Impacto da Pandemia de COVID-19 na Saúde Mental dos Jovens: Um Estudo Nacional na Finlândia
A pandemia de COVID-19 trouxe uma série de desafios globais, afetando não apenas a saúde física, mas também a saúde mental das populações. Entre os grupos mais vulneráveis a esses efeitos, os jovens se destacam devido às mudanças drásticas em suas rotinas, incertezas sobre o futuro e a adaptação ao isolamento social. Este artigo explora os resultados de um estudo nacional publicado em junho na revista britânica The Lancet, intitulado "Mental health after the COVID-19 pandemic among Finnish youth: a repeated, cross-sectional, population-based study", que analisou a saúde mental dos jovens antes, durante e após a pandemia, oferecendo insights valiosos sobre as consequências prolongadas desse período crítico.
Contexto e Objetivos do Estudo
Durante a pandemia, foi amplamente relatado um aumento nos problemas de saúde mental entre os jovens, mas poucos estudos se concentraram no período pós-pandêmico. Com isso, o objetivo principal deste estudo foi examinar como os níveis elevados de problemas de saúde mental entre adolescentes finlandeses evoluíram após a pandemia. A pesquisa utilizou dados de amostras populacionais nacionais, coletados entre 2015 e 2023, abrangendo tanto o ensino fundamental quanto o ensino médio, com a participação de mais de 700 mil estudantes.
Metodologia
O estudo utilizou um desenho transversal repetido, baseado na população da Finlândia, envolvendo estudantes de 13 a 20 anos que participaram da Pesquisa de Promoção da Saúde Escolar Finlandesa (SHP). Esta pesquisa, realizada bienalmente entre março e maio, baseia-se na amostragem total e abrangeu uma série de medidas de saúde mental, incluindo escalas de ansiedade, depressão, ansiedade social, bem-estar mental, solidão, alimentação desordenada e suicidabilidade.
Os dados foram analisados utilizando modelos mistos de efeitos logísticos e lineares, com o objetivo de compreender o efeito do ano da pesquisa na saúde mental dos jovens, controlando fatores sociodemográficos. Além disso, foram feitas comparações entre jovens cisgêneros e transgêneros, oferecendo uma visão abrangente dos desafios enfrentados por diferentes grupos.
Resultados Principais
Os resultados mostraram que a proporção de jovens com sintomas de ansiedade generalizada, depressão e ansiedade social aumentou significativamente dos níveis pré-pandemia para 2021 e permaneceu elevada em 2023. Notavelmente, entre as meninas no ensino fundamental, houve um aumento na prevalência desses sintomas, e a ansiedade social continuou a crescer entre as meninas no ensino médio. Em contraste, entre os meninos, a proporção de sintomas de ansiedade social diminuiu entre 2021 e 2023.
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Os escores de bem-estar mental apresentaram uma queda em todos os grupos entre 2021 e 2023, enquanto a alimentação desordenada aumentou tanto nas meninas quanto nos meninos do ensino fundamental. Além disso, a suicidabilidade mostrou um aumento preocupante entre as meninas, embora tenha permanecido estável entre os meninos. A solidão foi o único indicador que apresentou melhora em todos os grupos, sugerindo uma possível adaptação social pós-pandemia.
Outro ponto de destaque foi a saúde mental dos jovens transgêneros. Embora a prevalência de sintomas de ansiedade e depressão tenha diminuído de 2021 para 2023 entre jovens transgêneros, as taxas permanecem significativamente mais altas em comparação aos jovens cisgêneros. Essa diferença ressalta a necessidade de um suporte contínuo e específico para esse grupo vulnerável.
Interpretações e Implicações
Os achados deste estudo sugerem que os efeitos da pandemia de COVID-19 na saúde mental dos jovens podem ser duradouros, com um impacto mais acentuado entre as meninas e grupos transgêneros. A exceção positiva observada entre os jovens transgêneros, que mostraram uma melhora em alguns indicadores de saúde mental, destaca a importância de intervenções direcionadas e de suporte comunitário eficaz.
No entanto, os desafios permanecem. A alta prevalência de problemas de saúde mental e comorbidades entre os jovens sublinha a necessidade urgente de intervenções de saúde pública que abordem não apenas o tratamento, mas também a prevenção e a promoção de bem-estar entre os jovens. Essas intervenções devem ser desenvolvidas em parceria com os próprios jovens, para garantir que suas necessidades e perspectivas sejam adequadamente atendidas.
Este estudo nacional oferece uma visão abrangente dos desafios contínuos enfrentados pelos jovens em relação à saúde mental no período pós-pandêmico. A pandemia de COVID-19 deixou marcas profundas, e os jovens, especialmente as meninas e os transgêneros, continuam a enfrentar níveis elevados de ansiedade, depressão e outros problemas de saúde mental. O caminho para a recuperação envolve não apenas o tratamento adequado, mas também a criação de políticas e programas de apoio que abordem os determinantes sociais da saúde mental. Ao trabalhar em conjunto com os jovens, podemos desenvolver soluções mais eficazes e sustentáveis para enfrentar essa crise de saúde mental e promover um futuro mais saudável para todos.