O Brasil a caminho da indústria 4.0
Uma projeção competitiva na construção do futuro do Brasil
Resumo: Uma nova revolução industrial se inicia e dela nasce a Indústria 4.0, que em sua essência visa buscar resultados com a finalidade de obter impactos positivos na produtividade industrial e na competitividade global, junto com a implantação de inovações tecnológicas e a contribuição entre governo, pesquisas e indústria. Neste artigo, foi feita uma apresentação dos componentes que estão inseridos na Indústria 4.0, e em cima destes componentes será realizada uma revisão de literatura com o intuito de identificar a situação das empresas brasileiras em relação aos avanços da Indústria 4.0. Foram propostas algumas estratégias com base no que foi encontrado na literatura, visando com que as empresas se adequem o mais rápido possível para esta nova revolução industrial. Palavras-chaves: Indústria 4.0; Tecnologias; Revolução Industrial; Competitividade.
1. Introdução
O desenvolvimento tecnológico ao longo do tempo trouxe mudanças significativas no cenário mundial. Atualmente as empresas estão enfrentando grandes modificações em função destas evoluções tecnológicas, aderindo-se a implantações de tecnologias inovadoras e métodos de trabalhos para agregarem maior valor aos serviços e produtos. Ao fim do século XVIII na Inglaterra, ocorreu a Primeira Revolução Industrial, iniciada pela introdução de equipamentos mecânicos. Isto revolucionou a forma de como os bens eram produzidos. A produção artesanal foi substítuida por fábricas com o foco em grandes produções visando o aumento da produtividade. Chukwuekwe et al. (2016) citam que ainda referente à Primeira Revolução Industrial, a mecanização agrícola e as máquinas a vapor foram de grande importância, pois a sua consequência melhorou a produção alimentícia da época e as produções de bens.
A Segunda Revolução Industrial ocorreu no final do século XIX e início do século XX, trazendo consigo a impulsão da eletricidade e equipamentos elétricos, que originou uma produção em massa baseada na divisão do trabalho (KAGERMANN, WAHLSTER, HELBIG, 2013). Ainda na Segunda Revolução Industrial houve o desenvolvimento das linhas contínuas de produção e a instalação de trilhos de movimentação no setor produtivo, onde o setor automobilístico da época foi o grande exemplo, com a produção do Modelo T pela empresa Ford, o que resultou em um aumento significativo na produtividade.
Segundo Kagermann, Wahlster, Helbig (2013) na segunda metade do século XX, a Terceira Revolução Industrial foi originada por intermédio dos avanços na informática e outras tecnologias eletrônicas, o que aumentou os níveis de automação nos processos e em tarefas que necessitassem do uso da inteligência. Em 1969 foi lançado o CLP, controlador lógico programável, onde foi símbolo de tecnologia para época, e permitiu o comando e monitoramento de máquinas e processos industriais e também a programação de sistemas automatizados. Ainda dentro da engenharia de sistemas de automação, os expressivos ganhos em produtividade se devem aos sistemas eficientes e altamente flexíveis originados da programação (DRATH; HORCH, 2014).
A Quarta Revolução Industrial, conhecida como Indústria 4.0, se caracteriza pela integração dos sistemas ciberfísicos, uso da IoT (Internet of Things – Internet das coisas) e o envolvimento de todas as etapas da cadeia de valor, como por exemplo, o desenvolvimento de novos produtos, modelos de negócios, condições da produção, logística até a etapa de pósvenda (CNI, 2016a).
Em suma, os quatros estágios da revolução industrial são apresentados na Figura 1:
Figura 1 – As fases da revolução industrial.
Fonte: adaptado de Kagermann, Wahlster, Helbig (2013).
Este trabalho tem como objetivo discutir e apresentar os conceitos e componentes que estão inseridos na Indústria 4.0 recorrendo a uma revisão de literatura, identificando todos os componentes que estão presentes na aplicação deste conceito da nova revolução industrial, assim como seus reflexos na competitividade entre as indústrias e os desafios que o setor industrial do Brasil tende a encontrar em todo o desenvolvimento e processo de mudança para esta nova era digital. Por ser um tema que ainda é pouco difundido no território nacional, o trabalho tem o propósito de servir de base para futuros estudos na área.
O levantamento bibliográfico foi baseado em leituras de materiais atuais publicados em artigos, teses, dissertações e em livros. Segundo Hart (1998) a pesquisa por ser de natureza exploratória, tem o objetivo de fornecer uma melhor análise do tema e de seu contexto envolvido, a fim de aprofundar o estudo e ressaltar sua importância.
A pesquisa é objetiva e sistematizada, pois o método utilizado é específico para obter conhecimento. A escolha deste método não representa uma etapa simples e toda sua definição é de suma importância para que sejam alcançados os objetivos previstos (ACEVEDO; NOHARA, 2006).
2. Fundamentação teórica
2.1 Histórico e conceitos da Indústria 4.0
O termo “Indústria 4.0” nasceu na Alemanha pelo governo local para um projeto com finalidades tecnológicas por volta de 2011 e foi usado pela primeira vez na Feira de Hannover (FEIMEC, 2016). Em 2012 foi apresentado ao Governo Federal Alemão, um relatório para planejar a implementação deste termo. Em 2013 foi publicado na mesma feira um relatório final referente ao desenvolvimento da Indústria 4.0. Seu fundamento diz que as fábricas inteligentes, também chamadas fábricas do futuro, terão em sua essência fundamentos que buscam conectar processos, máquinas e sistemas de maneira inteligente por meio de redes tecnológicas controlando de forma autônoma os módulos de produções e construindo um modelo de produção altamente flexível, personalizado e digital com interações em tempo real entre dispositivos, produtos e pessoas durante todo o processo produtivo dos bens (ZHOU, 2015).
A Figura 2 representa a ilustração deste conceito de interações:
Figura 2 – Interações na indústria 4.0.
Fonte: adaptado de Monostori et al. (2016)
Para Bitkom, Vdma e Zvei (2015) a Indústria 4.0 está caracterizada em três tópicos:
- Integração horizontal via redes de valor: integração de vários sistemas de Tecnologia da Informação para execução e apoio na fabricação, comercialização, logística e serviços entre empresas, trabalhando a colaboração entre elas e incluindo aspectos e métodos para novos modelos de negócios.
- Natureza de ponta a ponta da engenharia ao longo de todo o ciclo de vida: criação de um suporte entre todo o fluxo de valor do produto, onde todas as informações geradas durante este ciclo de vida devem ser interligadas de ponta a ponta permitindo relacionar o produto e seu projeto de construção;
- Integração vertical e sistemas de produção em rede: integração em tempo real de diferentes sistemas informáticos em distintos níveis hierárquicos de um sistema, como fabricação, execução, planejamento e gerenciamento.
Para Macdougall (2014), além dos três tópicos que caracterizam a Indústria 4.0, inclui-se a aceleração através de tecnologias exponenciais. Operações de negócios que envolvem especialmente a fabricação necessitam da utilização de diversas tecnologias, onde uma grande parte destas tecnologias já realizam operações em seu sistema produtivo há um longo tempo, porém a evolução tecnológica traz soluções e meios de processos mais eficientes e em um tempo curto, todas essas tecnologias poderão ser aplicadas numa base de produção em massa, fazendo com que as empresas e indústrias tirem proveito disto.
As antigas revoluções industriais tiveram como consequência um aumento significativo da produtividade em seus processos e sistemas de produção industrial. Diferente das revoluções industriais anteriores, a Indústria 4.0 é embalada por uma grande mudança social devido ao frequente uso da combinação de dispositivos inteligentes. Para o setor industrial, este novo comportamento exige uma grande interconectividade destes sistemas tecnológicos, com a finalidade de melhorar a colaboração e integração entre sistemas de produção.
Devido ao aumento da concorrência, as empresas passaram a enfrentar grandes desafios para se destacarem no cenário industrial. Para Schuh et al. (2014) e Baur e Wee (2015) o ambiente atual referente a esta nova revolução é identificado pelas características de: automação, globalização da tecnologia da informação, fonte única e cooperação.
2.2 Componentes da Indústria 4.0 e suas aplicações
Para uma empresa, um de seus grandes desafios consiste na renovação das formas tradicionais de negócios, impulsionada pela grande evolução tecnológica onde se destacam a introdução de novas tecnologias nos processos produtivos. Para acompanhar esse ritmo de evolução, é necessário que as empresas incorporem ferramentas de processamento, transmissão de dados e de leitura.
Para Hermann, Pentek & Otto (2015), existem quatro componentes que formam e compõe a Indústria 4.0, são elas: Cyber Physical System (Sistemas CiberFísico – CPS), Internet of Things (Internet das Coisas – IoT), Internet of Services (Internet dos serviços – IoS) e Smart Factories (Fábricas Inteligentes). Chukwuekwe et al. (2016) ainda completa com outros três componentes tecnológicos que também fazem parte da Indústria 4.0, sendo eles: Big Data (Volume de dados), Clound Computer (Computação em Nuvem) e 3D printing (Impressão 3D) conforme se observa na Figura 3.
Figura 3 – Componentes da Indústria 4.0.
Fonte: Autoria própria
- Cyber Physical System (CPS): para Lee (2008), os Sistemas CiberFísicos são integrações entre computação e processos físicos, onde os computadores e redes integradas controlam e monitoram todos os processos físicos, geralmente com loops de realimentação onde os processos físicos afetam os cálculos e vice-versa.
Sensores inteligentes, redes de monitoramento, tecnologias de identificação (identificação por radiofrequência – RFID), controle físico de processo e computadores fazem parte da integração entre o mundo virtual e o mundo físico. Neste ambiente os sistemas são interconectados e tem funções como configurar, monitorar, ajustar, programar as máquinas dentro de um processo produtivo, de acordo com os dados coletados e analisados em tempo real.
- Internet of Things (IoT): este conceito (Internet das Coisas) é utilizado para referenciar os sistemas que dependem de uma comunicação autônoma de certo grupo de objetos físicos. Esses sistemas oferecem inúmeros benefícios para as indústrias (ESPADA; YAGER; GUO, 2014). No ambiente da manufatura, a Internet das Coisas pode ser definida como um futuro onde os objetos do chão de fábrica, as pessoas e os sistemas estão conectados a uma rede com o intuito de criar serviços críticos à fabricação (SHARIATZADEH et al., 2016). O sistema de execução de manufatura com base na Internet das Coisas possui características como monitoramento do processo de fabricação, informações de fabricação de diversas origens, acesso aos recursos de produção, otimização no processamento de dados, tudo isso em tempo real (ZHANG; SUN, 2013). As redes de sensores sem fio (RSSF) são fundamentais para a Internet das Coisas, pois interliga sensores inteligentes para detectar, comunicar e monitorar (YICK; MUKHERJEE; GHOSAL, 2008), com fácil conexão e comunicação, tamanho reduzido e menor custo em relação aos sistemas com fios, estas redes tem sido utilizadas na aplicação de monitoramento industrial (LI et al.; 2015).
- Internet of Service (IoS): para Buxmann, Hess e Ruggaber (2009), a Internet dos Serviços é constituída por modelos de negócios, participantes, infraestrutura de serviços e os serviços propriamente ditos. Todos esses serviços são combinados a valores agregados por diversos fornecedores, sendo comunicados aos usuários e consumidores e sua forma de acesso ocorre através de diversos canais.
As pessoas e objetos se conectarão através de aplicativos disponíveis nesta plataforma, e cada sistema possuirá características próprias como suporte para usos colaborativos, adaptabilidade entre outras características.
- Smart Factories: nas fábricas inteligentes, para gerar ganhos significativos de eficiência, recurso, tempo e custos, serão empregados os CPS. A comunicação, a troca de informações e o trabalho em conjunto entre produtos, máquinas e linhas de montagem irão acontecer de forma instantânea, assim será necessário um alto nível de automatização.
- Big Data e Data Analytics: grandes quantidades de dados armazenados, interpretados e analisados em função das seguintes dimensões: valor, veracidade, visão, volatilidade, verificação, validação e variabilidade. Essas dimensões, do ponto de vista da engenharia, fornecem uma melhor caracterização dos dados coletados e dão valor à análise de Big Data para o domínio da manufatura (BABICEANU; SEKER, 2016). Para uma empresa de manufatura, esta tecnologia trará uma série de benefícios, tais como redução de custos, melhoria da eficiência operacional e otimização de processos (ZHOU, 2015). Data Analytics é o termo que torna vivo e cria o novo valor em Big Data (PCAST, 2014). As tomadas de decisões podem melhorar significantemente com a Data Analytics, minimizando os diversos riscos e descobrindo valiosas informações que permanecem escondidas (MANYIKA, 2011).
- Cloud Computing: este conceito é baseado em um modelo de acesso a rede para um conjunto compartilhado de recursos computacionais que podem ser rapidamente lançados com um esforço reduzido de gerenciamento ou interação com provedor de serviços (MELL; GRANCE, 2011). Em um resumo, pode ser definida como um conjunto de recursos com capacidade de processamento, conectividade, aplicações, armazenamento e serviços disponíveis na Internet (TAURION, 2009).
- 3D Printing: a necessidade para o desenvolvimento da impressora 3D foi de criar peças de matéria-prima com baixo custo diretamente de um arquivo CAD (Computer Aided Desing) e também reproduzir iterações de projetos (CHUKWUEKWE et al. 2016). A impressora 3D possui a capacidade de auxiliar no desenvolvimento de novos produtos, fazendo com que seja possível simular e testar suas versões preliminares. Essa tecnologia possui uma grande importância para a Indústria 4.0 por ser um processo de construção automatizado.
Tabela 1 – Princípios de Engenharia na Indústria 4.0
Fonte: Hermann, Pentek e Otto (2015).
A seguir, são apresentadas as características relativas à Indústria 4.0:
- Interoperabilidade na Indústria 4.0 possui uma importância, pois se trata da capacidade de comunicação entre um CPS e outro (podendo ser informatizado ou não) por meio de redes abertas.
- Virtualização está associada na capacidade que os CPS possuem em monitorar processos físicos.
- Descentralização faz com que as etiquetas RFID mostrem para as máquinas quais passos de trabalho são necessário.
- Capacidade em tempo real é o estudo das coletas e análise de dados em tempo real, fazendo com que a planta possa reagir à falha de uma máquina e fazer com que o produto seja redirecionado para outra máquina.
- Orientação ao serviço transmite a ideia de que CPS, serviços empresariais e humanos podem ser utilizados por qualquer integrante por meio do IoS.
- Modularidade é a capacidade de adaptação flexível a grandes mudanças.
2.3 O impacto competitivo da Indústria 4.0 nas fábricas do futuro
Produtores, fornecedores, trabalhadores e fabricantes serão afetados por todas as inovações que seguem a Indústria 4.0. Para que as empresas possam recrutar pessoas para atuar neste ambiente, será crucial que os profissionais tenham conhecimento e habilidades necessárias a esta nova revolução industrial. O apoio governamental será importante por se tratar investimentos em infraestrutura para que todos os sistemas operem de maneira sólida e sem divergências ou possíveis falhas, buscando sucesso e incluindo logística inteligente e mobilidade. Wagnels e Schmitt (2012) dizem que, para que as empresas possam competir neste ambiente desafiador a necessidade de se esforçar por níveis de produtividade mais elevado se tornará a chave para o sucesso.
Koch et al. (2014) dizem que investimentos consideráveis serão aplicados para que as empresas enfrentem esta transição digital. Para os próximos cinco anos, é estimado que 50% dos investimentos de capital reflita em investimento de soluções para Indústria 4.0. Na Alemanha cerca de 40 bilhões de euros devem ser investidos por ano até 2020 no setor industrial. Conforme Figura 4, pode-se observar os investimentos anuais em outros países europeus que podem adotar a Indústria 4.0 como estratégia, podendo fazer com que os investimentos cheguem a 140 bilhões de euros por ano.
Figura 4 - Volume de Investimento em soluções de Indústria 4.0.
Fonte: adaptado de Koch et al. (2014)
As empresas que decidirem por soluções de integração e gerenciamento entre cadeias de valor horizontais e verticais terão, segundo Koch et al. (2014) um aumento de 18% na produtividade nos próximos cinco anos. No contexto atual, apenas 20% das empresas industriais buscaram soluções e digitalizaram seus processos. Estima-se que em cinco anos, 85% das empresas terão em seus departamentos, soluções implementadas referentes à Indústria 4.0.
A digitalização e interconexão de serviços e produtos é observada como um fator importante para impulsionar as empresas, onde ganhos competitivos e novos modelos de negócios irão gerar um valor adicional ao cliente final por oferecer soluções personalizadas (ACCENTURE, 2016). Os novos modelos de negócios são oriundos da integração do aumento da cooperação horizontal da cadeia de valor e os dados gerados por análises, assim cumprindo as necessidades do cliente final.
As empresas que tomarem as decisões certas ao investirem em novos projetos e em soluções tecnológicas junto com recursos otimizados, terão o retorno em ganhos de receita, não podendo esquecer o capital humano,E este deverá estar constantemente atualizado e especializado para acompanhar e desenvolver aplicações para novas tecnologias.
2.4 Desafios, barreiras e propostas para o desenvolvimento da Indústria 4.0 no Brasil
Esta nova era da indústria e seus respectivos impactos em todo o cenário industrial faz com que o Brasil fique atento a diversos desafios. Segundo especialistas, o cenário industrial brasileiro ainda se encontra de um modo geral na transição do que pode se dizer ser a Indústria 2.0 (segunda revolução industrial) que tem como característica linhas de montagem e o uso da energia elétrica, para a Indústria 3.0 (terceira revolução industrial) que em sua essência aplica a automação, utilizando robótica, programação e eletrônica (FIRJAN, 2016).
O que faz criar desafios para o Brasil é o fato de que, para alguns países, a Indústria 4.0 começa a se tornar realidade, tendo o apoio do governo. Para o Brasil, além de ter que buscar se desenvolver tecnologicamente e buscar apoio governamental e investimento, é preciso que o Brasil trace o mais rápido possível, um plano de ação que faça com que o país não fique tão atrás de seus principais rivais no mercado industrial. Para melhorar sua participação nas cadeias globais de valor, é importante que o Brasil fique atento na Indústria 4.0, e como consequência das inovações implantadas, o país se tornaria fortalecido no desenvolvimento industrial (CNI, 2016a).
O uso das tecnologias digitais ainda é pouco difundido no cenário das indústrias brasileiras. De todas as indústrias, cerca de 58% sabem da importância dessas tecnologias para a competitividade no mercado e menos da metade estão utilizando (CNI, 2016b). Apenas 9% das empresas no Brasil se classificam como avançadas em níveis de digitalização. Essas empresas apostam que em 2020, este percentual salte para 72% de empresas com um nível avançado de digitalização aqui no Brasil (PWC, 2016).
O avanço tecnológico da Indústria 4.0 no Brasil depende de um maior conhecimento das empresas pelos ganhos da digitalização, o que se diz a respeito ao aumento da produtividade como as oportunidades de novos modelos de negócio, customização da produção e redução no lançamento de produtos no mercado. Para que este cenário da Indústria 4.0 possa ser implantado de maneira geral nas indústrias brasileiras, elas primeiramente necessitam se familiarizar com todos os impactos da digitalização sobre os setores e os modelos de negócios (CNI, 2016b).
Para manter uma vantagem sobre seus concorrentes, as empresas devem assegurar o comprometimento da alta direção e realizar investimentos em implementação. Mapear sua estratégia se torna o passo primordial. Esta estratégia para a Indústria 4.0 definirá a sequência de passos que a empresa deve tomar para que se transforme em uma empresa totalmente digital. Por isso é essencial dedicar tempo para definir claramente a visão da empresa (PWC, 2016).
Algumas propostas sobre o tema Indústria 4.0 e o seu desenvolvimento no Brasil são apresentadas a seguir:
- Aplicações nas cadeias produtivas e desenvolvimentos de fornecedores: as mudanças significativas nas relações entre cliente e fornecedores são provocadas pela integração digital das empresas em sua cadeia produtiva que por sua vez, tem como resultado o ganho em eficiência. Para isso, é demandada uma adaptação dos processos já existentes, assim como também, o desenvolvimento de novas tecnologias de software e hardware. Além da pressão do mercado, onde os concorrentes buscam por baixos custos de fatores de produção, o desenvolvimento de outros países em relação à Indústria 4.0 aumentará ainda mais a pressão sobre alguns setores industriais do Brasil, onde precisarão correr contra o tempo e se desenvolver tecnologicamente o mais rápido possível. Com isto, a demanda de bens e serviços abrirá oportunidades para que o desenvolvimento de fornecedores de tecnologias digitais cresça no Brasil. O desafio então será estabelecer uma política que estimule este desenvolvimento tecnológico nas empresas e que seus processos, produtos e serviços se adaptem à realidade da Indústria 4.0 no contexto global. Seria necessário então, qualificar como fornecedora deste tipo de solução a base industrial nacional, o que passa pelo estimulo à inovação. Identificar empresas e setores com o maior potencial em adotar as tecnologias ligadas à Indústria 4.0 seria uma das propostas. Outras propostas são a criação de programas de desenvolvimento de fornecedores de bens e serviços ligados às tecnologias para os setores e a elaboração de um planejamento estratégico voltado para o desenvolvimento das cadeias e setores selecionados (CNI, 2016a).
- Adoção de novas tecnologias e incentivos à inovação: Pela grande variedade de tecnologias que estão inseridos na Indústria 4.0, é necessário que os usuários destas tecnologias possuam um elevado grau de conhecimento para que possam empregar essas tecnologias de forma sensata e eficiente. Como segundo desafio, temos a necessidade de um intercâmbio tecnológico e comercial com outros países que já estão inseridos no mercado da Indústria 4.0. Para isso, a política deve estimular esses intercâmbios, para que o conhecimento das tecnologias estrangeiras seja absorvido da forma mais eficiente possível e, em contrapartida, a viabilizar a produção de maneira competitiva dos bens e serviços considerados estratégicos.
Segundo a CNI (2016a), a proposta para este ponto estão em aperfeiçoar a tributação destinada a cada setor selecionado, para que não seja motivo de entrave ao receber um investimento e também a criação de um mecanismo de financiamento diferenciado para o desenvolvimento e adoção de novas tecnologias.
O Brasil precisa elaborar uma nova geração de políticas de inovação, com o foco totalmente voltado para o aumento da produtividade industrial e econômica. Para isso, essa nova geração de políticas terá de contribuir com a captura seletiva e o reprocessamento dos avanços da manufatura mundial, como também no agronegócio e serviços, empresas e empreendedores para obterem padrões internacionais de qualidade e eficiência para então disputar fatias de mercado em ambientes altamente competitivos (ARBIX, 2017).
- Desenvolvimento tecnológico: Serão criadas oportunidades para o desenvolvimento de novos fornecedores nacionais de soluções tecnológicas em função da diversificação da indústria nacional e da influência do mercado interno para o desenvolvimento da Indústria 4.0 no Brasil. Para que seja aproveitada esta oportunidade, o desenvolvimento de instrumentos de apoio às empresas que irão desenvolver novas tecnologias será necessário. O desafio consiste em identificar, por parte do governo e da indústria, os nichos onde as barreiras à entrada são menores e, consequentemente, aonde o desenvolvimento será maior. O Brasil já possui conhecimento nos setores de integração de sistemas e software, que em cima das necessidades de customização das soluções, bens e serviços para diversos clientes, abrirão portas para novas oportunidades para serviços ligados.
As propostas deste item são a criação de programas que facilitem o intercâmbio tecnológico e comercial com países líderes nessas tecnologias; identificação de nichos com maior espaço para o desenvolvimento de tecnologia nacional e o desenvolvimento de programas e serviços de estudo de tecnologias (CNI, 2016a).
- Recursos Humanos: Os profissionais que estarão inseridos na Indústria 4.0, necessitarão de um elevado nível de conhecimento e formação diferente das já existentes. O elevado nível de conhecimento técnico, capacidade de interação de diferentes áreas de atuação e a integração de diversas formas de conhecimento, exigirá equipes multidisciplinares, o que é características desse modo de produção da Indústria 4.0. A oferta por novos cursos técnicos deve ser levada em consideração para atender as necessidades específicas das empresas, assim também como a reformulação de cursos de engenharias e administração para adequar as novas necessidades dessas tecnologias, podendo ser implantado também cursos de gestão da produção com ênfase em Indústria 4.0. O incentivo de programas de competência tecnológicos dentro das empresas também se faz necessário (CNI, 2016a).
Algumas universidades no Brasil buscam criar em seus respectivos campus, laboratórios e parcerias entre empresas para capacitarem seus alunos, criando um elo entre universidade e empresas promovendo o desenvolvimento tecnológico e de inovação para a Indústria 4.0 no Brasil (REVISTA BRASIL-ALEMANHA DE INOVAÇÃO, 2016).
Segundo uma pesquisa realizada pela Fundação Dom Cabral (FDC), com executivos de empresas atuantes no cenário nacional, os profissionais da área de TI têm a oportunidade de assumir cargos e posições mais ativos no desenvolvimento de projetos inovadores, alinhados com as estratégias empresariais (WR, 2015).
- Articulação institucional: O Brasil pode aproveitar as oportunidades relacionadas à incorporação e ao desenvolvimento de soluções no país devido à atuação dos setores públicos que direta ou indiretamente, e de forma coordenada, lidam com temas ligados à digitalização da economia. Os avanços tecnológicos e da digitalização da economia em diversas áreas de aplicação, demandará o desenvolvimento de soluções especificas para cada uma delas, mas que empregarão tecnologias similares e mesma infraestrutura. A atuação coordenada dos setores públicos poderá gerar ganhos em eficiência que combinadas com instrumentos de política industrial, viabilizará o desenvolvimento de novas tecnologias e atividades ligadas à digitalização.
Para que o Brasil possa acompanhar as evoluções tecnológicas para entrar na nova era Industrial da digitalização, é necessário que os esforços sejam acompanhados, para que os desafios e barreiras tecnológicas possam ser superados em nosso cenário industrial atual.
Para que o Brasil se desenvolva em relação à Indústria 4.0 é a questão da crise econômica que assombra o nosso país. Muitos executivos pensam que não investir e recuar em meio à crise é a escolha correta, sendo que é nesse momento em que se deve investir em transformações a partir da inovação, pois quando as dificuldades financeiras são superadas, é possível maximizar o retorno do investimento realizado (REVISTA O PAPEL, 2015).
3. Conclusão
Esse estudo apresentou o conceito da Quarta Revolução Industrial, chamada de Indústria 4.0, que implica na adoção de sistemas ciberfísicos, implantação de estratégias com alta tecnologia e Internet das coisas, com intuito de chegar às fábricas inteligentes. Isso faz com que a indústria tenha uma capacidade enorme em especialização e consecutivamente em produção, graças a grande capacidade de adaptação, eficiência dos recursos e integração dos negócios. Com novas tecnologias, fica evidente que os velhos hábitos industriais ficam para trás, e as inovações práticas oriundas desta nova revolução permitem que os problemas sejam resolvidos com antecipação, o aumento de disponibilidade de equipamentos e máquinas tornam maiores e a coleta de dados para análises se tornam mais rápidas e em tempo real, fazendo com que a tomada de decisão dentro de um processo seja acertada de forma precisa e em um tempo mais ágil.
Embora o tema Indústria 4.0 seja ainda recente no cenário brasileiro conforme foram apresentados, os objetivos deste trabalho foram alcançados, uma vez que podemos contar com trabalhos realizados por diversos autores de outros países onde a Indústria 4.0 já existem ou foram publicados.
O Brasil, comparado aos outros países que estão no topo da economia global, se encontra na transição do que chamamos de Indústria 2.0 para a Indústria 3.0 (Segunda e Terceira Revolução Industrial). Por se tratar de uma revolução tecnológica, o uso das tecnologias digitais ainda é pouco difundido no Brasil, o que faz com que o país necessite ter um maior conhecimento sobre os desafios e os benefícios desta nova era tecnológica.
Para que o Brasil possa estar inserido no contexto da Quarta Revolução Industrial, devem ser adotadas como estratégias, mudanças em todos os processos industriais, tendo a integração digital ao longo das cadeias produtivas como parte principal desta mudança. Incentivos e o desenvolvimento de novas tecnologias também devem ser levados em consideração tendo o apoio integral do governo. Outra estratégia que o Brasil deve adotar é ofertar novos cursos técnicos e reformular os cursos de graduação, adequando-os para novas necessidades das empresas por parte de mão de obra capacitada na Indústria 4.0.
Os desafios e barreiras que o Brasil encontra e irá encontrar ao longo desta revolução tecnológica, devem ser acompanhados em conjunto pelas empresas e governo, pois só assim será possível estar no mesmo patamar tecnológico das grandes economias globais.
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Coordenador do Núcleo de Estágio da FEPI
8 mParabéns!! Só tem feras nesses artigo!!! Edson D. Maia e Alexandre Fonseca Torres... forte abraço !!! #Sucesso
STRAT Excelência Operacional
3 aMuito bom! Boa ideia compartilhar, Edson! Muito obrigado. Parece que ainda estamos atrasados em relação à indústria 4.0, e a pandemia desacelerou muita coisa. O tempo voa hein... Um abração! 😀🙏