O efeito "prefs" não elegeu ninguém (ou quase)
EXPLICAÇÃO NECESSÁRIA: Antes do texto em si, vou deixar aqui uma atualização explicativa: Não vou falar sobre conjuntura política nesse texto, porque nem os próprios cientistas políticos sabem o que está acontecendo no Brasil e no Mundo atualmente. É tudo achismo! Existe sim uma escalada conservadora, mas isso é só uma das explicações que temos. Eu já trabalhei em seis campanhas políticas, até em campanha presidencial, então eu sei que a conjuntura explica muita coisa. Estou apenas analisando um dos fatores. Outra coisa, não estou aqui questionando o sucesso da Prefeitura de Curitiba ou outras Prefs nas redes sociais, porque isso é INQUESTIONÁVEL! São cases de sucesso e as pessoas envolvidas são geniais (tirando aqueles que só copiam a fórmula e não adaptam às suas realidades). Dito isto, vamos ao texto:
Passados quase dois meses das eleições municipais trago essa análise sobre o efeito "prefs", também conhecido como usar o humor e a zuera never ends em posts de serviços públicos e, assim, conquistar destaque nas redes sociais.
Antes de mais nada, queria deixar claro que não farei uma análise de conjuntura política, até porque eu não sou cientista político (nem analista de facebook rs) e, seria impossível afirmar qualquer coisa relacionado a isso no turbilhão de emoções que vivemos no país hoje.
Meu conhecimento é basicamente empírico e de acompanhamento das redes dos candidatos que tinham, de longe ou de perto, uma ligação com o efeito "Prefs". Para explicar esse efeito, temos que voltar nesse meu texto aqui do ano passado: "A PREFStização dos orgãos públicos e a conta cobrada em 2016", onde eu esboçava preocupação em como as urnas iam reagir ao efeito PREFS, endeusado por 6 em cada 10 pessoas na época, no tocante a comunicação pública.
Para título de análise, vamos falar das 6 cidades presentes no Banner que abre o texto: Curitiba, Belém, Belo Horizonte, Rio de Janeiro, Recife e São Paulo. Todas, em menor ou maior grau, usaram de conteúdos bem humorados em suas redes sociais, respostas diretas e que confrontavam haters ou mesmo posts progressistas e que focavam em uma determinada camada da população, esperando assim o alto engajamento desse público ("Casamento Vermelho"; Questões LGBT etc etc). Ou seja, esperavam que uma determinada bolha de usuários os notasse, compartilhasse esse post e assim os relatórios de engajamento sempre estariam altos.
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Das seis cidades, cinco tinham os mandatários em campanha pela reeleição e uma delas, Belo Horizonte, o prefeito estava apoiando seriamente um outro candidato. Vamos pensar ou fazer o exercício que uma comunicação de sucesso acaba por respaldar de forma positiva no mandatário e, a partir disso, ele já sai na frente dos outros candidatos, certo? Não neste caso. Das seis campanhas, só duas (Belém e Recife) conseguiram a reeleição, sendo Curitiba, a cidade que "iniciou essa onda", a que chama mais atenção, pois o atual prefeito caiu logo no primeiro turno ficando em terceiro lugar.
Sobre isso, falei com alguns funcionários e ex-funcionários da Equipe de Social Media da Prefeitura de Curitiba de forma privada e todos foram taxativos em comentar o seguinte: "Apesar de termos ideias boas, faltava uma integração da comunicação de fato. Não adianta sermos destaque nas redes sociais, se a assessoria de imprensa não era legal ou se o marketing da prefeitura era praticamente inexistente. Fora isso, a imagem do prefeito não necessariamente acompanhava a imagem projetada pela "Prefs"". Note, não estou aqui falando que o intuito da comunicação de um orgão público é projetar seu dirigente para que ele logre êxito nas suas aspirações políticas (até porque isso é crime), mas é de se estranhar que tal comunicação de sucesso não respalde a campanha, ou que seu teto seja tão "baixo".
Estamos no final de 2016 e a tal da "integração dos times de comunicação" ainda é tabu. Seja em orgãos públicos, sejam em empresas e agências de comunicação/publicidade. Até quando essa barreira será posta e será problema? Aí que está... Fora isso, temos muito que pensar na comunicação pública como algo voltado para a comunidade. Muito mais do que o post com a mesma mensagem de forma vertical, a horizontalidade deve ser perseguida. Posts e postagens que atingem e conversam com os mais variados segmentos, são muito mais interessantes. Então, muito mais do que fazer graça com um cavaleiro de ouro e saudar a primaveira com uma música indie, pense em várias formas de falar com os mais variados atores que compõem a cidade. Faz sentido para vocês?
Deixo aberto para que possamos chegar a uma reflexão nos comentários.
PS: Em se tratando de Curitiba, o prefeito eleito Rafael Greca já anunciou que não pretende dar continuidade ao estilo nas redes sociais no período em que governar a cidade. Em suas palavras, ele vai "deixar as capivaras em paz".
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Jornalista
8 aEu não acompanhei em todas, até porque, mesmo tendo morado em Mariana, nem lembrava - conforme mencionado por foto - que as mídias sociais da Prefeitura adotaram esse estilo. Porém, eu me lembro muito bem que umas dessas "Prefs", salvo engano, a Prefeitura de Coritba, fechou as mídias sociais na época de campanha, já que as leis eleitorais foram bastante coercitivas com o uso de social mídia este ano em relação aos candidatos, imagine em relação às Prefeituras? Dá até cassação eu acho... De qualquer forma, acho que a supressão do uso do recurso das mídias sociais durante a campanha é um fator altamente relevante a ser considerado nesse processo. Se você fica os dois meses da campanha ou todos da pré-campanha, não houve ação em campanha por parte das Prefs, correto?
Criadora de conteúdo | Especialista em vídeos verticais
8 aAcho que o modelo de comunicação adotado pelas "prefs" foi uma adaptação à uma das realidades do canal e fez com que as mensagens que seriam tediosas e passariam despercebidas fossem amplificadas. Acredito que a Prefs cumpriu seu papel de comunicar as mensagens, elevando o alcance das publicações. Porém, a integração entre as áreas são indispensáveis. Não adianta a gente fazer o serviço público parecer cool, se chega na hora que alguém precisa, o serviço prestado não condiz com a imagem que é passada no momento de comunicar. Como exemplo, cito a Nubank, que tem essa pegada diferente e faz isso valer no atendimento ao cliente. Vai ver foi isso que faltou :)
Especialista em Comunicação e Marketing | Eventos | Produção Audiovisual | Pai do Lucas e da Bella ❤️
8 aBoa reflexão! Mas em pleno 2016 é difícil defender esse tom de humor nas redes, seja em empresas, política ou órgãos públicos. É aquela história, todo mundo sabe que dá certo, gera engajamento, é informativo, mas pouquíssimos ousam adotar essa linguagem. Uma pena. Sobre a eleição, acho que não houve influência das páginas, para eleitos ou derrotados. Essa disputa de 2016 foi completamente surreal.
Sócio-Diretor na Tripé Criação
8 aBoa reflexão! As manifestações de junho de 2013 mostraram que a administração pública estava descompassada, com grande dificuldade de entregar um serviço de qualidade. A gente viu um grande empenho das equipes de comunicação de conversar com essas pessoas - que estavam na rua e, principalmente, na rede. Um grande problema é que há aí uma falta de sintonia entre demanda e capacidade de entrega no setor público. Por maior que seja o esforço das equipes de marketing, comunicação ou do social media de fato, existem gargalos que a produção de conteúdo criativa e o SAC online nunca darão conta de cumprir. Uma coisa é dar e atrair atenção do público, e outra é, de fato, prestar serviços com qualidade, num país cada vez mais escasso de recursos. E aí acho que sempre se comete uma injustiça - principalmente com nós, que trabalhamos com comunicação: por maior que seja nossa vontade (ou prepotência), não há como salvarmos o mundo. Não dá pra encurtar filas de hospitais com posts bonitinhos; não se tapa buraco com memes; não se combate a corrupção com uma linguagem assertiva. Resumindo, uma coisa é conversar com esse público (objetivo que foi alcançado), outa coisa é saciá-lo. E essa conta a comunicação não dá conta de pagar.
Especialista em conteúdo, RP digital e roteirista
8 aAcho curioso que a equipe de social media não tivesse integração com os outros dois departamentos, mas assumisse um plano editorial próprio. É claro que em algum momento isso vai dar confusão.