O desenvolvimento emocional das crianças

O desenvolvimento emocional das crianças

O bebê quando nasce, e até os 2-3 anos de idade, é um ser emocional: sente e percebe as emoções à sua volta, apreende o mundo através dos sentidos e reage aos estímulos emocionalmente. Seu córtex cerebral está em pleno desenvolvimento, principalmente o pré-frontal, responsável pela capacidade de autocrítica, controle inibitório e autorreflexão, dentre outras, cuja maturação só estará completa por volta dos 20 e poucos anos.

Sendo assim, para as crianças pequenas (2 a 5 anos) é difícil compreender o que estão sentindo quando não conseguem o que querem. A reação que geralmente costumam ter a uma frustração é a famosa birra, grande conhecida dos pais de crianças pequenas.

E então, como devo lidar com a birra do meu filho? É a pergunta mais comum feita pelos pais. Sem querer dar respostas prontas, gostaria de apresentar algumas reflexões.

1.  Ao fazer birra, seu filho NÃO está testando a sua paciência;

2.  Ao fazer birra, seu filho NÃO está desafiando sua autoridade;

3.  A birra é a reação da criança frente à frustração de querer muito alguma coisa e não a conseguir.

4.  Seu filho faz birra porque NÃO compreende o que está sentindo (a frustração).

Como você pode ajudar o seu filho a compreender seus sentimentos e ter uma reação (socialmente) mais aceitável?

1.  Converse com seu filho, tente identificar o motivo da frustração;

2.      Dê nome a esse sentimento, por exemplo: “Você realmente está muito triste em não poder ir ao parque hoje, não é mesmo?”

3.  Estabeleça limites de forma amorosa, usando palavras adequadas à idade da criança. Por exemplo: “Eu também fico triste quando quero ir à praia, mas chove muito e o sol não aparece. E você sabia que ir à praia na chuva é perigoso, principalmente quando tem raios?”

4.  Estimule o seu filho a conversar sobre todos os assuntos, inclusive quando o assunto for emoções e sentimentos. Ajude-o a reconhecer e dar nome ao que sente, assim ele sentirá confiança em buscar sua ajuda.

5.  Jamais bata em seu filho. Castigos físicos e punições desmedidas podem trazer desconfiança, medo, submissão e o que é pior, distanciar você do seu filho.

É urgente e necessária a compreensão de que desenvolvimento físico, emocional e cognitivo estão intimamente interligados e são interdependentes. Para Winnicott, pediatra e psicanalista inglês, o processo de constituição do sujeito está intimamente relacionado ao ambiente e às primeiras relações estabelecidas com o mesmo, lembrando que para o autor o primeiro ambiente do bebê é a mãe. As configurações da subjetividade são compreendidas então, como fruto de potentes encontros entre o bebê e o seu meio, desde as experiências sensoriais e afetivas, antes mesmo dos aspectos linguísticos da relação com o outro.[1]

Para o ser humano, constituir-se como sujeito depende da função pensamento, uma vez que somente a inscrição genética não garante o desenvolvimento do potencial intelectual. Assim, o ser humano dispõe de duas dimensões que fornecem elementos para sua constituição enquanto sujeito: inteligência e desejo. Enquanto a primeira possibilita a instauração de um sujeito epistêmico, que conhece e aprende através da experiência, possibilitando a construção do conhecimento, a segunda instaura o sujeito de cultura, que, perdendo seu objeto pulsional, dirige-se a criar laços sociais e assimilação de valores e comportamentos da cultura.[2]

Estudos científicos associam as práticas parentais de cuidados básicos (alimentação, higiene, afeto, estimulação cognitiva) na primeira infância - do nascimento aos 5 anos - aos diversos ajustamentos da criança: práticas parentais caracterizadas como sensíveis, responsivas, comprometidas, proativas e estruturadoras foram associadas a ajustamentos socioemocionais positivos. Inversamente, práticas caracterizadas como negligentes, rígidas, distantes, punitivas, invasivas e reativas foram associadas a vários tipos de desajustamentos.[3]

Se há uma recomendação que posso fazer sem restrições a todos os pais que desejam que seus filhos se desenvolvam integralmente (físico, emocional e cognitivamente) é que brinquem com seus filhos e permitam que estes brinquem livremente. É no brincar que a criança descobre o mundo, desenvolve e aprimora habilidades motoras, cognitivas e sócio afetivas, expressa sentimentos de alegria e prazer. Por outro lado, é também no brincar que a criança aprende a compreender e controlar medos e frustrações, ensaiando sua capacidade de pensamento.[4]

Criança que brinca espontaneamente é criança sadia.


[1] WINNICOTT, D.W. O brincar e a realidade; tradução de José Octávio de Aguiar Abreu. Rio de Janeiro: Imago Editora, 1975

[2] PARENTE, Sonia Maria Berbare Albuquerque. Pelos caminhos da ignorância e do conhecimento: fundamentação teórica da prática clínica dos problemas de aprendizagem. 3ª edição. São Paulo: Via Lettera, 2008

[3] Collins WA, Maccoby EE, Steinberg L, Hetherington EM, Bornstein MH. Contemporary research on parenting: The case for nature and nurture. American Psychologist 2000;55(2):218-232.

[4] Goto-Oyadomari, C. K. Aprendizagem e constituição do sujeito – um caso clínico de inibição intelectual, 2018





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