O Curso de Medicina, o Enade e a Avaliação pelo MEC
No Brasil, a cada 3 anos alunos de cursos superiores que estejam no final da graduação são submetidos ao ENADE – Exame Nacional de Desempenho dos Estudantes. Trata-se de uma avaliação que considera diversos aspectos relacionados ao curso e à instituição, sendo o mais conhecido a Nota dos Concluintes do Enade. A nota 1 é a mais baixa e a 5, a mais alta. Esses conceitos são arredondados, pois há nota exata é contínua, com duas casas decimais – ex: 3,24, ou 2,76.
Trabalhando em uma instituição que cravou a mais baixa nota no Enade 2019, eram cristalinas as mudanças a serem implementadas. Claro que a nota do Enade não reflete, necessariamente, a qualidade de um curso; mas, convenhamos, nenhum curso nota 1 poderia ser o sonho de qualquer jovem com o mínimo de ambição intelectual. A próxima etapa de avaliação a que esse curso seria submetido não seria, novamente, o Enade, mas a avaliação do Ministério da Educação (MEC), pelo ato de Reconhecimento.
Uma opção seria organizar o curso para atender exclusivamente cada indicador analisado pelo MEC, tendo evidências de um curso de boa qualidade. Outra opção, seria realizar uma mudança real “a partir de dentro”, e, naturalmente, ter evidências que caracterizariam o bom ensino, boa gestão, o zelo e a obsessão pela perfeição. Esse foi o caminho escolhido.
Nessa trilha, muitos docentes não se adaptaram e seguiram caminhos fora da instituição, outros foram demitidos; alguns alunos “ameaçavam” se transferir para outras instituições caso não parássemos com as mudanças (uns poucos cumpriram essa promessa). Havia apreensão da equipe administrativa, duros questionamentos e desconfiança geral. Tudo isso era irrelevante, pois sabíamos qual o rumo seguir.
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À Avaliação do MEC, alcançou-se o conceito 5, finalizando a avaliação com nota 4,91 (arredondada para 5) – não tenho dúvidas de que fora uma das maiores notas do Brasil. Mas a nota não impressiona, o que realmente chama a atenção é conseguir esse desempenho em um curso de medicina no interior do Brasil, com as conhecidas carências que o sistema de saúde brasileiro possui, mas com uma rede assistencial que vem melhorando a partir das parcerias com o ensino.
Há críticas importantes sobre o processo e instrumento de avaliação para cursos de graduação, em especial para o curso de graduação em medicina. Não pretendo, aqui, discorrer sobre os méritos e deficiências desse processo avaliativo, o qual é obrigatório e deve ser cumprido. Faço notar que o empenho de se construir um curso de medicina possui uma trajetória clara, que qualquer médico-professor conhece.
Os processos de implementação de um curso de excelência são complexos, mas a origem é absolutamente simples. Trata-se de uma atividade de elevado nível técnico, contato humano diário e foco no melhor para o paciente e sua família. Para os alunos, essa declaração ainda é distante; para a maioria dos administradores de instituições de ensino, soa como uma conversa abstrata, sem foco. Portanto, uma instituição que almeje um curso de medicina de alto nível técnico, humano e científico, deve possuir um corpo de docente de qualidade e envolvido em todo o processo do ensino e da assistência.
Por fim, o gerenciamento desse corpo docente e das ferramentas disponíveis, o planejamento, a estratégia e a ordenação diretamente relacionados ao ensino só podem ser realizados por médicos com elevada capacitação na assistência médica e no ensino, o que demanda anos de formação, intensa dedicação e busca pela perfeição. Coordenadores ou diretores de cursos de medicina que forem deficientes na assistência médica, ainda que bons pedagogos, serão encarados como falsos mestres, que não merecem a deferência de professores ou alunos. Nesse meio, não há espaço para ser bom professor ou bom médico – só pode ser aceito quem tem a excelência em ambas as atividades.
Enfermeira especialista em Gestão de Rede de atenção à saúde, Terapia Intensiva e Urgência e Emergência, Educadora e Docente de Enfermagem
9 mQue analise genial Filipe Andrade M.D., Ph.D. !! Atuei em Instituições de Ensino pública e privada que mesclam o modelo pedagógico tradicional e os mais atuais e ainda sentimos a carência no preparo dos docentes em encarar de forma natural a avaliação dos futuros egressos como termômetro do nosso trabalho. !!