O Lado Negativo da Felicidade
Em um dia desses, ouvi uma pessoa famosa dizendo que:
”Nem precisava fazer pesquisa científica para saber que pessoas felizes trazem melhores resultados.”
Será mesmo que certos assuntos não precisam ser estudados?
Cientes das centenas de vieses que distorcem nossos julgamentos, os cientistas sabem que por mais óbvia que uma hipótese possa parecer, ela deve ser testada rigorosamente antes de ser dada como verdadeira.
Nossa intuição nos trai com muita frequência!
E a felicidade sempre traz bons resultados? Você vai se surpreender com a resposta...
O cientista Joseph Forgas, da University of New South Wales, descobriu que pessoas felizes aceitam mais facilmente suas primeiras impressões de outros indivíduos sem as questionar, tornando-se mais vulneráveis a serem enganadas. Forgas também revelou que pessoas felizes se tornam vítimas de estereótipos mais facilmente, julgando mais positivamente uma redação atribuída a um homem do que a mesma redação quando ela é atribuída a uma mulher. Pessoas felizes deixam vieses afetarem seus pensamentoscom mais frequência.
Já o cientista Gordon Pennycook, da Cornell University, descobriu que, quando de bom humor, participantes de um estudo julgam frases sem sentido como ”altamente reflexivas”, revelando que pessoas felizes são menos aptas a detectar baboseiras e identificar informações falsas.
Dois cientistas da Northeastern University trazem descobertas ainda mais preocupantes. Quando participantes precisam decidir o que fazer no ”problema do bonde” -- uma tarefa que ilustra que um bonde descontrolado irá matar cinco pessoas em uma estação, mas se uma pessoa mais pesada for empurrada na frente do veículo, ele mudará de direção e poupará cinco vidas -- aquelas colocadas de bom humor antes da decisão têm chances três vezes maiores de dizer que empurrariam o homem pesado na frente do bonde: uma estatística contrária a maioria dos estudos envolvendo esse problema, em que as pessoas demonstram aversão em usar suas mãos para matar alguém.
Certamente, vários estudos demonstram que pessoas felizes ficam mais motivadas, atentas, criativas e produtivas, vendem até 88% a mais, têm uma visão periférica maior e conquistam outras vantagens, mas as pesquisas apresentadas aqui revelam que a felicidade nem sempre é uma benção.
Tenha cuidado com ”experts” dando opiniões sem fundamento, principalmente quando se trata de alguém famoso. O cientista Philip Tetlock, da Universidade da Pennsylvania, descobriu que existe uma relação inversa entre fama e precisão: quanto mais famosa uma pessoa é, menos confiáveis são seus julgamentos.
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E então: a ciência precisa ou não fazer estudos para saber se pessoas felizes trazem melhores resultados? Para descobrir se dinheiro motiva as pessoas? Para revelar se pensar positivo realmente aumenta suas chances de conquistar o que deseja? Se punições diminuem comportamentos inadequados? Se receber reconhecimento motiva as pessoas? Imagino que agora você tem a resposta correta!
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Um grande abraço,
Luiz Gaziri
Professor de Ciências Comportamentais na Unicamp e FAE Business School
Autor de "A Ciência da Felicidade", "A Arte de Enganar a Si Mesmo", "A Incrível Ciência das Vendas" e "Os Sete Princípios da Felicidade."
Contato Para Palestras | (41) 99103 2700
REFERÊNCIAS
Forgas, J. P., & Bower, G. H. (1987). Mood effects on person-perception judgments. Journal of personality and social psychology, 53(1), 53.
Forgas, J. P. (2011). She just doesn't look like a philosopher…? Affective influences on the halo effect in impression formation. European Journal of Social Psychology, 41(7), 812-817.
Pennycook, G., Cheyne, J. A., Barr, N., Koehler, D. J., & Fugelsang, J. A. (2015). On the reception and detection of pseudo-profound bullshit. Judgment and Decision making, 10(6), 549-563.
Valdesolo, P., & DeSteno, D. (2006). Manipulations of emotional context shape moral judgment. Psychological science, 17(6), 476-477.
Lyubomirsky, S., King, L., & Diener, E. (2005). The benefits of frequent positive affect: Does happiness lead to success?. Psychological bulletin, 131(6), 803.
Tetlock, P. E., Mellers, B. A., Rohrbaugh, N., & Chen, E. (2014). Forecasting tournaments: Tools for increasing transparency and improving the quality of debate. Current Directions in Psychological Science, 23(4), 290-295.