O MÊS MAIS QUENTE DA HISTÓRIA
Julho de 2023 deve estabelecer um novo recorde na temperatura global.
Não será apenas o julho mais quente, mas o mês mais quente de todos os tempos em dezenas de milhares de anos. A constatação é do cientista climático Karsten Haustein, da Universidade de Leipzig, na Alemanha, cuja análise indica que a temperatura média global próxima à superfície vai ultrapassar o recorde até então, de julho de 2019.
A temperatura média deve ficar entre 1,3°C e 1,7 °C acima do que era no início da era industrial, em 1850, quando os seres humanos passaram a aquecer o planeta com a queima de combustíveis fósseis.
As temperaturas médias globais já aumentaram 1,2°C, se comparadas ao valor de referência, entre 1850 e 1900.
Se continuarmos com as atuais políticas governamentais, a temperatura média deve aumentar 2,8°C até o próximo século. Na prática, significa uma ameaça à sobrevivência de grande parte do mundo natural, à produção de alimentos, ao abastecimento de água, à saúde humana, à vida das populações litorâneas e às economias nacionais.
O que dizem os cientistas há décadas?
"A mudança climática é uma ameaça ao bem-estar humano e à saúde do planeta. Qualquer atraso adicional na ação global antecipada e concertada sobre adaptação e mitigação perderá uma breve e rápida janela de oportunidade para garantir um futuro habitável e sustentável para todos", aponta o IPCC, o painel de ciência climática da ONU, em seu relatório de 2022.
Os especialistas dizem ainda que as soluções devem ser implementadas com URGÊNCIA.
O impacto do calor para a saúde mental
Uma constatação interessante é a relação entre aquecimento global e saúde mental. Os índices de desidratação e suicídio aumentam em períodos de ondas de calor, segundo especialistas.
Flutuações climáticas ocorrem na natureza, por óbvio. O que mudou é a frequência e muitas vezes a intensidade dos fenômenos climáticos.
As ondas de calor, por exemplo, aconteciam a cada dez anos, e ultimamente têm surgido a cada período de 2 ou 3 anos.
Os cientistas monitoram a evolução da temperatura global do ar na superfície e os conjuntos de dados indicam uma variação anual. A mudança é maior em março e menor em julho, que normalmente é o mês mais quente do ano em todo o mundo.
Não é a primeira vez que o aumento da temperatura global excede 1,5 ⁰ C acima de 1850-1900, que são os níveis de referência, mas é a primeira vez que isso acontece no verão do Hemisfério Norte, quando o planeta já é mais quente.
Em 2016, por exemplo, houve o maior aquecimento no inverno e na primavera boreal, com degelo no Oceano Ártico, e alteração da temperatura por conta de um El Niño.
Quais os responsáveis pelo aquecimento global do planeta?
O IPCC deixa claro que o uso de combustíveis fósseis é o principal fator que impulsiona o aquecimento global:
"Em 2019, cerca de 79% das emissões globais de GEE (gases de efeito estufa) foram provenientes de energia, indústria, transporte e edifícios, e 22% vieram da agricultura, silvicultura e outros usos da terra. As reduções de emissões de CO² decorrentes de medidas de eficiência são ofuscadas pelo aumento das emissões em vários setores."
O fato de o aumento da temperatura neste mês ter atingido 1,5ºC não significa que os governos não conseguiriam mais limitar o aquecimento global ao limite de 1,5º C estabelecido no Acordo de Paris, firmado pelas nações unidas, em 2015. Importante lembrar que o aquecimento médio do planeta é medido em escala de tempo de longo prazo. Algo que o “O Mercado”, com sua visão de curto prazo, não está acostumado.
Porém, o que fica evidente com o aumento da temperatura em julho de 2023, é que as ações para reduzir as emissões no momento presente são inadequadas. E O MUNDO ESTÁ MESMO EM VIAS DE NÃO CUMPRIR O ACORDO DE PARIS.
Também fica evidente a necessidade de obter metas e planos mais rígidos dos principais poluidores, China, Estados Unidos, Índia, União Europeia, Rússia e Japão.
O Brasil é por vezes apontado como sexto maior emissor do mundo, principalmente devido ao desmatamento da Amazônia, Cerrado e Mata Atlântica. São biomas ricos em biodiversidade, e toda vida tem em sua essência o carbono. Vem daí que queimar madeira resulta em mais CO² na atmosfera.
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Tragédias humanas em julho de 2023
As altas temperaturas de julho quebraram recordes em pelo menos 15 países. Por trás dessas estatísticas, há tragédias humanas.
O Vale da Morte, nos EUA, teve a noite mais quente já registrada.
A Argélia registrou a noite mais quente na África.
Em Phoenix, Arizona, houve recorde de 21 dias consecutivos acima de 43,3°C.
Roma quebrou seu recorde de calor, de 2022, com alguns hospitais relatando número de pacientes semelhante ao da pandemia de covid.
Temperaturas oceânicas em todo o mundo seguem quebrando recordes.
Junto com o calor extremo, julho trouxe chuvas e inundações fatais, enquanto o gelo da Antártica atingiu o nível mais baixo do ano.
Na Coreia do Sul, 13 pessoas morreram quando seus carros ficaram presos em um túnel inundado.
No Paquistão, uma chuva de monções recorde levou a um deslizamento de terra que soterrou 15 pessoas e matou 8 crianças durante um jogo de críquete.
Pelo menos 10 migrantes morreram no sul dos EUA, em meio a temperaturas mortais, em um único fim de semana.
A constatação das mais renomadas autoridades em clima e energia é de que as propostas atuais dos principais emissores estão muito defasadas.
Já ouviu falar em ANTROPOCENO, a era geológica moldada pelas ações humanas?
Limitar o aquecimento global a níveis seguros e acelerar a transição para energia renovável e sem emissão de carbono SÃO AÇÕES URGENTES.
É importante ressaltar como a crise climática atual foi construída pela ação humana.
Vivemos uma nova era geológica, moldada pelas atividades humanas, chamada de Antropoceno, que tem como origem o grego ánthropos, que significa ser humano.
A atividade humana é responsável pelo aquecimento global registrado desde meados do século XIX.
Para manter os níveis de aquecimento no limite de 1,5°C, o painel de ciência climática da ONU, IPCC, afirma que as emissões globais de gases de efeito estufa precisam atingir o pico antes de 2025, no máximo, e ser reduzidas em 43% até 2030.
As temperaturas globais durante a última década foram mais quentes do que o período quente anterior, registrado há cerca de 6.500 anos.
O período quente mais antigo foi há cerca de 125.000 anos, quando a faixa de temperatura era 0,5°C-1,5°C mais quente do que as temperaturas antes de os seres humanos começarem a aquecer o planeta, segundo o Resumo técnico do Grupo de Trabalho 1, "Caixa de seção transversal TS.1: Global Surface Temperature Change".
Significa que a última vez que o planeta atingiu cosnsistentemente as temperaturas observadas emn julho de 2023 foi há cerca de 125 mil anos, durante o período Eemiano. Naquela época, o nível do mar era provavelmente cerca de 8 metros mais alto do que é hoje.
Se quiser as referências científicas e os estudos aqui mencionados, me escreva que encaminho os links.
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Arquiteta na JBMC Arquitetura &Urbanismo
1 aFundamental esse alerta, Darlene! Importante pautar as coisas com dados. Da uma tristeza o imediatismo que estamos submetidos! Abraços!!!
Importante seu artigo, pois tenho visto nas redes algumas pessoas dizendo que as mudanças às vezes drásticas acompanharam as eras. Falar sobre a interferência humana com dados e evidências contribui para enfrentar negacionistas e trazer clareza sobre o papel nosso de pessoas comuns que vão se somar, quiçá, numa solução compartilhada. Abraços querida - de Fortaleza aliás bem quente hoje.
Edmundo Vasques Nogueira é o Editor do Portal de Notícias e do Jornal Correio de Itapetininga. Jornalista formado pela Faculdade Cásper Líbero. Pai do Augusto, do Gabriel, da Raísa, da Laura e avô da Manuela.
1 aTexto excelente e esclarecedor !