Emoções na Adolescência
People in the maze, finding a way out by Radachynskyi

Emoções na Adolescência

Hoje vamos falar de emoções, ou melhor, vamos falar das emoções na adolescência..., porque sabemos que a adolescência é a fase do desenvolvimento humano durante a qual passamos por um sem número de alterações fisiológicas significativas, e durante a qual as emoções estão, talvez mais, à flor da pele. 

Deixa-se para trás a infância, e não queremos mais ser tratados como crianças, muito embora não tenhamos ainda atingido a adultez. No nosso íntimo sabemos que ainda não conseguimos ser totalmente independentes, mas ainda assim gostamos que nos considerem como adultos, nas decisões que tomamos, e em tudo o que fazemos: sair à noite com os amigos sem horas marcadas para voltar a casa; não ir às aulas porque não gostamos do professor; não estudar porque não entendemos aquela matéria, nem percebemos para que serve “aquilo”; não sair da cama para tomar o pequeno-almoço com a família porque nos apetece dormir até mais tarde; não arrumar o quarto, porque já o arrumámos há dias..., comprar roupa porque não temos nada para vestir. Mas por outro lado, e muito embora às vezes nem o reconheçamos, queremos ser protegidos, amados, respeitados, escutados, compreendidos, sem grandes intrusões pela parte dos pais, que não percebem quase nada da nossa “VIDA”, muito embora também eles já tenham passado por algo semelhante, quando ainda não nos tinham como filhos, claro! Será que passaram?? Huuum...

A adolescência é uma fase de conquistas, sucessos pessoais e académicos, mas também pode ser uma fase de perdas, derrotas, frustrações, desentendimentos, fracassos. É ainda um período marcado pela descoberta, aventura, interesses vários, e outros tantos desinteresses. E por isso é tão necessário que os adultos sejam atentos, sem serem intrusivos, não se intrometam na vida dos filhos, sem deixar de estar disponíveis para tudo o que estes precisem, mesmo sem os próprios tomarem consciência disso, daí a existência de tantos conflitos pais-filhos.

Para os adolescentes os adultos têm a “mania que sabem tudo”, e por isso os conselhos que lhes dão, são entendidos como ordens, ou regras às quais só apetece desobedecer, ou quebrar. Depois também não percebem porque o pai e/ou a mãe são tão exigentes com “coisas miudinhas” e de menos importância, quando os seus pares “best friends forever” são as únicas pessoas que os entendem, porque também eles têm de lidar com pais mais ou menos exigentes, conservadores ou democráticos, assim como com professores aborrecidos e secantes. Ser adolescente dá imenso trabalho..., isso sabemos todos!!!

É uma fase da vida cheia de contradições, emoções, sentimentos intensos e muita vontade de experimentar coisas novas. Também por isso o suporte familiar é fundamental para moderar as convulsões e amenizar as tempestades. Se pararmos para pensar, afinal é também uma fase de desenvolvimento e aprendizagem para os pais, que são por vezes expostos às mais inverosímeis situações, e também eles têm de aprender a lidar com tanta novidade. Não direi que é uma fase difícil, mas sim um período de desafios constantes e de crescimento mútuo. E aqui, entram as emoções!

Emoção deriva da palavra em latim emovere, que significa "movimento para fora", e é esta a sua primeira função, ao permitir que o indivíduo estabeleça os seus primeiros contactos, transformando-se assim na primeira forma de comunicação com o exterior. É através da emoção que se iniciam as bases das relações interpessoais.

Procurámos na literatura uma definição que nos satisfaz, do neurocientista que tem levado parte da sua vida ao estudo das emoções. Para António Damásio (2003) as emoções são um meio natural de avaliar o ambiente que nos rodeia e de reagir ao mesmo de forma adaptativa. De forma simplista podemos dizer que Emoção = Adaptação, e esta singela equação carrega um sem número de variáveis, estímulos, respostas, matizes e sentidos. E Damásio vai mais longe, ao distinguir a diferença entre emoção e sentimento, o que nos permite perceber melhor como os nossos estados internos (sentimentos) e externos (emoções) se influenciam mutuamente, dando origem a este fantástico paradoxo: os sentimentos são gerados por emoções, e sentir emoções significa ter sentimentos, muito embora nem todos os sentimentos provenham de emoções.

Uma emoção desencadeia-se com o objectivo de preparar e adaptar o organismo para atingir os desejados níveis de bem-estar por um lado, e por outro ao experimentar-se a emoção, surge o sentimento como um “efeito” interno. Logo, a interacção humana tem um lugar de destaque quando relacionada com as emoções, porque estas estão subordinadas aos atos e respostas que advêm da relação que se estabelece com o outro, e por isso dizemos que as emoções são concebidas numa ligação entre o indivíduo e o meio, representando um contributo para o raciocínio e para a inteligência em geral, procurando ser adaptativas e funcionais. Por tudo isso, estamos à vontade para dizer que as emoções servem para nos ajudar a viver melhor. Será? Vamos ver.

Se já referimos que as emoções nos adolescentes surgem em turbilhão, como podem ser adaptativas e controladas? Se os nossos jovens, por vezes, não conseguem perceber o que se está a passar no seu íntimo, como podem controlar as suas emoções de forma a tomarem decisões ponderadas e bem aceites nas relações interpessoais?... pois é esta contradição que torna tudo complicado, e o que se pretende que seja uma fase de aprendizagem emocional, por vezes vira um profundo caos com consequências menos boas para os jovens e para quem os rodeia - a sua família, os seus pares, os seus professores ou outras figuras de autoridade.

O equilíbrio emocional é fundamental para se fazerem boas escolhas, dado que todas as decisões são escolhas, e uma tomada de decisão eficaz é sinónimo de uma pessoa segura. E como se consegue ser uma pessoa segura quando o ambiente é hostil e estranho? É necessário aprender a desvendar os segredos da inteligência emocional, acordar capacidades cerebrais eventualmente adormecidas ou não utilizadas, para então desenvolver habilidades e competências ao nível intrapessoal que influenciam as escolhas e consequentemente as tomadas de decisão, bem como as relações interpessoais. Por conseguinte, as emoções são determinantes para a qualidade de vida, ao ajudarem-nos a descobrirmos-nos e a compreendermos-nos a nós próprios e aos outros, adquirindo um papel muito importante nos nossos relacionamentos.

Mas não podemos falar de inteligência emocional sem referir Daniel Goleman, por ser considerado por muitos, como o pai deste construto. Goleman define emoção como sendo um sentimento e os raciocínios daí derivados, num conjunto de estados psicológicos e biológicos com propensão para a ação. Define ainda a inteligência emocional como a capacidade de identificar os nossos próprios sentimentos e os dos outros, de nos motivarmos e de gerirmos bem as emoções dentro de nós e nos nossos relacionamentos, e depois de vários anos de investigação reduziu o modelo de inteligência emocional a quatro domínios: autoconsciência, autodomínio, consciência social e gestão das relações.

A inteligência emocional é como uma salada de frutas, que quanto mais frutos tiver, mais rica fica: o controlo emocional, para aprender a controlar os próprios sentimentos e gerir o humor; a autoestima, porque é fundamental ter bons sentimentos a respeito de si próprio, independentemente das situações exteriores; a automotivação, para se motivar a si próprio na prossecução das metas a atingir, e criar energia interna; a gestão de objetivos fixando metas realistas em todas as esferas da vida; o autodomínio para gerir o stress, criando as mudanças necessárias e adaptativas, controlar a impulsividade aceitando adiar as gratificações, e tornando-se capaz de se relacionar com os outros, de forma empática; manter o equilíbrio entre o trabalho/escola e a casa, as obrigações e o prazer; comunicar eficazmente com os outros; a atitude positiva e realista mesmo nos momentos mais difíceis.

Mas cuidado, porque as emoções também se encontram inerentemente relacionadas com o conflito. Ao activarmos as emoções com o conflito este, por sua vez, estimula-as, o que faz com que as próprias emoções possam dificultar a gestão positiva do conflito interferindo na nossa atenção, e tornando-nos vulneráveis à manipulação, dificultando o pensamento objetivo e preciso. Por isso é tão importante ter a capacidade de lidar positivamente com as emoções. Saber gerir as emoções remete-nos para o domínio das competências emocionais, que ao serem trabalhadas e desenvolvidas permitirão, em todo o contexto um ambiente mais saudável e rico em aprendizagens. Damásio (1995) clarifica e Goleman (1999) defende que as pessoas emocionalmente competentes apresentam, nos contextos de vida prática, uma relação consigo e com os outros francamente mais positiva do que aqueles que apresentam sinais de iliteracia emocional, por isso é urgente reciclar conflitos, desconstruir mágoas e amaciar perdas, para ser emocionalmente saudável. 

Carla Marina Santos

Founder Capacitare & Social Shaker & Association CSI | Master Life Coach (certified by ECA) | Specialist in migration policies, social economy and Behavioral Relationships

5 a

Muito bom Isabel Cabacinho

Mónica Menezes

Mãe | Mentora e Formadora de Escrita Criativa + Storytelling (certificada) | A minha missão é deixar quem me procura completamente apaixonado(a) por palavras | Escrevo histórias

5 a

Já guardado para ler com atenção e perceber melhor o teen lá de casa.  Obrigada pro esta partilha, Isabel. Muito feliz por te ver em ação.

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