O futuro da autonomia: 5 cenários hipotéticos (ou não)

O futuro da autonomia: 5 cenários hipotéticos (ou não)

Essa semana em uma roda de conversa entre amigos, estávamos discutindo sobre o futuro da habilidade humana de autonomia. Aqui eu trago um pouco de um resumo do que discutimos e também uma extrapolação intencional do que seria esse futuro por meio de 5 cenários hipotéticos (ou não).

Mas antes de ler, tenta refletir.... Qual sua visão de autonomia?

Um breve resumo do que discutimos (licenças poéticas foram utilizadas)

A autonomia emerge como uma habilidade indispensável para os seres humanos, para as relações, para comunidades e organizações.

Houve a prevalência de uma visão (nossa) mais pessimista das organizações e uma sensação de se "enforcar com a própria corda"

Explico: as empresas enfrentam cada vez mais cenários onde há uma necessidade de adaptação e tomadas rápidas de decisões. Aqui a autonomia dos colaboradores se torna uma base importante para a sobrevivência organizacional, portanto, uma incrível solução.

Por outro lado, há uma percepção de que as organização não desejam a autonomia das pessoas... há um medo de "perder o controle". Por isso, se constrói um desejo de uma autonomia controlada e produtiva no ambiente de trabalho, que se refere à capacidade dos indivíduos de tomar (boas) decisões, gerenciar seu próprio tempo (quanto mais em menos tempo, melhor) e direcionar suas ações de forma independente (com resultado e sem erros, claro), alinhando-se aos objetivos organizacionais e pessoais.


Mas isso é mesmo autonomia? E como é vista por outras pessoas que a usufruem?

Aqui já houve uma diferença de sentimentos e percepções:

  • Já estive atuando em cenários onde as pessoas não desejavam autonomia.
  • Para alguns, ter autonomia significa ter mais responsabilidade e, por isso, preferem não tê-la.
  • Outros sentem-se satisfeitos ao exercer autonomia em escolhas simples, como ter o direito entre dividir seu benefício de vale-alimentação ou vale-refeição.
  • Para outros, a autonomia é vista como uma ilusão no capitalismo, onde sempre há alguém lucrando com a sua (sim, a sua) suposta autonomia.
  • Há ainda aqueles que enxergam a autonomia como sinônimo de vulnerabilidade e insegurança,
  • Outros acreditam que exercer sua autonomia no mundo é, na verdade, um movimento anarquista.


Em diferentes campos do conhecimento, a autonomia assume variadas definições:

  • Filosofia: Liberdade do indivíduo para gerir sua vida, fazendo escolhas racionais de forma independente.
  • Psicologia Social: Processo construído a partir das interações com outros indivíduos, espaços e instituições. Está associada ao gerenciamento da vida prática, independência, autossuficiência e capacidade de enfrentar adversidades.
  • Saúde: Relaciona-se ao autogoverno e à independência no acesso a serviços de saúde. Aqui entra também medidas para capacitar os indivíduos a buscar seus próprios recursos em saúde.
  • Teoria dos Sistemas: Define sistemas autorreferenciais que se determinam por sua própria dinâmica de funcionamento.


Agora, convido você a refletir: qual sua visão de autonomia?

Vamos aos 5 cenários hipotéticos (ou não)

Lembre-se, não há certo ou errado, apenas perspectivas.


Cenário 1: O Dilema da Autonomia Assistida por IA

Em um futuro próximo, a tecnologia torna-se uma extensão natural das capacidades humanas dentro das organizações. Maria, uma gestora de projetos, utiliza um assistente de inteligência artificial que analisa dados em tempo real, sugere estratégias e antecipa possíveis riscos. As decisões são mais informadas, e a eficiência da equipe aumenta significativamente. No entanto, Maria começa a questionar se suas escolhas são realmente autônomas ou se está apenas seguindo as recomendações da IA.

Realidade ou Ficção?

  • Realidade: A integração da IA no ambiente de trabalho já é uma tendência crescente. Ferramentas avançadas auxiliam na tomada de decisões e na gestão de projetos.
  • Ficção: A dependência total de assistentes de IA, a ponto de questionar a própria autonomia, ainda é uma preocupação teórica, mas levanta debates éticos sobre o papel humano nas decisões.


Cenário 2: Autonomia Constrangida por Algoritmos

Em um futuro próximo, empresas utilizam algoritmos para monitorar o desempenho dos colaboradores e atribuir tarefas de forma otimizada. Ferramentas de análise preditiva prometem eficiência, mas geram um dilema: a autonomia dos trabalhadores é realmente genuína, ou está sendo guiada pelos sistemas que definem padrões rígidos de produtividade?

João trabalha em uma empresa onde cada movimento seu é monitorado. As tarefas são atribuídas com base em dados históricos, e qualquer tentativa de desviar do padrão estabelecido é desencorajada por alertas do sistema. Embora tenha a sensação de liberdade, João percebe que suas escolhas são constantemente influenciadas para garantir máxima eficiência, deixando pouco espaço para a criatividade ou inovação.

Realidade ou Ficção?

  • Realidade: Muitas organizações utilizam softwares de monitoramento e big data para otimizar processos e produtividade.
  • Ficção: Um controle algorítmico total que limita severamente a autonomia individual ainda enfrenta barreiras éticas e legais.


Cenário 3: Autonomia Coletiva em Organizações Autogeridas

Imagine empresas que operam sem hierarquias tradicionais, onde todos os colaboradores participam ativamente das decisões estratégicas e operacionais. Ana faz parte de uma organização autogerida, onde a transparência é total e a colaboração é a essência do trabalho. As responsabilidades são compartilhadas, e cada membro da equipe tem autonomia para gerenciar seu próprio trabalho, definir metas e contribuir para a direção estratégica da empresa. Tecnologias como plataformas colaborativas e ferramentas de comunicação em tempo real facilitam essa governança descentralizada, garantindo que todos tenham voz e participação igualitária.

Realidade ou ficção?

Realidade: Modelos de autonomia coletiva, como a holacracia e a sociocracia, já são adotados por algumas empresas com sucesso. Essas organizações demonstram que é possível operar sem hierarquias tradicionais, promovendo maior engajamento, inovação e satisfação entre os colaboradores.

Ficção: a aplicação ampla desse modelo enfrenta desafios significativos. Fatores como resistência cultural à mudança, complexidade na coordenação de grandes equipes, necessidade de altos níveis de maturidade e competências dos colaboradores, e desafios em setores altamente regulamentados tornam esse cenário mais idealista do que prático. Em muitas organizações, especialmente as de grande porte, a falta de hierarquia clara pode levar a ambiguidades, ineficiências e dificuldades na tomada de decisões.


Cenário 4: Autonomia em um Mundo Pós-Trabalho

Com a automação avançada, muitas funções tradicionais são desempenhadas por máquinas. Bernardo recebe uma renda básica universal e decide dedicar seu tempo a projetos artísticos e ao voluntariado. Ele tem total autonomia para escolher como gastar seu tempo, sem a pressão de um emprego convencional.

Realidade ou Ficção?

  • Realidade: Discussões sobre renda básica universal e redução da jornada de trabalho ganham espaço em políticas públicas.
  • Ficção: Uma transição completa para um mundo pós-trabalho exige mudanças profundas na estrutura econômica e social.


Cenário 5: Autonomia Sustentável e Minimalista nas Organizações

Empresas adotam práticas minimalistas e sustentáveis, focando no essencial e eliminando excessos. Sofia trabalha em uma organização que incentiva a simplificação de processos e valoriza o bem-estar dos colaboradores. A autonomia é estimulada para que cada um possa encontrar o equilíbrio entre vida pessoal e profissional, contribuindo para um ambiente mais saudável e produtivo.

Realidade ou Ficção?

  • Realidade: Movimentos como minimalismo corporativo e bem-estar no trabalho estão influenciando políticas internas de empresas.
  • Ficção: A adoção plena dessas práticas pode esbarrar em objetivos de lucro e competitividade do mercado tradicional.


Seja potencializada pela tecnologia, reinventada em estruturas coletivas ou desafiada por sistemas de controle, acredito que a autonomia continuará sendo um elemento central na dinâmica do trabalho e na realização pessoal.

Que tipo de autonomia queremos cultivar nas organizações e na sociedade? Estamos prontos para abraçar modelos que promovam a verdadeira liberdade de escolha, a responsabilidade compartilhada e um propósito significativo?

E você, como enxerga o futuro da autonomia no trabalho? Algum desses cenários ressoou com a sua visão ou experiência? Quais é mais real ou fictício para você?


Luís Gustavo Delmont

Technology Foresight e parcerias estratégicas para pesquisa e inovação

2 m

Interessante, mas o que é autonomia? De quem, pra quem, por quem?

Priscila Fernandes

Head de Pessoas | HR | RH | Gestão de Pessoas | Cultura | Desenvolvimento | Carreira | Liderança | Business Partner | HRBP

2 m

Muito boas reflexões, Ludymila Pimenta, MSc. !

Wellington Porto

Diretor TTF Brasil - Consultor de Inovação Estratégica & Impacto ESG, Especialista em Transformação de Negócios & Foresight Estratégico, Professor

2 m

Enxergo autonomia como um atributo estrutural, ou seja, construido a partir de experiências, referenciais e composto por diversos drivers sociais, politicos e educacionais. Percebam a analogia extraida da decolagem de um avião, ele parte de uma base sólida e vai, aos poucos, subindo, subindo até estabilizar e atingir "autonomia de voo". Se furarmos nossa bolha e ampliarmos o recorte, partindo do atual momento em que vivemos, de conhecimento raso e conexões frágeis, o cenário que me parece merecer um estudo mais aprofundado é o cenário 4: Autonomia em um mundo pós trabalho.

Eduardo de Sá

Inovação | Marketing | Foresight | Startups | Estratégia | Projetos |

2 m

Muito bom o texto e seus cenários! Eu me enxergo atualmente nos cenários 1 e 3, mas vislumbro meu futuro preverível com o cenário 4!

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