O Homem e a Solidão
O homem vive incessantemente em busca da felicidade, que também incessantemente lhe foge, porque felicidade sem mescla não se encontra na Terra. Entretanto, mal grado às vicissitudes que formam o cortejo inevitável da vida terrena, poderia ele, pelo menos, gozar de relativa felicidade, se não a procurasse nas coisas perecíveis e sujeitas às mesmas vicissitudes. Isto é, nos gozos materiais em vez de a procurar nos gozos da alma, que são um prelibar dos gozos celestes, imperecíveis.
Em vez de procurar a paz do coração, única felicidade real neste mundo, ele se mostra ávido de tudo o que o agitará e turbará, em coisa singular! o homem, como que de intento, cria para si tormentos que está nas suas mãos evitar. Como a solidão.
A solidão é água daqueles que tem sede de dividir. Se não temos com quem dividir, o que fazer com a solidão? Um dia, uma hora, um minuto, um segundo.... São séculos e tormentas a serem superados e vividos. Os séculos passam e as tormentas descansam. E a solidão? A solidão é um momento de angústia e frio. Nada nos satisfaz, nos estimula a ficar feliz. Solidão é não ter a pessoa ou pessoas certas nos momentos certos. Solidão é o não querer qualquer pessoa, ou a qualquer momento. Solidão é brigar com o mundo e se afastar dele. Ah, a Solidão! Massacrável momento, dias inúteis, noites vazias, madrugadas frias e horas que não passam.
A solidão é o contraste entre a alegria de tanta gente e o vazio do solitário. Interior que aumenta o derrotismo. Solidão é não ter alguém! Parece que tudo perdeu seu valor, até mesmo a própria vida. A pior solidão é aquela que se sente na companhia de outros. Por mais forte, duro e independente que possas ser, sempre haverá um momento em que precisarás de ajuda. Ah, a solidão! Às vezes um suplicio, às vezes um alívio.
A solidão é um deserto que cada um povoa à sua vontade. Que importa morar aqui ou lá, quando se descobre que se está sozinho em qualquer lugar. A solidão é uma arma que mata mesmo não tendo ninguém para dispará-la. Quando estamos sozinhos queremos estar acompanhados, e quando estamos acompanhados queremos estar sozinhos. Isso faz parte de ser humano.
Solidão não é a falta de gente para conversar, namorar, passear ou fazer sexo...isto é carência! Solidão não é o sentimento que experimentamos pela ausência de entes queridos que não podem mais voltar...isto é saudade! Solidão não é o retiro voluntário que a gente se impõe às vezes, para realinhar os pensamentos...isto é equilíbrio! Tampouco é o claustro involuntário que o destino nos impõe compulsoriamente, para que revejamos a nossa vida...isto é um princípio da natureza! Solidão não é o vazio de gente ao nosso lado nem tampouco a plenitude de gente a nossa volta...isto é circunstância! Solidão é muito mais que isto. Solidão é quando nos perdemos da nossa maior e melhor amiga, da nossa maior e mais forte aliada, da nossa maior e mais completa companhia. Solidão é quando nos perdemos de nós mesmos e procuramos em vão, pela nossa Alma!
Se você se sente só é porque construiu muros em vez de pontes. A solidão é um sentimento que revela a ausência de algo dentro de nós mesmos. Na solidão nada se instala, ou se equilibra. Nela o céu naufraga e o sol afunda. Vontades desmoronam, cai o mundo! Melhores intenções perdem o rumo. Desejos se esvaem, esperanças choram. Na solidão nada se constrói, tudo desliza! A solidão é terrível, a solidão é pesada! A solidão é imensa, esmagadora e gelada! Na solidão muitas palavras e nenhuma fuga, porque ela nos é íntima como nossa própria natureza, com a qual se enlaça e funde de forma permanente.
A solidão assusta, paralisa, nos cega. A solidão estremece! Na solidão apenas o sonho permanece! Nada a acrescentar, a não ser a reincidente renitente constatação da solidão humana. O homem solitário é uma besta ou um deus?
Figueiredo Filho