O Dia do Trabalho e o Fim do Mundo
Primeiro dia de Maio, Dia do Trabalhador. Levantei da cama. Já era quase meio-dia. "Putz", disse a mim mesmo. "Acho que dormi demais", continuei. Percebi que minha esposa e filha também acordaram tarde, pois o café havia acabado de sair. Peguei uma xícara razoavelmente cheia, e fui para o computador ler as notícias. Antigamente líamos o jornal, mas estamos em 2020, convenhamos. Em tempos de pandemia, as principais notícias são sobre a crise imposta às nossas vidas. Vidas que se vão, em números exageradamente alarmantes, crise econômica, política... de ansiedade! Soltei um outro "putz". Minhas mãos estavam formigando. "Vou tomar um banho", pensei, com intuito de me limpar das notícias negativas. E logo percebi que hoje não era meu dia. Literalmente. Não era o meu e de mais de 12,9 milhões de desempregados. Que merda!
Estamos vivendo em um mundo distópico que nunca imaginei viver, quando resolvi pedir demissão, em agosto de 2019, do meu último emprego. Estava descontente, pois investi muito em qualificação, e queria aplicar meus novos conhecimentos e habilidades em meu cotidiano. Mas logo percebi que a regra do jogo era outra. Me sentia subutilizado, pouco valorizado. Não por culpa de meus líderes, que reconheciam meus esforços, mas a estrutura organizacional da empresa não permitia que eu avançasse muito. Nem pouco. Senti que meu ciclo ali dentro havia se encerrado. Estava na hora de buscar novos caminhos para meu desenvolvimento profissional. Um caminho que foi se afunilando com o tempo. Primeiro, precisei me conhecer melhor como profissional. Uma pena ter feito isso apenas quando estava livre no mercado. Um erro comum que a maioria de nós comete, pois ficamos em uma zona de conforto, e não percebemos como somos ingênuos, às vezes. Março de 2020. A pandemia começa a assustar o mundo. E os caminhos que haviam se afunilado, se tornaram ainda mais estreitos e limitados. Isolamento social, quarentena, escolas fechadas, máscaras. Parece o fim dos tempos.
Durante minha jornada, em busca de um lugar ao sol novamente, percebi que há muitos bons profissionais no mercado, assim como eu. E isso me assustou. Foram centenas de currículos enviados, talvez uma dezena de entrevistas, e uns três ou quatro processos que avançaram para uma terceira etapa, geralmente quando se fala com os gerentes ou gestores donos da vaga em questão. Mas sem sucesso. Com tantos profissionais disponíveis, é quase que ganhar na loteria ser contratado. Com todos os MBAs e certificações, vi que as exigências passaram a ser cada vez mais específicas nas vagas nas quais me candidatava. Principalmente a vivência naquilo que se exigia. Pouco importa se você sabe ou não fazer. Tem que já ter feito. Mas isso é só uma percepção, pois muitos RHs não dão feedback, ou pelo número gigantesco de candidatura, ou por pura incompetência e falta de humanidade do profissional. E logo cheguei à conclusão: ninguém é solidário. Estamos sozinhos nesta jornada.
Em meu tempo livre, aproveitei para me atualizar. Leitura de artigos sobre tecnologia, mercado de trabalho, novas tendências, passaram a fazer parte do meu cotidiano, além da busca de novas oportunidades. Fiz cursos de temas no qual eu vi que eram importantes, aprendi novas competências, revi as que já havia adquirido, pois é sempre bom relembrar algumas coisas. E sempre deixo isso bem claro nas entrevistas nas quais participo. Se manter ativo é sempre importante. Mas as respostas por e-mail sempre são as mesmas. Quando há.
Agora, as coisas estão bem mais difíceis. Nem auxílio do governo eu tenho direito, já que a análise do meu cadastro informou que tive rendimento acima de R$ 28.500,00 em 2018. O meu e de outros milhões de brasileiros que acharam que tinham direito. Não quero entrar no mérito sobre quem tem ou não direito, mas é fato que esta ajuda não chega a todos que precisam. Antes de haver julgamentos (e sei que irá), este meu desabafo não é com intuito de me vitimizar. Quero mostrar que temos que por todas os prós e contras na hora de escolher uma transição de carreira. Não devemos descartar, nenhuma, mas nenhuma adversidade na qual poderemos enfrentar em um período difícil, como este que estamos enfrentando. Nem mesmo o apocalipse. Neste dia tão emblemático, quem estiver em situação como a minha, ou por ter sido demitido, ou por se demitir, este dia não é nosso. Mas entenda que nada é permanente, e tenha a esperança de que, em 1° de maio de 2021, estaremos juntos comemorando, de verdade, nosso trabalho, e o fim desse apocalipse. Não desista. Força, foco e fé!!!
Chief Executive Officer
4 aCara, muito bom! Parabéns! Pareceu até que estava falando comigo mesmo. rsrs Realmente estes são tempos difíceis, para mim, para você e para milhares... Mas tenhamos fé, conseguiremos sair dessa! Eu assim como você estou no mercado, na estante esperando ser escolhido, nesses dias de incerteza a ansiedade e a "bad" são grandes, me sinto assim também em 99% do tempo. Na minha opinião isso não é se vitimizar, é ser humano e entender que não somos robôs. Um grande abraço! Ótimo texto, e que possamos ser oa próximos escolhidos na estante desse grande "supermercado de profissionais". Novamente, um grande abraço!
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4 aPedro estou no processo de transição de carreira há um tempo e a questão do autoconhecimento é fundamental para os próximos passos, eu tive que errar muito e aprender com os erros. Mas o que me traz força é ver relatos de pessoas como eu que conseguiram, o importante é não desistir. Ontem li que temos ser criativos nesse processo de recolocação profissional, tente e não pare de tentar! Força!
Servidora Pública no Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia Goiano
4 aPedro, o que disse reflete a situação de milhões de desempregados. Gostaria muito que muitos desses milhões lessem esse seu desabafo, pq não é só isso, saiba que deu uma aula de como se adequar ao mercado de trabalho hj. Saiba que brevemente poderá contribuir com seu talento e capacidade para uma empresa que tb mereça um profissional como vc. Quanto ao apocalipse, cuide-se. Se o que dizem as autoridades em saúde se cumprir, já estamos com meio caminho andado. Em frente. Se souber de algo por aqui, te falo. Ah, experimente fazer uma prece, sempre que se sentir melancólico. Hoje é dia de São José, o patrono dos trabalhadores, peça a intercessão dele para conseguir logo seu trabalho. E, Deus te abençoe.