O LÍDER DIFERENCIADO EM AÇÃO: Episódio 5 - A vergonha com humildade!

O LÍDER DIFERENCIADO EM AÇÃO: Episódio 5 - A vergonha com humildade!

Já era madrugada quando o CEO retornou para casa. Estava virando rotina ficar até tarde trabalhando na organização. Ele não aguentava mais! “Chega” de se preocupar com acionistas, clientes, empregados, comunidade, meio ambiente; toda esta gente que vive querendo que seus diferentes interesses sejam atendidos! Justamente ele, o CEO da organização, é quem deveria conciliar o atendimento de necessidades muitas vezes antagônicas. Todo mundo sabe que essa conciliação é muito difícil. Ele estava desistindo de tentar! Daqui para frente, o CEO se limitaria a “tocar o barco” e “ganhar a sua graninha”, que não era pouca. Com muito cuidado, o CEO abriu a porta para não fazer barulho nem acordar a família. Deu uma espiada na sala e encontrou, sobre a mesa de jantar, indícios de que a esposa e os filhos o haviam esperado para um jantar em família. Era a terceira vez na semana que isso acontecia. Na ponta dos pés, pela frestinha da porta, olhou a esposa dormindo um sono profundo. Entrou para beijá-la na testa e saiu rapidamente. Foi conferir o sono da filha mais nova, que estava na adolescência. Encontrou-a descoberta e encolhida de frio. Com a ponta dos dedos, puxou o edredom para aquecê-la. No quarto do filho mais velho, desligou o aparelho de som que tocava aquelas músicas suaves para relaxamento. Este já trabalhava, estudava e morava sozinho. Fazia questão de não depender financeiramente do pai, mas apreciava ter o seu antigo quarto pronto para recebê-lo quando decidia passar a noite na casa dos pais. Seus filhos participavam ativamente das redes sociais, articulando movimentos de rua que reivindicavam mudanças no país. Viviam convidando o CEO (pai) a também participar dos movimentos, mas este sempre arrumava uma desculpa para não se envolver pessoalmente com o que acontecia fora dos muros da organização que liderava. De volta à sala, sem fome e com insônia, o CEO resolveu assistir a um dos seus inúmeros filmes de ficção. Adorava esse tipo de filme. Possuía uma coleção de DVDs dos mais diferentes títulos do gênero. Mal ligou a TV e recostou-se na sua poltrona preferida, ouviu uma buzina na frente de casa. Olhando pela janela, imediatamente reconheceu o seu fiel motorista particular, que acenava, chamando-o insistentemente para entrar apressadamente no carro, com a porta já aberta. Algo de grave aconteceu, pensou o CEO. Sem titubear, atendeu ao chamado do motorista; mas, ao entrar no carro, percebeu que se tratava de um veículo bem diferente do habitual.

– O que aconteceu com o carro de sempre? Este aqui parece um DeLorean! – olhava ao redor enquanto entrava no carro e cumprimentava o motorista. – Você veio buscar-me em uma máquina do tempo ou algo assim? – brincou o CEO, aguardando alguma explicação por ter sido chamado em casa tão tarde da noite.

– É mesmo o DeLorean, senhor! – ajustava uma data no painel repleto de números – Estamos indo para o futuro!

Antes que pudesse reagir àquela aparente brincadeira, o motorista acelerou o carro, fez uma manobra que levou o veículo a sair do chão e voar até ser envolto por fortes descargas elétricas, seguido de um clarão. No segundo seguinte, estavam em um local completamente diferente.

– Chegamos, senhor!

– Onde? Ou melhor, quando? – olhara pela janela e avistou um cemitério. Diversas pessoas estavam reunidas ao redor de um túmulo. Parecia um velório.

– Por que me trouxe aqui? Quem está no caixão?

– Senhor, use este binóculo. Lembre-se que não devemos ser vistos. Pode criar problemas em toda a trama de tempo e espaço.

Naquele momento, o CEO estava acreditando em qualquer coisa e consentiu com a condição.

– Este é o velório da pessoa jurídica da organização que o senhor lidera.

– A organização morreu? Quem foi o responsável por isso?

– O senhor!

– Mas, veja, estou ali ao lado do caixão e não pareço nada arrasado.

– É que o senhor já está trabalhando em outra organização.

– Quem é aquele ao meu lado, todo faceiro e alegre?

– Aquele é o viúvo Acionista. Separou-se da organização antes que ela morresse e já se casou com outra.

– Aqueles vestidos de vermelho, chorando? Aliás, por que não estão de preto?

– São os órfãos da organização. Clientes, comunidade, fornecedores, empregados. Estão vestindo vermelho porque a organização afundou no “Oceano Vermelho”.

– Por que me olham atravessado?

– Sentem-se traídos pelo senhor – explicava o Motorista, sem condenar o CEO - Confiavam em seu discurso e suas promessas, mas que acabaram não se concretizando. Para eles, o senhor falhou como líder ao deixar de desafiar o principal determinismo: a morte organizacional. Falhou em alavancar sua longevidade sustentável.

– Mas o mercado é muito competitivo; a concorrência, acirrada.

– Sim. E tudo isso faz parte do seu trabalho como CEO. O senhor é pago para superar essas adversidades. Não é mesmo?

– Sim – baixou a cabeça. Você tem toda a razão. Não cumpri com o meu dever de CEO. Ei... Para onde estamos indo agora? O carro passou a se mover, novamente se atirando no ar e reaparecendo em algum outro lugar.

– Chegamos. Agora no passado, onde o senhor fazia o discurso de posse para todos os empregados da organização. Lembra-se do discurso que fez?

– Sinceramente, não me recordo.

– O senhor fez os empregados acreditarem que a organização seria o melhor lugar para eles trabalharem. Convenceu os fornecedores que estavam ali presentes de que seria um exemplo de parceria. Prometeu qualidade total aos clientes; respeito e disciplina no cumprimento da legislação para agradar aos órgãos reguladores. E, para os representantes da sociedade, visualizou uma vizinhança inestimável, engajada e atuante em questões da comunidade. Ao meio ambiente...

– Chega! Chega! – estava visualmente constrangido. Já me lembrei da tremenda propaganda que fiz. Agora sei que meu trabalho acabou se revelando uma enganação no futuro, pois deixei todos eles órfãos.

– Sem falar em decepcionar sua esposa e seus filhos, que estão ali ouvindo tudo isso. Parecem bem orgulhosos e confiantes no senhor.

– Minha família! – agora demonstrava uma intensa preocupação. Por que não os vi no futuro?

– Acostume-se com isso. Sua esposa o deixará e seus filhos não irão mais querer falar com o senhor. Mesmo trabalhando altas horas e muitas vezes faltando em compromissos familiares por causa disso, ela sempre lhe apoiou, acreditando que estava fazendo isso por um propósito altruísta. Mas sua esposa não continuará apoiando o senhor depois que descobrir a verdade. Já seus filhos cansarão de ver a organização na qual o pai é CEO sendo alvo de denúncias e reclamações. Ao perceberem que movimentos de mudança nacionais e mundiais deveriam partir de dentro de organizações para ajudar a sociedade, esperavam do senhor um exemplo de Diferenciação Organizacional, um modelo de líder diferenciado. Consegue imaginar a decepção deles quando viram justamente o contrário?

– Mas ao menos terei aprendido com meus erros e conseguirei me redimir como CEO na outra organização.

– Eu disse que o senhor estaria trabalhando em outra organização, mas não disse que seria como CEO – admitiu o motorista, meio sem jeito - Seu fracasso foi enorme. Isso fez com que perdesse sua credibilidade e só conseguisse emprego em uma pequena empresa, assumindo um cargo bem menos prestigioso. E tudo isso graças a alguns poucos contatos que o senhor tinha e ainda lhe deviam favores.

– O que foi que eu fiz! – exclamava o CEO, desesperado ao descobrir aquilo tudo.

– Calma, senhor! Ainda não fez. Voltaremos ao presente. Segure-se!

No segundo seguinte, estava enfrentando mais uma daquelas viagens. Sentia-se viajando muito rápido, com muita luz e chacoalhadas. Por algum motivo, a terceira viagem no tempo estava ainda mais difícil do que as anteriores. Talvez fosse seu corpo cansado por ter assistido tudo aquilo, como espectador. Era tudo tão real e tão estranho ao mesmo tempo. O CEO sabia que todos aqueles eventos foram e se tornariam verdade.

– Querido, acorda! – foi interrompido por uma voz familiar.

- Passou a noite, na poltrona, assistindo a um filme até o amanhecer?

– Cadê o Motorista? O carro? – ele estava de volta à sala de sua casa.

– Do que você está falando? – a esposa desligou a TV e guardou o filme - Você não tem motorista, prefere dirigir sozinho e vive dizendo que é perfeitamente capaz de encontrar o caminho sozinho, nem deixa outros dirigirem seu carro.

– Quer dizer que foi tudo um sonho? Ainda tenho tempo de cumprir meu dever e honrar minhas promessas?

– Do que está falando?

– Estou falando sobre assumir minha responsabilidade na Liderança para Diferenciação Organizacional! Por favor, dê licença para mim, pois preciso marcar uma reunião com os políticos da nossa comunidade. Eu e outros empresários precisamos fazer oposição leal a eles. Vamos também deixar claro que observaremos e monitoraremos o desempenho deles de perto. Vou defender o Empresarialismo!

– Empresarialismo? – questionou a esposa, que desconhecia o termo.

– Quais são os regimes e sistemas de governo que você conhece? – Presidencialismo, parlamentarismo...

– Sim. Acontece que, em qualquer sistema de governo, nós os empresários, principalmente em razão do nosso poder financeiro, sempre poderemos exercer influência junto àqueles eleitos. Chamo essa influência de “empresarialismo”, uma ferramenta para garantir que o governo atue com o verdadeiro propósito da política: o bem de todos!

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