O Impacto do Consumo de Ultraprocessados na Saúde e na Economia Brasileira: Um Apelo à Prevenção
A pesquisa inédita conduzida pela Fiocruz em parceria com o Estudo Longitudinal de Saúde do Adulto (ELSA-Brasil) revelou dados alarmantes sobre o impacto do consumo de alimentos ultraprocessados na saúde da população brasileira. Com mais de 5 mil participantes, o estudo mostrou que esses alimentos aumentam em até 41% o risco de dislipidemias e em 23% o risco de hipertensão arterial, fatores diretamente ligados às doenças cardiovasculares (DCV), a principal causa de mortes no país.
Esses dados são agravados pelo crescente consumo desses produtos no Brasil, que representam 25% da energia diária consumida pela população. A pesquisa também aponta uma ingestão excessiva de sódio, gorduras trans e saturadas, além de aditivos químicos, elementos que não apenas aumentam o risco de DCV, mas também contribuem para a obesidade, diabetes tipo 2 e outras condições crônicas.
O Custo Financeiro do Consumo de Ultraprocessados
O impacto não se limita à saúde da população. Estima-se que o consumo de alimentos ultraprocessados gere um custo de aproximadamente R$ 10,4 bilhões anuais aos cofres públicos brasileiros, considerando tanto os gastos diretos quanto os indiretos.
Custos diretos
Dos R$ 10,4 bilhões, cerca de R$ 1,2 bilhão corresponde a despesas hospitalares, ambulatoriais e com medicamentos no Sistema Único de Saúde (SUS). Os custos com diabetes tipo 2 representam a maior fatia (41%), seguidos pela hipertensão e obesidade.
Além disso, os custos previdenciários e os prejuízos relacionados ao absenteísmo chegam a R$ 263 milhões por ano, evidenciando o impacto econômico mais amplo das doenças crônicas associadas aos ultraprocessados.
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Custos indiretos
Os custos indiretos, que incluem mortalidade prematura atribuível ao consumo de ultraprocessados, chegam a R$ 9,2 bilhões anuais. A mortalidade precoce afeta principalmente os homens, representando R$ 6,6 bilhões desse montante, enquanto as mulheres respondem por R$ 2,6 bilhões.
O consumo de ultraprocessados é responsável por 57 mil mortes anuais, o equivalente a 10,5% de todas as mortes causadas por doenças relacionadas a esses alimentos. Em estados como Rio Grande do Sul, Santa Catarina e São Paulo, essa proporção ultrapassa a média nacional, atingindo até 13%.
Prevenção como solução estratégica
O estudo da Fiocruz destaca de forma contundente a necessidade de ações coordenadas entre governos, instituições de saúde e o setor privado para enfrentar a epidemia de DCV causada pelo consumo excessivo de ultraprocessados.
Diante desse cenário, o investimento em medicina preventiva desponta como a estratégia mais eficaz para conter o avanço dessas doenças e reduzir custos. Campanhas educativas sobre alimentação saudável, aliadas à regulamentação da indústria alimentícia, poderiam promover escolhas mais conscientes e limitar o consumo de ultraprocessados.
Além disso, programas de acompanhamento médico e nutricional devem ser priorizados. Empresas de saúde suplementar podem implementar iniciativas para monitorar pacientes com fatores de risco, reduzindo complicações futuras. Já no SUS, a ampliação de políticas públicas, como o incentivo ao consumo de alimentos in natura por meio de subsídios, seria um passo fundamental.
O estudo da Fiocruz é um alerta claro: o custo de ignorar a prevenção é alto demais. A substituição de alimentos ultraprocessados por opções mais saudáveis deve ser uma prioridade, não apenas para a saúde individual, mas para a sustentabilidade de todo o sistema de saúde. A solução está em nossas mãos — e em nossos pratos.