O brasileiro é mesmo empreendedor?
Uma pesquisa realizada pela GEM (Global Entrepreneurship Monitor) em parceria com o SEBRAE (Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas) indica que a cada 100 brasileiros adultos, aproximadamente 20 estavam envolvidos com atividades empreendedoras no ano de 2016. E este percentual tem aumentado desde aquele ano, comprovando que o brasileiro é interessado em empreender, a ter seu próprio negócio, quer seja como um grande empresário a gerar vários empregos, quer seja como um modesto empreendedor individual.
Quando lemos estas manchetes costumamos nos orgulhar da nossa genética para empreender enquanto nação (uma nação que até recentemente aceitava a escravidão!) mas o orgulho diminui quando vemos, realmente, quantos empreendedores prosperam e alcançam o tal sucesso.
Nas revistas de negócios conhecemos, mensalmente, um novo empreendedor que vendia coxinhas, águas ou balinhas e agora dá palestras e entrevistas com Hublot no pulso. Mas, infelizmente, estes fazem parte da exceção. A regra por aqui, meus amigos de linkedin, é empreender para sobreviver, para manter a família alimentada, os filhos na escola pública e o aluguel em dia. Esta é a regra. Comprar um time de futebol em Orlando, depois de fazer telemarketing em orelhão, é um digno exemplo da exceção.
Se o que vende é sonho, a mídia sabe bem disso. Os coaches provam isso. Os gurus engravatados e seus livros, comprovam. Ninguém gosta de ler histórias de fracasso pois, no Brasil de infinitas oportunidades, fracassar não é ensinamento, é vergonhoso.
E antes que os otimistas de plantão fiquem emputecidos, quero provocar uma reflexão com minha opinião pessoal: uma significativa parcela do nosso povo quer empreender pois a maioria dos patrões é emocionalmente despreparada. Muitos colaboradores são liderados por seres inseguros que encontraram na soberba (e na cara de braveza) a única maneira de pleitear algum respeito. Delegam poderes que eles próprios não tem!
Nosso povo, serviçal dos exploradores portugueses até pouco tempo, não quer mais suar e se calar apenas para entregar o ouro. Grande parte da população, que as pesquisas apontam como empreendedora, está tentando maneiras de levar o pão para casa sem precisar ser amassado. Os microempreendedores brasileiros querem superar suas próprias metas, prosperar com suas próprias pernas, usar e abusar da criatividade, da força de vontade e da alegria. Imaginação e coragem não faltam. Faltam incentivos e ensinos que ajudem nossos anônimos a errarem menos e a lucrarem mais.
E para finalizar, ainda com foco na realidade, lembremos que empreender NÃO É para todos. É preciso garra, inovação, organização, conhecimento, disciplina e resiliência. Se você tem pelo menos 5 destas 6 qualidades, mergulhe de cabeça e lembre-se que sucesso é algo relativo. Uns querem uma Ferrari vermelha. Outros, apenas paz para trabalhar. E sorrir no fim de cada dia.
Ricardo Tamassia
Advogado especializado em Direito Civil, Societário, Tributário, Empresarial e Família.
5 aBelo artigo! Sucesso!