O dilema da recuperação em U ou V.
Existe um consenso entre os participantes do mercado da necessidade da extensão do auxílio emergencial – dada a dificuldade na retomada da atividade por conta da extensão da pandemia. Dúvidas sobre a velocidade da retomada, o tempo de vacinação (de pelo menos 70% da população), a manutenção do auxílio (e seu impacto no cenário fiscal) tem mantido o mercado local descolado do cenário externo.
Uma análise das expectativas da semana divulgadas pelo relatório Focus https://www.bcb.gov.br/content/focus/focus/R20210205.pdf sinaliza que o BC estima um IPCA de 3,66% para 2021, um PIB de 3,47% e uma produção industrial ao redor de 5,00% e um USD a R$ 5,00 (para o mesmo período). Em um primeiro momento podem parecer expectativas interessantes (um pouco inflacionadas) mas na verdade é apenas um movimento de recuperação baseado em uma base de comparação extremamente depreciada.
Por conta do auxílio emergencial, socorro aos estados e demais provisões de contenção a pandemia o resultado primário do Governo Central acumulado em 12 meses (até novembro de 2020) é deficitário em R$ 732,9 bi, valor equivalente a 9,6% do Produto Interno Bruto (PIB).
A grande discussão pela manutenção ou não do auxílio é inócua porque a mesma tem de acontecer, portanto nosso problema com o déficit vai aumentar. Não há saída.
O governo atual recebeu uma herança péssima do governo anterior – um pais pobre e com serias dificuldades econômicas, um estado precisando de financiamento e excrecências tributarias que só contribuem para o estimulo a sonegação – com consequente queda de arrecadação para o Governo Central. Some-se a isto um orçamento engessado por um texto constitucional - e temos a tempestade perfeita ou seja, necessidade de financiamento crescente, arrecadação em queda o que implica em aumento de carga tributária.
Ainda que a atividade (em alguns segmentos) esteja voltando ao ritmo anterior a pandemia, fica latente a falta de uma política pública que estimule a produção e o emprego. Não precisamos somente da volta as condições normais – precisamos de mais e isso acontece muito antes do advento da pandemia.
O Governo atual não tem muita saída, o momento demanda atitude.
Neste cenário, o governo precisa tomar medidas emergenciais que estimulem a produção e o emprego. Estamos em uma roda-viva discutindo aumento de impostos em um pais que já tem uma carga média de 37% do PIB em tributos. Isso beira o absurdo.
No momento atual, o melhor caminho seria aprofundar déficits momentaneamente, não aumentar tributos e criar programas que estimulassem o renascimento da atividade produtiva estimulando as cadeias de indústria, comercio e principalmente serviços e tecnologia. O reestabelecimento da atividade e a tão propagada recuperação em V (defendida pelo ministro da economia) só vai acontecer com ações concretas e com reflexos a médio prazo. De novo continuamos atrasados.
A grande incógnita, é que até agora o governo atribuiu sua letargia a falta de maioria na câmara, mas com a eleição da Arthur Lira este problema acabou. Se a falta de ação prevalecer, nossa recuperação será descrita como um dos ciclos de retomada mais longos da história e vamos continuar com uma atividade econômica sonolenta, arrastada.
Como já mencionei em comentários anteriores – bem antes da pandemia- crescer 1% a.a. não é voar.