O MODELO “DBBV” E SUAS CONSEQUÊNCIAS

O MODELO “DBBV” E SUAS CONSEQUÊNCIAS

  A FONTE QUE INSPIRA E GUIA

Dois artigos publicados através da plataforma PULSE do LinkedIn servirão de base para o que será exposto nesse artigo. O primeiro, denominado “Demitam os bajuladores. Líderes competentes não precisam deles”, de autoria de Humberto Moura disponível aqui, trata basicamente do que foi defendido no “Artigo da Semana - SY” denominado “Decision Based On The Boss’s View – DBBV”, disponível aqui, e terá a tese lá defendida reforçada neste artigo. O segundo, denominado “O preço psicológico do empreendedorismo”, de autoria de André Bartholomeu Fernandes disponível aqui, servirá para demonstrar que nenhum empreendedor “chegará lá” sem força de vontade e uma certa dose de auto anestesia que permita sua continuidade pelo caminho do empreendedorismo, além da inabalável crença em você mesmo. A fonte que regará a base conceitual do artigo da semana SY, surge de duas nascentes de conhecimento de excelente qualidade, pelas quais, se agradece pelo compartilhamento público. Obrigado a Humberto Moura e André Bartholomeu Fernandes.

O MODELO DBBV E A PROMOÇÃO DOS MEDÍOCRES

Em “Demitam os bajuladores...” Humberto passa o recado já no título, quando afirma que “Líderes competentes não precisam deles” (grifo nosso). A afirmativa inicial de Humberto coaduna-se com a tese defendida em “DBBV” que afirma que o início da mediocridade e a consequente esquizofrenia existente em diversos meios corporativos surge, inicialmente no nível da liderança. Mas esta perversão somente ocorre nos casos em que a liderança pervertida não dispõe da competência necessária para sua manutenção baseada em resultados. Assim, tem-se que o recado é claro: Líderes de verdade mantêm-se pela sua capacidade de obter resultados, não apenas sozinhos, mas através de pessoas inspiradas e capazes tecnicamente de produzir resultados sustentáveis. E é aqui que o artigo aborda o cerne proposto com a pergunta: “O que acontece se os gestores perceberem que não estão conseguindo atingir as metas? ”. A resposta dada por Humberto não deixa dúvidas:

"Para resolver este problema, soube de gestores que mudavam a fórmula de cálculo dos indicadores, para seu benefício. Um exemplo típico foi a alteração realizada no indicador de nível de desemprego no Brasil. Também soube, casos onde se alterou o período de apuração dos indicadores, para poder maquiá-los. Um destes, foi o de uma empresa, de cosméticos, que não estava atingindo os indicadores de satisfação dos colaboradores. A pesquisa era aplicada sempre em dezembro. Um belo ano, a empresa resolveu mudar o período de aplicação para março, após fazer a "limpa" anual de demissões, antes do dissídio, de empregados que não estavam "alinhados" com seus gestores. Só com este "plano de ação", conseguiram aumentar em 20% a satisfação dos colaboradores. Eu acho que era só para enfeitar, a palavra "ética” encontrada, em um dos quadrinhos de "missão, visão e valores", na sala de recepção."

 

Estas ações advêm, portanto de líderes menos comprometidos com resultados corporativos e mais voltados para resultados que o beneficiem pessoalmente. Este trabalho de manutenção do status quo somente é possível com a ajuda de asseclas que se sujeitem ao poder, sem ver o representante deste. Assim, Humberto conclui de maneira objetiva que estes asseclas, chamados por ele de bajuladores, “criam um campo de distorção da realidade”, ou seja, são promotores do processo autoalimentado da esquizofrenia corporativa que gera e promove a perversão do poder representativo, cuja finalidade de alteração do status quo, “uma vez que os resultados da gestão não são suficientes para validar a continuidade à frente da gestão da entidade do líder e seus asseclas”.

No campo dos partidários do poder pelo poder, Humberto segue defendendo que os “bajuladores” costumam resguardar o posicionamento de seus líderes, quase sempre sem qualquer base técnica e servem apenas para manter e aumentar o poder do “chefe”. Humberto evidencia ainda que (e de acordo com a tese do DBBV) a bajulação surge não do “bajulador”, mas do “bajulado”, gerando a auto alimentação esquizofrênica em todo o meio.

Por fim, Humberto expressa que “bajuladores e bajulados caem sozinhos, cedo ou tarde”. Neste cenário, o que Humberto conclui é que cabe aos profissionais a “escolha entre conviver até cair, ou procurar outro emprego, e não ser prejudicado na carreira”. Neste ponto conclusivo, obtemos o link para tratar do exposto no artigo “O preço psicológico do empreendedorismo”, de autoria de André Bartholomeu Fernandes.

TO BE OR NOT TO BE ...

A expressão universal surgida da obra de William Shakespeare, Hamlet, do início do século XVII, nos permite o exercício dialético em direção à compreensão desta expressão sob uma ótica abrangente, uma vez que seu contexto que aparece no ato 3, cena 1, da peça, deixa claro o embate interno de Hamlet quanto a vingança pelo assassinato de seu pai:

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HAMLET - "Ser ou não ser, eis a questão. Será mais nobre sofrer na alma pedradas e flechadas do destino feroz ou pegar em armas contra o mar de angústias e, combatendo-o, dar-lhe fim?

Morrer; dormir; só isso. E com o sono - dizem – extinguir dores do coração e as mil mazelas naturais a que a carne é sujeita; eis uma consumação ardentemente desejável. Morrer, dormir... dormir! Talvez sonhar. Aí está o obstáculo! Os sonhos que hão de vir no sono da morte quando tivermos escapado ao tumulto vital nos obrigam a hesitar: e é essa reflexão que dá à desventura uma vida tão longa. Pois quem suportaria o açoite e os insultos do mundo, a afronta do opressor, o desdém do orgulhoso, as pontadas do amor humilhado, as delongas da lei, a prepotência do mando, e o achincalhe que o mérito paciente recebe dos inúteis, podendo, ele próprio, encontrar seu repouso com um simples punhal?

Quem aguentaria fardos, gemendo e suando numa vida servil, senão, porque o terror de alguma coisa após a morte - o país não descoberto, de cujos confins jamais voltou nenhum viajante nos confunde a vontade, nos faz preferir e suportar males que já temos, a fugirmos para outros que desconhecemos?

E assim a reflexão faz todos nós covardes. E assim o matiz natural da decisão se transforma no doentio pálido do pensamento e empreitadas de vigor e coragem, refletidas demais, saem de seu caminho, perdem o nome de ação."

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O recorte acima, demonstra o embate interno de Hamlet quanto a vingança pelo assassinato de seu pai, por seu tio Cláudio, desnudando duas vertentes de ação de sua vingança: 1) sob a primeira ótica repousa o entendimento de que Hamlet questiona-se sobre a realização ou não da vingança da morte requerida pelo espírito de seu pai; 2) Hamlet pondera a possibilidade de ser ele ou não, o executor desta vingança.

Esta última possibilidade, origina-se da primeira versão impressa do ato, datada de 1603, em que a célebre frase aparece de forma distinta à conhecida atualmente: "To be, or not to be i, there's the point" (Ser ou não ser eu, aí está o ponto).

O exercício proposto tem o intento apenas de permitir que seja expressa uma terceira ótica de compreensão sobre esta frase, que nos permitirá compreender o valor intrínseco do texto de André Bartholomeu Fernandes.

A frase de Hamlet, traduzida para o português brasileiro é: “Ser ou não ser, eis a questão”. Contudo, é sabido que o verbo “to be” representa dois verbos distintos da língua portuguesa brasileira e profundamente trabalhados nas escolas de gestão, a saber: “Ser” e “Estar”. Neste ponto, o exercício proposto, nos permite conectar a frase de Hamlet ao texto de André, pois, de maneira alternativa, propomos a leitura da frase shakespeariana de forma a questionar-se: “Ser ou Estar, eis a questão”. Pois no exercício lógico da gestão tudo aquilo que não é, está. Portanto, quando nos deparamos com um caminho que nos impõe a escolha de permanecer ou mudar, nos deparamos analogamente, em sermos parte do ecossistema do estamento corporativo, ou nos tornarmos senhores de nós mesmos (citação do artigo DBBV) para então estarmos em nós.

A busca pelo equilíbrio em nosso interior, é, por analogia, como a reentrada das naves espaciais na órbita da terra: turbulenta, difícil, com alto risco à vida. E como toda reentrada, exige: preparo técnico, ajuda das pessoas em solo, uma nave bem construída (mente e espírito fortes) e uma boa dose de confiança de que tudo dará certo.

O texto de André nos permite visualizar de forma clara os desafios enfrentados pelos optantes do verbo “estar”. Uma vez que se escolhe estar em si mesmo e trazer à tona a realidade que existe lá dentro, enfrentamos forças com as quais muitas vezes acreditamos não sermos capazes de enfrentarmos e da mesma forma que na reentrada terrestre, as forças são oriundas de nossa própria “casa”. André clarifica que muitos empreendedores enfrentam suas dores sozinhos, escondendo-as por medo de parecerem fracos e impotentes e por consequência de perderem a sua credibilidade. Para isto André apresenta a analogia do “homem cavalgando num leão”, onde deixa claro aquilo que ao mesmo tempo representa o “sofrer calado” de cada empreendedor e a origem de seu sucesso, uma vez que aqueles que o veem o admiram ainda que, em cima do leão, o empreender esteja se perguntando: “Como eu vim parar em cima de um leão e como eu faço para ele não me devorar? ”

Em um cenário onde empresas sofrem com os efeitos da distorção da realidade (defendido em “DBBV” e ratificado, neste artigo, por Humberto), o cenário concorrencial se apresenta como um campo de probabilidades fora da curva. A consequência disto é a destruição das possibilidades de futuro de toda uma geração que prefere direcionar sua capacidade para o “Estado”, mas sem o compromisso real de produzir. Mesmo quando há a honesta intenção de produzir, as ações mais bem-intencionadas não sobrevivem à passagem de duas mesas de burocratas, políticos comprometidos apenas com o estamento. Este é o cenário público, como bem sabemos.

André apresenta em seu artigo uma série de estatísticas que demonstram que os que buscam o empreendedorismo sofrem no corpo e no espírito, tanto pelas circunstâncias, quanto pelo próprio perfil do empreendedor, como suas características inatas que em um extremo são a fonte de sua força e diferencial e, no outro extremo são a fonte de sua queda. A “paixão” pode ser a fonte da obsessão, e neste nível, nenhum empreendedor deve estar sujeito ao universo que habita em si, mas dominá-lo a partir da compreensão de que ele, e apenas ele, é o senhor de tudo o que há em seu universo pessoal.

Aos que passam pela turbulência da reentrada, André demonstra que há uma luz no final do túnel e que é possível levantar-se e de cabeça erguida, mas com a humildade de quem reconhece o valor da batalha passada. É valido lembrar que as lições aprendidas são o manual para a sequência do bom caminho. Aspectos práticos da gestão não devem ser esquecidos mesmo nos momentos de intensa realização. A maturidade deve sobrepor toda “felicidade burra” que porventura venha a nos abater. E neste ponto apenas a honestidade consigo permitirá que isto seja possível.

 

Rodrigo Mendes Carpina

Economista

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