O boom do Scrum
Em 2012 eu decidi que queria estudar Scrum e me matriculei em um curso. Escolhi o CSPO, ou seja, uma certificação para atuar como product owner, um dos papeis do Scrum. Na época, eu era gerente de produtos em uma empresa que adotava uma metodologia tradicional e enxerguei semelhanças na função em relação ao papel de Product Owner. O curso me levou à certificação e também a ser um membro da Scrum Alliance.
Naquela época eu pude liderar um grande projeto de uma instituição pública. Fiz diversas viagens para ouvir o cliente, escrevi documentos extensos, preparei mockups, elicitei requisitos, orcei o desenvolvimento com o engenheiro e a equipe, colhi assinaturas do cliente para garantir que ele havia concordado. Mas comecei a me frustar quando percebi que não estava funcionando e que a cada nova reunião o cliente mudava tudo e o software não progredia.
Apesar de enxergar no ágil uma opção, eu simplesmente não podia mudar a metodologia da empresa toda, fortemente ligada ao tradicional e repleta de gerentes de projetos certificados. Então decidi encaixar no meu dia a dia ao menos um pouco da essência do ágil: passei a envolver equipes apenas no momento certo, a oferecer a eles uma visão de produto mais fiel e já priorizada, entre outros.
No meu mestrado eu decidi encaixar o Scrum em minha dissertação, na qual eu trabalhei o planejamento de uma rede social voltada para um nicho. Como o Scrum não é prescribente, ou seja, não lhe diz tudo o que fazer (por isso é um framework), precisei associar duas outras técnicas para chegar à visão de produto, ao modelo de negócios e à um roadmap, que me permitiram a partir dai elaborar um product backlog, ou seja, uma lista de requisitos inicialmente não ordenada, que seria destrinchada e priorizada à medida em que o desenvolvimento do software ocorresse.
A essência Scrum pode ser aplicada em outras áreas. Já experimentei aplicar numa equipe de marketing e foi bem interessante. O ágil de forma geral é sempre interessante.
No momento sou professora de três cursos de pós-graduação relacionados à TI e ministro a disciplina de métodos ágeis. Estou orientando trabalhos científicos de alguns alunos que também estão trabalhando com Scrum. Uma das alunas, inclusive, está trabalhando com as semelhanças entre PMBOK e Scrum. Sim, elas existem!
Em um outro trabalho, a aluna aplicou um questionário para entender como se deu o uso de Scrum em uma empresa de desenvolvimento. Ela entrevistou 38 pessoas que trabalharam com Scrum, mas que acabaram migrando para outra opção e obteve essas respostas:
Estaria o Scrum sendo uma opção ruim? Por que em alguns casos ele não funciona? Se eu adaptar o Scrum ele deixa de ser Scrum? Em minhas pesquisas e palestras respondo a algumas destas questões por meio de dados e pesquisas de grandes instituições. Mas posso resumir que as principais falhas do ágil estão na cultura da empresa e na tentativa de implementar, não no modelo em sí.
Mas como chegamos ao cenário ágil, tão disseminado na atualidade?
Em 1971 o cientista da computação holandês Dijkstra usou pela primeira vez o termo “crise do software”, referindo-se ao fato de existir, em grande parte, uma desorientação em relação ao planejamento e condução dos processos de desenvolvimento de software e de muitos desenvolvedores não utilizarem um processo adequado para tal. Dijkstra avaliou que a rapidez com que o hardware progredia e as demandas por sistemas mais elaborados eram fatores que contribuíam para uma desorientação dos desenvolvedores, em uma época na qual a Engenharia de Software era pouco disseminada.
Os problemas relacionados à administração, nesse sentido, ainda são praticamente os mesmos, girando em torno de prazos não cumpridos, custos altos, sistemas complexos, demandas frequentes de manutenção e adificuldade de encontrar profissionais.
Pressman (2010) cita que as metodologias ágeis foram desenvolvidas com o objetivo de vencer as fraquezas percebidas e as reais da Engenharia de Software, e que com elas é possível adaptar o processo para ter certeza de que ele não
atrapalha a agilidade, que acomoda as necessidades da equipe, que produz apenas os produtos que permitem entregar um incremento planejado, que se avalie continuamente a qualidade do trabalho, e que permita acomodar mudanças que possam impactar no cronograma e método de trabalho.
Em 2001, foi assinado o Manifesto do Desenvolvimento Ágil de Software, por Kent Beck e outros desenvolvedores e consultores de software, que formavam a Aliança Ágil, na qual foram levantados pontos que seriam valorizados. Dentre eles:
- indivíduos e interações MAIS que processos e ferramentas;
- software funcionando MAIS QUE e uma documentação muito abrangente;
- colaboração do cliente MAIS QUE negociação de contratos;
- resposta a modificações MAIS QUE seguir um plano.
A partir dai, surgiram os 12 princípios do manifesto ágil, que direcionaram as metodologias que nasceram a partir dele.
Se quiser saber um pouco mais, veja esse artigo que escrevi "10 artigos sobre Scrum que valem por um curso"
Referências:
PRESSMAN, R. S. Engenharia de Software. Mc Graw Hill, 6 ed, Porto Alegre, 2010.
WAZLAWICK, R. D. Engenharia de Software - Conceitos e Práticas, Campus, 2013.
Analista de Sistemas Senior Ânima Educação
8 aÓtimo artigo. Gostei! Será que grandes empresas com grandes equipes com grandes projetos conseguem se adequar ao modelo ágil? Pelo menos no passado tinha informações que esse tipo de metodologia era para pequenas equipes. Grande abraço.
Product Designer at Wolt / DoorDash
9 aMuito bacana seu texto, Flavia. Acho que brigar contra cultura de um modo geral é muito difícil. A mudança tem que acontecer em um outro nível de profundidade primeiro.
SR HR Business Partner @Scania Latin America | Chassis Industry
9 aCauê Artur Rodrigues Olha, valeu saber o que é para me explicar! xD
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9 aAlan Santos, Me.