O complexo mundo da aprendizagem

O complexo mundo da aprendizagem

Estamos vivendo tempos complexos (será que alguém ainda tem alguma dúvida sobre isso?). E apesar da ausência de certeza dar a tônica de momentos de complexidade, estou bem certa de que a natureza dinâmica de sistemas complexos requer que tenhamos muito bem desenvolvida , uma capacidade de continuamente sentir e aprender com o sistema e se habituar com a adaptabilidade que este requer.

A complexidade tem me requerido um processo contínuo de investigação iterativa que se baseia em sabedoria e insights de todo o sistema. A ordem do desordenado (complexo e caótico) nos tirando do conforto de Sentir, Analisar (encontrar uma boa prática) e Responder. para Sondar (realizar experimento), Sentir (aprender) e Responder (agir em sua melhoria).

Começo a encontrar algumas respostas a questões inquietantes que insistentemente me rondavam. Por que nem sempre acessar uma informação cria a capacidade de mudança? Inúmeros treinamentos, capacitações, conversas e tudo "como dantes no quartel de Abrantes".

Alguns insights que podem ser o caminho para as respostas a esta minha inquietação. Dentre estes, alguns gritando alto e sonoro por aqui.

  • Conhecimento é diferente de informação (e essa não é a novidade). A novidade é trazer para a cena que a aquisição de conhecimento está sujeito à interpretação e portanto, integrado ao nosso próprio sistema de conhecimento pessoal incorporado. Nossas fontes e nossas crenças anteriores nos levam a interpretações que podem modificar o sentido do que se quer fazer conhecer.  A interpretação é influenciada pela perspectiva. A maioria de nós tem mais de uma perspectiva em um determinado momento, mas pode dedicar apenas uma perspectiva a qualquer assunto em particular.
  •  A imobilidade (sabe mas não faz?). Descuidamos muitas vezes do aspecto de que a transferência de conhecimento requer a conversão tanto do conhecimento implícito (tácito) quanto do conhecimento explícito. O conhecimento tácito não é articulado e pode exigir “aprender fazendo” em vez de encontrar esse conhecimento escrito (explícito) em qualquer lugar.
  • Nosso processos incluem gestão do conhecimento? Há uma dedicada atenção à compreensão de que a troca genuína de conhecimento requer uma combinação de capacidades que inclui a criação, organização, armazenamento, troca e aplicação do conhecimento? A aplicação é determinada pela capacidade de reconhecer o valor do novo conhecimento e a capacidade de adquiri-lo, assimilar, transformar e aplicá-lo.

E por fim, talvez um dos mais importantes

  • O conhecimento é construído social e contextualmente dependente. O conhecimento não existe no vácuo. Não pode ser transferido magicamente. O conhecimento não é simplesmente um produto. O conhecimento é uma entidade e um processo que combina informação com experiência, contextos diversos, interpretação e reflexão

Sob esta ótica, encontro muitas explicações. Se adquirir conhecimento é um processo social, a aprendizagem também é social e portanto, requer processos socialmente contruídos que permitam, tanto o aprendizado cognitivo (relacionado a entender e usar novos conceitos), quanto o aprendizado comportamental (relacionado à capacidade física de agir). Se a aprendizagem é um processo socialmente habilitado, então a ênfase deve estar na criação de espaços para que tais processos se desenvolvam.

Mas e as escalas de aprendizagem? Não devo considerá-las? O processo socialmente habilitado, não exclui os níveis de aprendizagem nas escalas individual, de grupo (por exemplo, equipe, organização) e de sistema.

  1. No nível INDIVIDUAL. A construção da capacidade de SER. Pensar para além e fora de frameworks tradicionais para resolver problemas não rotineiros; capacidade de reconhecer e reconsiderar os próprios modelos mentais; estar ciente das mudanças no mundo exterior que estão acontecendo agora ou acontecerão no futuro e estar disposto e preparado para lidar com elas; ser capaz de construir e sustentar uma rede de colegas e conhecidos profissionais que apoie a criação e compartilhamento de conhecimento; conhecer seu estilo de aprendizagem e o que, como e onde aprender melhor
  2. No nível GRUPAL. A construção da capacidade de partilha. A interação dinâmica ou dança generativa entre a aprendizagem individual e em grupo, com insights gerados em um nível alimentando a aprendizagem no outro por meio de ciclos de aprendizagem socialmente habilitados.
  3. Na escala de SISTEMAS. Sentir e aprender com o sistema e se adaptar de acordo. Isso requer um processo contínuo de investigação iterativa que se baseia na sabedoria e nos insights de diversos atores em todo o sistema. A aprendizagem em escala de sistemas é sobre SABEDORIA COLETIVA como definida pela capacidade de 'comunidades' ou 'redes' de cooperar intelectualmente na criação, inovação e invenção do conhecimento. A rede permite o aprendizado compartilhado e a resolução coesa de problemas. 

Compreender o processo de aprendizagem talvez seja o único caminho para quem se permite ser figura de transição. A grande virada da humanidade está na disposição e boa vontade de gerar capacidades. Avanço um passo dos muitos que ainda preciso.

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