O fim do Museu Nacional. E agora?
Fonte: G1

O fim do Museu Nacional. E agora?

Publiquei esse artigo há uma semana no Medium. Apesar do assunto ter sido ofuscado pela facada no Bolsonaro, continua sendo um tema importante, e gostaria de compartilhar por aqui também.

. . .

Passei um bom tempo tentando digerir essa tragédia. 200 anos de história queimados. O maior acervo de história natural da América Latina, mais de 20 milhões de itens. Comidos pelo fogo. O antigo lar da Família Imperial no Brasil, instituição científica mais antiga do país.

Tudo acabado.

Por uma ironia do destino, foi um acontecimento repleto de coincidências (se acreditarmos que elas existem): ocorrido na semana da Independência; no ano em que o prédio completou 200 anos; na véspera do dia do Biólogo (fato esse que me faz sentir a dor de forma ainda mais pessoal).

Li diversas matérias sobre o assunto, acompanhei toda a comoção no twitter, e acho que não há mais nenhuma informação útil tecnicamente que possa acrescentar. Dá para encontrar vários textos completíssimos sobre o assunto e todos os seus desdobramentos aqui mesmo no Medium.

Mesmo assim, gostaria de dar uma perspetiva mais pessoal sobre o assunto.

Eu adoro museus. Adoro tirar uma tarde de folga para visita-los, andar por todas as seções, observando os itens expostos e imaginando a época em que aquelas coisas eram usadas, as mãos e locais pelos quais elas já passaram, imaginar quando aqueles fósseis e esqueletos ainda estavam vivos, em que mundo eles habitaram… para mim, visitar um museu é uma verdadeira viagem no tempo.

Meu TCC foi feito em museus com acervos paleontológicos, levantando e analisando os fósseis expostos, e também as características das instalações. Visitei quatro museus da cidade de São Paulo, e pude perceber um pouco o nível do descaso do Estado para com esses locais. Um deles, o Museu Geológico Valdemar Lefèvre, localizado dentro do parque da Água Branca, é tão mal divulgado e sinalizado que eu nem sabia da existência dele antes de começar o trabalho, mesmo já tendo frequentado o parque diversas vezes.

É triste ver como esses locais com um potencial tão grande para educação e divulgação científica são tão mal aproveitados. Eu já trabalhei com educação ambiental, e sei como é difícil sensibilizar a população, sejam crianças, jovens ou adultos, a preservar o meio ambiente e se interessar por ciência; museus são ferramentas excelentes para isso, e seriam ainda melhores, se fossem bem utilizados.

E a perda do Museu Nacional… nunca tive a oportunidade de conhece-lo, e agora nunca terei. Nunca vou ver a Luzia, os dinossauros brasileiros, as múmias egípcias… Nunca.

Me pergunto quanto tempo vai demorar até o Museu do Ipiranga, aqui em São Paulo, ter o mesmo destino. Tenho várias lembranças da minha infância, quando o visitava em excursões da escola, e ficava maravilhada com a imponência do local, com a beleza das obras… Hoje, passo em frente e só vejo um prédio cercado de tapumes, uma obra parada e sem a menor perspectiva de conclusão. Minha esperança é que, em vista dessa tragédia, o governo de São Paulo acorde e resolva dar continuidade à reforma.

Enfim. Toda essa situação é extremamente triste, ainda mais depois da notícia recente dos cortes de bolsa da Capes, ainda mais no dia da minha profissão.

A ciência no Brasil está morrendo, internada em estado terminal. Por mais que eu queira, não consigo ver perspectiva de melhora, ainda mais se um certo candidato for eleito (falando em política, preparem-se para ver esse assunto ser exaustiva e desrespeitosamente usado pela esquerda e direita até o fim das eleições, um jogando a culpa no outro e tentando se promover às custas da destruição).

Nós fracassamos. Fracassamos como país, como nação. Me pergunto por que ainda insisto nisso. Por que ainda não mudei de área, por que acordo todos os domingos 5 horas da manhã, depois de já ter trabalhado de segunda a sábado, para fazer um trabalho no qual não vejo resultados, no qual mal tenho esperança de futuro.

Mas não vou desistir, ao menos não ainda. O bichinho da Biologia me mordeu quando eu era criança e seu efeito ainda não passou. Vou continuar lutando pelo que eu acredito, até onde tiver forças. Até conseguir deixar minha contribuição para mudar essa realidade terrível.

Ou até ser derrotada de vez.

. . .

Chegou até aqui? Curtiu o texto? Deixe seu like! É de graça e me ajuda muito ♥

Ricardo Borges

Jornalismo | Analista de Marketing | Marketing Jurídico | Social Media | Marketing Digital

6 a

Muito obrigado por me informar que há um museu no  parque da Água Branca. Bom texto!

Guilherme M. Petry

Technical Writer | Cibersecurity

6 a

Letícia, adorei o texto! Mas, só uma dúvida, o texto que está no Medium é o mesmo postado aqui?

Entre para ver ou adicionar um comentário

Outros artigos de Letícia Arcanjo

Outras pessoas também visualizaram

Conferir tópicos