O Brasil que queremos...
Um vídeo que talvez não passe na tua TV!

O Brasil que queremos...

por Marisa Torres

Qual é o Brasil que queremos? A pergunta se repete em todos os programas jornalísticos da Rede Globo e o âncora ensina a gravar o vídeo na horizontal. E é exatamente uma imagem na horizontal que temos hoje. Um país deitado em códigos de conduta que subjugam a condição de vida em sociedade. (nem vou dizer que a pergunta veio com o devido atraso de quem prefere dar uma de bom entendedor das demandas sociais, numa forma de omissão de responsabilidade pelos fatos).

Em tempos de Copa, a imagem é clara. Senão, que se use um árbitro de vídeo. Será que ela caberia num só ângulo, ou seria melhor gravar um vídeo panorâmico?

Esticar os cantos da lente hoje é triste. O ministro interino do Trabalho, Helton Yomura, acaba de engrossar a já imensa lista de suspeitos de ações criminosas, que vai de políticos, governantes, representantes máximos da Justiça, a altos executivos de empresas privadas. Juntos formam verdadeiras quadrilhas ao lado do crime organizado.

Atenção para um dos cantos da tela que pode pegar o detalhe do aumento de câncer nas áreas rurais e para isso não há filtro: resulta em má formação de bebês e puberdade precoce.

Sem recurso de edição de imagem....uma nova lei favorece o impacto nocivo de agroquímicos na saúde e no cultivo das plantas, com o extermínio das abelhas, por exemplo. Ou seja, o veneno vira contra o feiticeiro, porque sem o trabalho das abelhas toda a produção fica comprometida. E quem sofre? De novo, em primeiro lugar, quem vive do cultivo. Na linha do tempo, o relator que libera o uso de agrotóxicos no Brasil também restringe a venda de orgânicos. E vamos dar viva aos ruralistas ou à indústria química. São eles que colocam comida, digo, veneno na nossa mesa.

E não adianta colocar efeitos de animação na tela. Afinal, algumas tomadas já incentivam mais que publicidade de refrigerante. Ou seja, o gás de cozinha tem aumentos mais rápidos que servir um PF. Esta semana 4,4%. Mas não se esqueça de usar um loop (vai e volta). Afinal, no ano passado, 1,2 milhão de residências brasileiras voltaram a usar lenha e carvão para preparar alimentos.

Ao gravar o seu recado, aí vai outro. Hoje, 5/7/2018, completam-se 113 dias sem resposta aos assassinatos de Marielle e Anderson. Mas acho que você não vai querer saber ao certo quantas crianças e policiais foram mortos só no Rio de Janeiro nesse período, vai?

O seu tempo de 1 minuto de gravação está se esgotando. Enquanto isso... algum tipo de vida também se esvai. Afinal, o aumento dos planos de saúde privada em 4 vezes mais que os indicadores de inflação oficial seguem a lei do retorno. A gestão do SUS, já não conta mais, está na contagem regressiva.

Se a pergunta inicial “Qual país que queremos?” servir ao menos para uma reflexão honesta, ... já valeu a pena ter gravado o vídeo. Salve-o agora, ou cale-se para sempre. Não é à toa, que amanhã, em plena sexta, dia de jogo de Copa para o Brasil, a terra ressentida, vai encurtar o passo e se afastar, tomar recuo, como quem vai cobrar uma penalidade máxima, numa longa exposição. Parece que a própria terra lamenta ver tantos gritos de desespero, sem qualquer audiência séria. São imagens em movimento e que parecem sem volta. Agora é só esperar o âncora te chamar pelo nome.

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