O Custo da Mobilidade Urbana na Pandemia
Setor de transporte precisa de auxílio emergencial para subsistência
A pandemia vem mudando drasticamente o cotidiano das cidades, principalmente no tocante à circulação e mobilidade das pessoas. As recomendações das instituições sanitárias orientam evitar o contato social e aglomerações, o que impacta diretamente o transporte público.
Com redução de aproximadamente 8o% de passageiros e sem perspectiva de retomada da demanda, os modos de alta capacidade enfrentam um cenário de dificuldade financeira inimaginável, colocando em risco o equilíbrio econômico de seus operadores e a continuidade de um serviço essencial.
O cenário demanda atuação governamental imediata, com criação de novas fontes de recursos para o sistema. O setor precisa de auxílio financeiro emergencial para a sua subsistência. Neste artigo, propomos a adoção de uma política pública de financiamento do transporte coletivo por meio de contribuições pequenas de toda a sociedade, nos moldes do que tem sido feito em diversos países do mundo — passa a ser uma prioridade para a mobilidade urbana.
Dados da Associação Nacional de Transportes Públicos (ANTP) mostram que quase 90% da receita destinada ao transporte público brasileiro vêm das tarifas, enquanto os demais 10% se referem majoritariamente a subsídios governamentais. É dever do governo equilibrar essa balança, oferecendo meios para que a conta seja dividida com toda a sociedade, buscando sempre a acessibilidade para os cidadãos e a viabilidade da operação. Alternativas de angariação de recursos já são aplicadas em grandes cidades. Na Carolina do Sul e no Oregon, nos EUA, e em Bogotá, na Colômbia, há taxações de combustíveis fósseis destinadas especificamente ao transporte coletivo. Em Iowa e Califórnia, nos EUA, e em Toronto e Montreal, no Canadá, uma taxa extra é cobrada no licenciamento de veículos (similar ao IPVA) e subsidia os serviços públicos de mobilidade. Barcelona e Nova York destinam parte dos impostos sobre propriedades para o financiamento do transporte público.
O déficit operacional e financeiro que será imposto aos operadores de transporte brasileiros durante e após a pandemia e a necessidade da manutenção da qualidade dos serviços devem acelerar a introdução de novas políticas de subsídio, a fim de garantir a subsistência dos sistemas de transporte público. Em abril, os transportes sobre trilhos do Rio de Janeiro (MetrôRio, SuperVia e VLT) apresentaram, conjuntamente, prejuízos de R$ 110 milhões. Com a continuidade das medidas de isolamento, essa perda tende a aumentar, possivelmente inviabilizando a sobrevivência do setor sem que haja outras fontes de receita.
Para efeito de comparação, caso fosse criado um imposto sobre a venda de gasolina de 2% do preço final ao consumidor (aproximadamente R$ R$ 0,08 por litro) e, também, 2% dos montantes arrecadados com o IPTU e o IPVA fossem destinados ao transporte público, seriam arrecadados, por ano, cerca de R$ 308 milhões. Esse recurso poderia ajudar o setor a sobreviver, no curto prazo, e significaria a possibilidade de maior investimento num segundo momento. Logo, é de vital importância para a sustentabilidade dos sistemas de transportes que haja auxílio por parte do poder público. Fontes de financiamento alternativo serviriam não somente para equalizar as contas no curto prazo, mas também como mecanismos ad aeternum de incentivo à mobilidade eficiente, integrada e acessível nas cidades brasileiras.
Artigo originalmente postado no dia 13/06/2020 no jornal O Globo.
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4 aFatores que poderiam minimizar os riscos de contaminação, e consequentemente os danos no setor: Redução da jornada de trabalho (8 para 6h), escalonamento dos horários para diferentes setores (ex: comércio funcionando das 10 às 16h, bancos funcionando das 11 às 17h. Diminuição dos impactos em horários de pico), controle de acesso em trens e metrô (limitando o número de pessoas nos vagões), instalação de anteparo de acrílico entre os assentos (uma vez que é difícil manter o distanciamento social em bancos com 2 lugares) e etc...
Belo artigo.
Consultor
4 aPrecisamos pensar e agir agora em prol da sustentabilidade do transporte público para que possamos contar com ele na retomada do crescimento do País no pós pandemia!! Parabéns Joubert!! Torcemos para tenha sucesso nesta empreitada e nossos governantes em todas as esferas estejam sensíveis e atuantes neste sentido.
Leasing Executive at Shore City Shopping Centre (a Precision Group of Companies) | MBA em Marketing
4 aGde Joubert Flores, enciclopédia da mobilidade urbana. Forte abraço
Engenheiro de Implantação de Sistemas ferroviários
4 aNa minha opinião, como alternativa, a solução também poderia ser buscada na esfera federal, visando um resultado único para todos os estados da União. Poderia ser conduzido pelas associacões do setor metroferroviário junto á ANTT, a exemplo do tratamento que vem sendo realizado para o setor eletrico, cujo aporte será de 12 Bi ( conta Covid 2019), a ser diluído nas tarifas de energia por longos anos ( conforme apagão 2001). Embora as empresas de transporte de passageiros em sua maioria, tenham sido estadualizadas, este momento de pandemia e adversidades, sugere um tratamento conjunto pelas autoridades estaduais e respectivas associações, no âmbito,da esfera federal, o que a princípio, pode trazer a vantagem de uma solução única, juridicamente mais simples, segura e isonômica. Parabéns, sucesso!!!