O Domínio da Mentira (a propósito do 1o. de Abril)

Uma vez estive em importante reunião com alguns profissionais que apresentavam proposta para estabelecer a "narrativa" de determinado(a) candidato(a). Na prática, o que se propunha era um conto real, uma historinha pela qual a pessoa era posicionada no cenário eleitoral a partir de algumas, diríamos, adaptações necessárias. Uma mentira contada mil vezes se torna verdade, dizia o ministro nazista da propaganda, Joseph Goebbels.

Nos cursos de ética em Marketing que ministro analisamos as narrativas de alguns produtos que já se encrencaram com denúncias de propaganda enganosa. Exemplo é determinada marca de sucos que dizia que suas laranjas - todas elas - vinham da plantação de certo "senhor Carlos", um tradicional, pacato e honesto fazendeiro. Depois de alguns processos que questionavam a narrativa estampada em embalagens, arrumaram uma nota fiscal de compra da produção de um sujeito chamado Carlos para demonstrar que a narrativa não era de todo falsa. O que não é de todo falso, não é de todo verdade, certo?

Em laboratórios do marketing e nas oficinais da produção de memes, neste prezado instante, tem gente fazendo isso: exercitando a liberdade poética que distorce a realidade, mas que acentua traços que as pessoas valorizam ou se encantam; mergulhando inimigos no lodo das histórias inventadas ou mal contadas; rearranjando ângulos para contar a história de modo que atenda seus interesses e propósitos

Esse é o mundo a mentira que se propaga na velocidade das redes sociais, dos grupos de whatsapp, em anúncios, brochuras e sites. O domínio do faz-de-conta.

E por que esse mundo existe? Porque há pessoas que nele acreditem, seria uma boa resposta.

Primeiramente, é preciso reconhecer que não é privilégio dos tempos atuais veicular mentiras ou distorcer fatos. A história é uma colcha de retalhos contadas por narrativas definidas pós-fato. Já conheci, pessoalmente, imensos crápulas que se tornaram cândidos beneméritos depois da morte, em biografias imaculadas. Percebo diariamente, à direita e à esquerda, narrativas feitas sob medida para consolar, aglutinar e fortalecer militância. Considero que essas coisas são tão falsas, mas tão falasas, que não pode ser possível admitir que as pessoas envolvidas na sua leitura e replicação as aceitem verdadeiramente. Precisaria exisitir muita burrice para que as coisas fossem aceitas sem dúvidas, sem questionamentos. Entretanto, sim, há mais que burrice suficiente para que esses mecanismos prosperem, se alastrem e se consolidem: há conveniência. A mentira conveniente é o adubo do poder, me parece.

Durma-se com tantas narrativas.

#1deabril #narrativas #storytelling #etica #marketing

Pedro Pimentel

Product Management • Transformação Digital • UX • Service Design • Research • IA

3 a

Obrigado pela excelente e necessária reflexão, professor

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