O ecossistema de empreendedorismo e inovação de Campinas
Por Juliana Ewers, da Inova Unicamp para o blog do Movimento 100 Open Startups
Assegurar vantagem competitiva às empresas, em especial, as startups, é um dos pilares sob os quais se firma um ecossistema empreendedor de excelência. Campinas está entre as cidades brasileiras que desponta nesse sentido. Alinhando não somente ensino de ponta, incentivos fiscais e parâmetros legais, o município concentra também diversos players e iniciativas que saltam aos olhos de empreendedores de todo País e fazem, inclusive, alguns deles deixarem suas cidades de origem para se aventurarem no interior paulista.
Essa foi a decisão de Fabrício Bloisi, CEO da Movile – empresa que atua no desenvolvimento de plataformas de comércio e conteúdo móvel –, quando resolveu deixar Salvador e se mudar para Campinas para estudar na Unicamp (Universidade Estadual de Campinas). Em 1998, ele abria sua empresa na cidade.
O mesmo fez Iron Daher, CEO da Griaule – empresa que trabalha com tecnologia biométrica –, ao sair de Goiânia em 2003 para ficar incubado na Incamp (Incubadora de Empresas de Base Tecnológica da Unicamp).
O curioso é que mesmo com o passar dos anos, ambos mantêm a sede de suas empresas em Campinas, ainda que seus mercados de atuação hoje em dia extrapolem as fronteiras brasileiras. A Movile, por exemplo, tem 12 escritórios espalhados pelo mundo, um deles no Vale do Silício.
Assim como eles, são muitos os exemplos de empreendedores que se interessam por Campinas. Berço da ciência, tecnologia e inovação, a cidade carrega em sua história alguns marcos nessa área e que hoje são refletidos em vantagens competitivas para quem aqui se instala, fortalecendo ainda mais esse ecossistema.
Foi em 1887, quando Dom Pedro II fundou o IAC (Instituto Agronômico de Campinas), que essa vocação começou a tomar forma. Promotor de significativas inovações na agricultura, o Instituto alcançou em 2015 o recorde em lançamento de cultivares: foram 15 só no primeiro semestre. Ao todo, em 128 anos de história, o IAC já lançou 1.034 cultivares, de 99 espécies.
No ano de 1966, a Unicamp (Universidade Estadual de Campinas) começa a fazer parte dessa história. Criada a partir do Projeto Zeferino, que vislumbrava uma universidade bastante alinhada às demandas do setor produtivo, a Unicamp nunca se afastou dessa cultura ao longo do tempo, o que permitiu o desenvolvimento econômico e industrial da região.
A Unicamp é responsável hoje por 15% de toda a pesquisa acadêmica do Brasil e é uma das universidades que lideram, em número de patentes, o ranking do INPI (Instituto Nacional da Propriedade Industrial). Atenta às demandas das empresas, a universidade mantém relacionamento direto com as mesmas a partir de convênios de P&D (Pesquisa e Desenvolvimento) e contratos de licenciamento, além de consultoria e serviços. Só em 2014, foram assinados oito convênios de P&D e onze contratos de licenciamento, de acordo com a Agência de Inovação Inova Unicamp.
No que tange empreendedorismo, a Unicamp tem registrado 286 empresas-filhas ativas no mercado, que são responsáveis por empregar 19,2 mil pessoas. E o faturamento anual somado já ultrapassa R$ 3 bilhões. Mais uma prova de como a região é atrativa para os empreendedores, o Estado de São Paulo lidera disparado o ranking quando se trata de localização: 93,6% de todas as empresas-filhas têm sede aqui. E a cidade que mais sente os reflexos econômicos dessa pujança é Campinas, pois 67,5% delas estão no município.
Colaboração entre os players é outro ponto importante e que Campinas está à frente. Dentro da própria Unicamp, existe o grupo Unicamp Ventures, uma rede de relacionamento e colaboração entre empreendedores ligados à universidade – alunos, ex-alunos, professores, ex-professores, funcionários, incubados e graduados da Incamp.
A ACS (Associação Campinas Startups) também é outro exemplo de interação muito produtivo. A Associação é uma entidade sem fins lucrativos, que iniciou suas atividades em 2010, cujo grande objetivo é elevar o grau de maturidade das startups que possuam algum vínculo com a Região Metropolitana de Campinas. Hoje, são 53 empresas associadas, com faturamento que ultrapassa R$ 20 milhões.
Outras instituições que colaboram fortemente para esse ecossistema de inovação são os parques científicos e tecnológicos. Existem cinco parques hoje na cidade. São eles: o CPqD, criado em 1976; o Centro da Tecnologia da Informação (CTI) Renato Archer, de 1982; a Companhia de Desenvolvimento do Polo de Alta Tecnologia de Campinas (Ciatec), de 1991; o Technopark, de 1997; e o Parque Científico e Tecnológico da Unicamp, de 2008.
Está em fase de implementação também o Agropolo Campinas-Brasil, que será fundamentado no conceito da inovação colaborativa, com uma nova estratégia para promover pesquisa, desenvolvimento e inovações tecnológicas de produtos e serviços, para o setor agroindustrial.
Com tantas iniciativas, o poder público ficou encarregado de também fazer sua parte e cooperar. Em dezembro de 2004, foi instituída na Câmara de Vereadores de Campinas a Comissão Parlamentar Permanente de Ciência, Tecnologia e Inovação, que visa, de acordo com o Regimento Interno da Casa de Leis, “promover no âmbito municipal iniciativas em defesa do desenvolvimento científico e tecnológico do Município; acompanhar as discussões, em âmbito estadual, nacional e internacional, na área da ciência e tecnologia, que possam contribuir para este setor em Campinas”. Além disso, emite parecer em projetos pertinentes à questão da ciência e tecnologia.
Em 2013, foi criada a Aceleradora Campinas, a primeira aceleradora municipal do país. A ação é fruto de uma parceria entre a Prefeitura Municipal de Campinas e o Núcleo Softex Campinas.
Particularmente, o Núcleo Softex Campinas realiza ações de fomento ao desenvolvimento sustentado das empresas de TIC nas áreas de qualidade, exportação, capacitação e formação de capital humano, busca de recursos financeiros e incubação de empresas nascentes.
Nesse sentido, há também a Incamp (Incubadora de Empresas de Base Tecnológica da Unicamp), como citado anteriormente, e a Baita Aceleradora – essa última é uma iniciativa privada.
Oferecendo no município uma maior vantagem competitiva para essas empresas, em novembro de 2014, o Executivo Municipal sancionou a lei 14.920, que dispõe sobre a concessão de incentivos fiscais no município de Campinas às empresas enquadradas como startups. O benefício prevê isenção total do IPTU (Imposto sobre Propriedade Predial e Territorial Urbana) até o limite da área construída de 120 m² ou do valor anual do imposto equivalente a mil UFICs – o valor da Unidade Fiscal de Campinas está em R$ 2,79. A legislação prevê ainda redução da alíquota do ISSQN (Imposto Sobre Serviços de Qualquer Natureza) para 2%, sobre a receita tributável de prestação de serviços no município de Campinas.
Segundo a Secretaria Municipal de Desenvolvimento Econômico, Social e Turismo, da Prefeitura de Campinas, chega a 1.800 o número de beneficiados pela Legislação.
Já nesse ano, Campinas deu mais um importante passo para consolidar seu ecossistema. A Prefeitura lançou o Planejamento Estratégico de Ciência, Tecnologia e Inovação para os próximos 10 anos – de 2015 a 2025.
De acordo com o Executivo, “objetivo do Planejamento é que a cidade gere conhecimento, empreendedorismo, formulação e implementação de políticas públicas, contribuindo para o desenvolvimento socioeconômico e ambiental e para a qualidade de vida de seus cidadãos”.
São 12 metas principais que constam no planejamento: equiparação dos níveis de qualidade de ensino aos de países desenvolvidos; equiparação do IDH (Índice de Desenvolvimento Humano) ao de cidades de países desenvolvidos; internet para todos os cidadãos – de acordo com a Prefeitura de Campinas, hoje 60% das residências da cidade têm equipamentos conectados à web –; tecnologia para cidadãos de todas as classes sociais e, por meio dela, os munícipes poderão participar das decisões governamentais; a tecnologia será amplamente empregada em serviços públicos, especialmente na saúde e na segurança; criação de um Observatório Municipal de Conhecimento e Inovação e de um Museu de Ciências da cidade.
A Prefeitura Municipal ainda prevê a criação de políticas para a implantação – segundo eles, em larga escala – de alternativas de energia no município.
No ano de 2025, quando se encerra o ciclo desse planejamento, pretende-se ter uma escola técnica municipal com ensinos técnico e tecnológico para atender à demanda por mão de obra. Além disso, estuda-se a criação de uma agência municipal de desenvolvimento para aproximar a administração direta com as empresas, por meio de ações de desburocratização, melhoria de processos, extensão do pacote de incentivos fiscais para ITBI (Imposto sobre Transmissão de Bens Imóveis) e taxas para empresas intensivas em conhecimento. Criação de um pacote de incentivos fiscais voltado para a adoção de tecnologias limpas de tratamento de água e eficiência energética, e criação de um Fundo de Inovação para financiamento de projetos de Ciência, Tecnologia e Inovação.
São iniciativas assim, capazes de mudar a dimensão dos negócios locais e de construir um ambiente de colaboração, que fazem ressaltar o protagonismo da cidade de Campinas em empreendedorismo e inovação.
Crédito da foto: Divulgação_Prefeitura Municipal de Campinas
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8 abelíssimo artigo Juliana! É um tema apaixonante mesmo
CEO THE CORPORATE GROUP CONSULTING E ASSOCIADOS..
9 aPARABENS PELA BRILHANTE MATÉRIA DRA.