mentes o indicam e ele é tão difícil de entender?

A princípio, pelo tamanhinho e precinho, podemos supor que seja uma leitura simples, rápida e inútil, pois, por se tratar de domínio público, você só pagará o preço das folhas de papeis e da gasolina usada para distribuí-lo (são poucas folhas e não precisamos pagar para os herdeiros de Platão os royaties do livro). Por outro lado, se é um livro de domínio publico (ou utilidade pública) ele deve servir para algo. A pergunta continua aberta.

Como vivemos a era do utilitarismo, onde tudo tem que ter uma utilidade prática para as pessoas, precisamos entender onde é o que ele será útil. Para isso, buscamos pistas em sua contracapa: “... uma série de discursos sobre a natureza e as qualidades do amor...”. Para que raios queremos saber a natureza do amor, sendo que [supostamente] já sabemos? Amor é um assunto batido, tratado exaustivamente em todos os filmes comédias românticas hollywoodianos, portanto não dever ter uma utilidade adicional para a gente. Então está explicado o preço – de fato não deve ter valor nenhum.

Mesmo assim, por respeito a grandes pensadoras e pensadores, aliada a uma inexplicável vontade interna, a pessoa ainda quer ler o livro. Com entrega na leitura, percebe que não entendeu nada. Na segunda, ainda nada. E, ao procurar um mestre que lhe explique, descobre que o autor, ao buscar explicar a natureza e a qualidade do amor, toma cuidado para que somente aquelas e aqueles que realmente queiram entender consigam fazê-lo. O livro é quase dado, mas o conhecimento nele inserido não. Para merecê-lo, aquelas e aqueles que o buscam, precisam se dedicar, estudar, procurar por quem já tenha sabido, e, principalmente, reconhecer que para ter algo desse valor (conhecimento) tem que estudar e se dedicar. Para essas iniciadas e esses iniciados, Platão forneceu a chave que abre a porta de um castelo raro, escondido, onde poucas e poucos podem entrar e usufruir da recompensa.

Perceba que o livro nos é barato, mas o conhecimento nele contido nos é caro. Muito caro. Talvez compreender essa ideia de Valor te ajude a compreender a diferença entre ter O Banquete e entender a natureza do amor. A diferença entre ter uma empresa, e reconhecer o quanto ela te fez mais grata e generosa. Entre ter um filha e reconstruir-se. A diferença entre ter um patrimônio e uma história de dedicação, inteligência e coragem. 

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