O jovem (e o velho) aprendiz

Ele chegou falante e cuidadoso, escolhendo bem as palavras e com um livro famoso embaixo do braço. Chegou cedo, fez a barba, escolheu a melhor roupa e se preparou bem para aquele momento. Lembro do brilho nos olhos, da emoção em contar sobre sua primeira experiência profissional, da grandeza dos seus sonhos e de como trabalhar conosco o levaria a realizá-los. O escolhi de cara.

Ela chegou atrasada, suada, com os longos cabelos emaranhados, se desculpando porque havia perdido o ponto da descida do ônibus e caminhado muitos metros para conseguir chegar a tempo. Um copo d'água depois, ela finalmente começou a contar sobre sua rotina, como organizava os estudos e os cuidados com a família, sua relação com a mãe, suas enormes responsabilidades apesar de tão pouca idade. E eu me identifiquei com ela instantaneamente, porque pouco mais de vinte anos atrás era eu quem estava naquela posição, descabelada e assustada, sem saber ao certo o que eu estava fazendo ali. E eu só precisava de uma oportunidade.

O papel que uma empresa exerce dentro da jornada profissional de um jovem aprendiz é grandioso. E quando eu falo empresa, eu quero dizer cada pessoa que escolhe acolher e acompanhar esse jovem, apresentando para ele de maneira cuidadosa e natural o que é esse tal mundo corporativo, como funciona essa engrenagem dinâmica e complexa que estamos construindo e transformando todos os dias. E isso não significa dizer que ele termina essa jornada pronto para o que quer que seja, afinal, esse é só o primeiro passo. Mas é obrigação nossa fazê-los sair entendendo como funcionam as relações internas, como uma atividade qualquer influencia no todo e principalmente o que o seu papel entrega de valor pro cliente ou para empresa. E o mais importante: deixá-los um pouco mais conscientes do tamanho dos seus sonhos e o que ele precisa fazer para chegar lá. Ou quem sabe além.

Assisti-los desabrochar a cada dia, a cada pergunta, a cada nova experiência é extremamente gratificante e transformador. É ter a certeza de que aquele moleque com o livro famoso debaixo do braço vai chegar longe. E que aquela menina descabelada e assustada do primeiro dia se transformou em alguém seguro e que sabe onde quer chegar. E sabe o que é o mais surpreendente? Nem é o tanto que eles se transformam com o passar do tempo, mas sim o punhado de coisas que eles nos ensinam todos os dias, dentro dessa curiosidade e dessa vivacidade que só essa faixa etária possui.