O Brasil dos meus sonhos
Semana passada foi de questionamento de paradigmas da filantropia. De um lado o movimento Altruísmo Eficaz teve uma perda moral junto com a rapidez histórica da falência da bolsa de valores de criptomoedas de um de seus maiores doadores, Sam Bankman-Fried, e de outro um primeiro estudo publicado pela Stanford Social Innovation Review aponta para o que acontece quando organizações sociais recebem recursos irrestritos da filantropa americana Mackenzie Scott (aqui uma adaptação para o português). Mas os "lados" não são apenas uma forma de construir um argumento em um primeiro parágrafo de um artigo, são de fatos práticas de doações que partem de lugares distintos e conceitos opostos.
O Altruísmo Eficaz é uma prática que se propõe a encontrar "a melhor forma de ajudar", segundo a definição do próprio movimento, o que soa como música aos ouvidos até que as tais práticas se tornam mais claras ao leitor. Criticada por ser a expressão mais moderna da corrente "os fins justificam os meios", o Altruísmo Eficaz segue a trilha conceitual da filantropia estratégica e, antes dela, do próprio conceito de filantropia quando colocada em oposição à caridade. Obviamente a mudança de paradigma para o endereçamento de causas dos problemas sociais em adição às consequências foi essencial, nesta trilha. A questão, no entanto, tem sido não o "o que", mas o "como". Nesta corrente, doar precisa ser eficaz, eficiente, produzir o melhor resultado por real aplicado. E como em qualquer sistema de produção, a busca da eficiência depende do controle do processo.
O que acontece, então, quando depois de décadas de controle, onde a maioria dos profissionais do campo filantrópico (gestores, consultores, captadores de recursos) acreditam ser necessário competir por recursos escassos? Onde os profissionais já saem dos cursos de formação acreditando que precisam ser melhores para sobreviver em um mercado piramidal? Onde a maior parte da produção de conteúdo do campo é feita principalmente por pessoa que são formadas sob desta lógica de pensamento, que se retroalimenta?
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Fica difícil até de acreditar que existe uma forma diferente de atuar no campo social (ou no mundo) que pode trazer resultados práticos e bem estar organizacional. É por isso que o primeiro estudo sobre as práticas filantrópicas da Mackenzie Scott me chamaram a atenção. Porque quando lideres de organizações sociais, pessoas que já fizeram na vida uma opção de trabalhar por uma causa em detrimento (sejamos francos mas não nos acostumemos ao fato) à maximização do enriquecimento próprio, encontam um lugar seguro para respirarem aliviados, pararem de se preocupar com a escassez de recursos e voltarem a sonhar, é isso que acontece.
Quando o Movimento por uma Cultura de Doação nasceu em meus sonhos - e sempre digo que não nasceu apenas em mim, caso contrário não seria o que é hoje, mas também em mim e é deste lugar que eu falo - era exatamente essa imagem que eu havia criado: um Brasil onde não faltam recursos e que permite sonhos. Como os lideres das organizações sociais entrevistados, eu também conheço o aperto entre as necessidades locais, o potencial das pessoas envolvidas na organização social para endereçá-las e a vida controlada por recursos que restringem nossa atuação.
É deste lugar apequenado que precisamos sair. E nesta semana parece que demos passos.
ART - agricultura regenerativa tropical
2 a... ser melhor para sobreviver ... é Darwinismo, não? Quem de nós sabe o quanto os estudos da Evolução evoluíram, eles próprios, para relativizar esta lei natural obtida num arquipélago do oceano pacifico? O quanto a Simbiogênese de Lin Margulis trouxe uma evolução pela cooperação ... até constatarmos a simbiose plural de uma floresta tropical em que cada ser vivo coopera com outros. A superação da visão estreita do Darwinismo, para um planeta vivo graças aa colaboração mútua, mudará até o impulso de doar. Colaborar é preciso, quando o conceito é a evolucão de "todos", pois somente o conjunto tem a força de realmente prosperar.