O momento no ambiente corporativo requer equilíbrio!
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O momento no ambiente corporativo requer equilíbrio!

Para Aristóteles, o equilíbrio está na virtude, que é alcançada através da moderação, ou seja, o meio-termo (mésotes). Em sua obra Ética a Nicômaco, Aristóteles explica que a virtude reside no meio entre dois extremos: o excesso e a deficiência.

Já para os estoicos, o conceito de equilíbrio está profundamente relacionado ao domínio das emoções e à busca pela ataraxia, ou seja, a tranquilidade da alma. Eles defendiam que o equilíbrio é alcançado quando a razão domina as paixões (chamadas de pathos). Os estoicos acreditavam que emoções intensas, como raiva, medo e alegria excessiva, tiram o ser humano de seu estado de equilíbrio e o afastam da virtude e da racionalidade.

Estamos em um momento pendular. Logo após a pandemia de Covid-19, o CEO da Goldman Sachs, David Solomon, causou grande repercussão ao exigir que os funcionários retornassem ao trabalho presencial em tempo integral. Ele argumentou que o trabalho remoto era uma "aberração" e que o modelo de negócios do banco, centrado na colaboração e no aprendizado prático por meio de um sistema de mentoria, dependia da presença física dos funcionários.

Recordo que, na época, tal declaração gerou muita discussão, principalmente entre as gerações mais novas, que viam o trabalho remoto como o "paraíso perfeito".

A reação dos funcionários da Goldman Sachs foi variada. Muitos reclamaram em fóruns online que a decisão de retornar cinco dias por semana ignorava os benefícios do trabalho remoto, como maior produtividade e equilíbrio entre vida pessoal e profissional. Além disso, houve queixas sobre a falta de flexibilidade, especialmente considerando que outros grandes bancos e empresas de tecnologia estavam adotando modelos híbridos ou permanentes de trabalho remoto.

Estou aguardando um pouco mais para ver os desdobramentos da recente decisão da Amazon de exigir o retorno total ao escritório cinco dias por semana a partir de janeiro de 2025. Tal medida está gerando fortes reações, tanto internamente quanto externamente. O CEO, Andy Jassy, justificou a mudança com base na crença de que o trabalho presencial fortalece a colaboração, o aprendizado e a conexão com a cultura da empresa, aspectos que ele considera fundamentais para o sucesso a longo prazo. A Amazon vinha operando com um modelo híbrido desde a pandemia, exigindo três dias presenciais, mas agora deseja restabelecer a prática anterior.

Entretanto, a reação dos funcionários tem sido amplamente negativa. Muitos expressaram frustração e descontentamento, especialmente em um momento em que outras grandes empresas continuam a oferecer flexibilidade no trabalho remoto. Grupos de funcionários organizaram protestos e até uma walkout (ato de abandono do local de trabalho), criticando tanto a política de retorno quanto as práticas ambientais da Amazon. Em fóruns online, trabalhadores manifestaram preocupações sobre o impacto na qualidade de vida, destacando que o trabalho remoto permitiu maior equilíbrio entre vida profissional e pessoal, especialmente com a eliminação do deslocamento diário.

Além disso, esse movimento de retorno integral vai contra a tendência de muitas empresas de tecnologia que adotaram modelos híbridos ou totalmente remotos. Outros gigantes do setor, como Salesforce e Google, continuam permitindo flexibilidade, o que aumenta o risco de a Amazon perder talentos para empresas que oferecem condições de trabalho mais flexíveis.

A controvérsia reflete o dilema que muitas grandes corporações enfrentam: equilibrar a produtividade e a cultura empresarial com a crescente demanda por flexibilidade dos funcionários. Este é um momento pendular.

Todos que me conhecem sabem que sou fã do falecido sociólogo italiano Domenico De Masi, que, já em seu livro O futuro do trabalho, ironizava o fato de um indivíduo ir trabalhar presencialmente para passar o dia diante de uma tela de computador por oito horas.

Por outro lado, sempre defendi a ideia de que o trabalho 100% online é uma armadilha. Conheci de perto um processo em uma empresa multinacional de serviços onde os funcionários faziam postagens no LinkedIn como se a empresa em que trabalhavam fosse o cliente, e não seu real empregador, demonstrando à luz do dia a total desconexão com a empresa que efetivamente os empregava.

Nesta empresa com sede em São Francisco, falava-se muito em bem-estar dos funcionários e engajamento na cultura, até que os números caíram e os principais gerentes da área de gestão de pessoas foram demitidos de forma online. Era apenas uma fachada e um discurso vazio, sem sustentação no propósito ou nos valores da empresa.

Enquanto isso, empresas como HSBC e Salesforce seguiram rumos opostos, anunciando a redução de espaço físico e a implementação de políticas mais flexíveis de trabalho remoto. Esse contraste destacou ainda mais a rigidez da Goldman Sachs e preparou um caminho desafiador para a Amazon, que mantém sua convicção de que o trabalho presencial é essencial para a manutenção da cultura organizacional, algo com o qual também concordo.

No entanto, posso observar em minha prática diária, conversando com especialistas, que as empresas precisam encontrar um equilíbrio entre as preferências dos funcionários e as necessidades do negócio. Certas empresas, pela natureza de suas atividades, conseguem gerir mais facilmente um trabalho híbrido, aplicando esse modelo de forma diferenciada em determinados setores. Obviamente, em atividades como em uma planta química, o trabalho presencial é fundamental.

A própria McKinsey, em suas pesquisas, recomenda que os líderes utilizem o feedback dos funcionários para implementar modelos que aumentem tanto a satisfação quanto a produtividade.

Estamos passando por uma profunda modificação nos hábitos e comportamentos sociais, principalmente entre as gerações mais novas, que exigem mudanças e adaptações.

Na semana passada conversando com um investidor ele sugeriu o trabalho presencial e uma jornada de 18 dias por mês. A primeira vista pode ser interessante. Teremos que ser criativos e abertos para experimentações.

Não adianta nos apegarmos a certas crenças e fecharmos as portas para o novo.

Aqui, não estou dizendo o que é certo ou errado, apenas propondo um novo olhar para um contexto em transformação, que exige uma mudança de paradigma. Cada empresa terá a responsabilidade de encontrar sua fórmula mais adequada. É hora de refletirmos sobre o que já dizia Aristóteles e os filósofos estoicos: buscar o equilíbrio é uma virtude, e essa receita vale tanto para líderes quanto para liderados.

Carlos Silva Moreira

Bacharel em Economia /Gestor de Negócios/ Analista de Sinistro - Auto, Vida, Empresarial, Residencial, Responsabilidade Civil Facultativa de Veículos e Seguro Transportes.

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Emerson Ciociorowski , Boa tarde! Segue minha opinião: O modelo híbrido oferece benefícios claros tanto para as empresas quanto para os funcionários. Para as organizações, há uma redução nos custos fixos, como aluguel de espaços físicos e energia e etc. Para os funcionários, a melhoria na qualidade de vida, com menos deslocamentos, pode resultar em menos problemas de saúde e, consequentemente, menores custos com planos de saúde. Isso cria uma equação positiva para ambas as partes.# Carlos Moreira

Iraceles Pires

Business Owner at Top Talent Consultoria

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Concordo plenamente Emerson Ciociorowski e acrescento que virtudes são forças aplicáveis nos momentos mais desafiadores. Que sejamos virtuosos para atuarmos nesta questão, agora mais do que nunca, pois uma imposição quanto ao trabalho presencial por exemplo, acho q será desastroso.

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