O Dia da Entrevista

No processo de recrutamento, o momento da entrevista é muitas vezes chamado de o “DIA D” e não é apenas o candidato que se prepara e constrói expectativas. O recrutador/entrevistador também (refiro-me ao ser humano e não género 😉).

Uma entrevista é uma espécie de teste profissional, no qual uma pessoa, o entrevistador tem poucos minutos para concluir se a outra pessoa, o entrevistado é, de entre os diversos candidatos, a que melhor se poderá adaptar a um determinado posto de trabalho.

O entrevistador terá uma ideia muito clara do perfil desejado, e não só as competências técnicas. É um papel exigente porque o entrevistador tem que ter ao mesmo tempo uma ligação emocional, que facilite a abertura e a comunicação com o entrevistado e outra de observador racional, que detecte, registe e interprete as suas diferentes reações.

Ao entrevistado requer uma boa preparação, concentração, foco no essencial e a inteligência (intelectual e emocional) e subtileza necessárias para conduzir a entrevista para o seu objectivo (garantir uma oferta).

Não há receitas de bolos para que um entrevistado faça uma boa entrevista, mas estar consciente de alguns aspectos pode ajudar muito. Aqui ficam algumas sugestões sobre a arte de ser entrevistado.

1 – Prepare-se.

O sucesso de uma entrevista começa na sua preparação. O investimento (tempo e energia) feito na recolha do máximo de informação sobre o perfil da função (reporte, posição hierárquica, etc.), sobre a empresa (negócio, estrutura, cultura, pessoas chave, etc.) e, se possível, sobre quem o irá entrevistar (formação, experiência e pontos em comum, etc.) – informação que pode ser facilmente encontrada no linkedin e que será muito útil para adaptar o seu discurso aos requisitos da empresa, podendo marcar a diferença em relação a outros entrevistados.

Lembre-se que as duas principais componentes na decisão de uma contratação são as competências técnicas (o que é capaz de fazer) e a adequação cultural (personalidade adequada aos valores da empresa). Analise a descrição da vaga e vá ao site da mesma fazer uma pesquisa na secção “Sobre nós”. O objectivo é conhecer as características e valores em que a mesma assenta para poder adequá-las ao seu perfil.

2 – Ensaie o seu “elevator pitch”.

Uma entrevista é um jogo de sedução. É por isso que a estratégia base de uma boa entrevista deverá ser levá-la para as áreas que nos permitam demonstrar as nossas vantagens em áreas que dominamos e que possam interessar à organização.

Uma forma eficaz de o fazer é ter o seu “elevator pitch” bem definido e bem ensaiado. O “pitch” é um discurso sintético (cerca de 30s), com comunicação clara e aqui incluo duas vertentes: verbal e não verbal. Lembre-se que a comunicação verbal tem muito peso nestes curtos segundos. Refiro-me por exemplo ao tom de tom, à postura corporal e à direcção do olhar. Seja assertivo e esteja preparado para transmitir ao entrevistador quem você é enquanto profissional e qual o valor que poderá acrescentar para a organização. 

 3 – Respeito o tempo do seu entrevistador e chegue com tempo.  

Já sabemos que o trânsito em Luanda pode ser muito imprevisível então saia mais cedo. Chegar com tempo ao local da entrevista tem várias vantagens.

(i) Evita os riscos de um eventual atraso.

(ii) Permite observar o ambiente, ver os produtos expostos e recolher informações úteis nas revistas internas das empresas que normalmente se encontram na recepcção.

(iii) Ajuda a preparar-se mentalmente, com calma, para a entrevista. Chegar atrasado, para além da tensão/stress que provoca em si, é um sinal avaliado negativamente pelas empresas e que implica começar a entrevista já a recuperar desse mau sinal.

4 – Nada termina enquanto não acaba.

Uma entrevista começa desde o momento em que cruza a porta da empresa e dura até o acompanharem à saída. Tenha especial cuidado com a sua postura e actividade enquanto espera. A maneira como interage com outras pessoas, o que faz durante esse tempo, os telefonemas que recebe, a forma como se despede, tudo isso está a ser observado. 

5 – Tudo conta.

Como disse, para um entrevistador o tempo é curto, a selecção tem que ser feita e por isso tudo conta. A forma de vestir, os adereços (gravata, brincos, maquiagem), a forma de cumprimentar, a expressão corporal, o sorriso, o tipo de linguagem, tudo contribui ou prejudica o seu objectivo. 

Apresentar-se (forma de vestir e não só) muito formal para uma vaga que exige descontracção ou demasiadamente informal para uma função que exige alguma formalidade, pode ser o princípio de uma experiência com um mau resultado. Na entrevista pode recuperar o mau início, mas exigirá um esforço adicional.

6 – Esteja disponível.

As organizações têm objectivos cada vez mais exigentes e que sabem que só podem ser atingidos através de pessoas. Pretendem, por isso, pessoas que mostrem uma disponibilidade tão ampla quanto possível para os atingir. Um candidato que mostre alguma falta de disponibilidade ainda durante a entrevista, leva-as a pensar “se agora é assim, o que será quando já estiver admitido”.

Ex: Se não pode trabalhar por turnos ou aos fins de semana por questões familiares ou religiosas, e a vaga exige essa disponibilidade, então não se candidate porque essa vaga não é para si. 

7 – Atenção às “soft skills”

Cada vez mais os empregadores procuram competências soft nos candidatos.  As competências hard estão retratadas no seu CV. Quando um entrevistador lhe faz perguntas sobre uma determinada experiência no passado, mais do que saber que tipo de competências hard utilizou, ele procurará avaliar as suas competências soft.

Ex: Como se relacionou com o cliente, como resolveu problemas com outros departamentos, como geriu ou trabalhou em equipa, como reagiu aos obstáculos, etc. 

8 – Tem alguma pergunta?

O entrevistador termina a entrevista perguntando-lhe se tem alguma questão? Se tiver dúvidas, faça perguntas. Aproveite este momento para fazer perguntas sobre a evolução da função, reporte, etc. Mostre que está realmente interessado.

Se uma entrevista pode ser a chave para uma oportunidade profissional a que aspira, então invista tempo, energia e emoção na sua preparação e verá que tem retorno. Neste campo, como em muitos outros da nossa vida, não há milagres, há investimento.

Neuza Ananias