O movimento feminino e suas trajetórias ilógicas que nos trazem a glória
Díptico Marilyn - Andy Warhol, 1962

O movimento feminino e suas trajetórias ilógicas que nos trazem a glória

Sobre ondas e movimentos

Inúmeros discursos comemorativos ao Dia da Mulher, muitos pertinentes, alguns exagerados e todos reflexivos para uma agenda que precisa se manter presente, não somente nesse dia e mês, mas permanentemente, para que não percamos a perspectiva do debate necessário, que possa ser transformador em diversos campos da nossa convivência, seja na igualdade de oportunidades, salariais, combate a violência contra a mulher e sobretudo para uma construção do respeito mútuo entre homens e mulheres de todas as culturas, idades e nacionalidades.

O mais fascinante mesmo no mundo feminino é a contemplação de movimentos. O jeito como elas se movimentam evidenciam verdadeiras construções poéticas que enchem o mundo de sensibilidade, sensatez, demonstração de força e de sabedoria. Desde os movimentos corporais até a visão de mundo que faz com que tenhamos norte para nos mover. Basta o jeitinho dela andar, já dizia o poeta, para que identifiquemos uma característica feminina. O centro de gravidade delas é outro quando se pensa da perspectiva de um homem, inconcebível e inimitável e faz com que a paixão se desperte quando observamos atentamente a individualidade com a qual esse movimento se manifesta. Paixão por elas ou delas por si mesmas, porque demonstra identidade, sensação de liberdade e autonomia sobre si e seu corpo, suas limitações e exibições.

O jeito como elas, naturalmente, assim meio como quem não quer nada e como se fosse uma movimentação simples, puxam os cabelos para trás e fazem um coque, ou um rabo de cavalo. É surpreendente, lindo, poético, feminino. Algumas vezes elas desafiam a gravidade e prendem o rabo de cavalo em um nó largo com os próprios cabelos, impossível imaginar como isso é factível. É fascinante observar como esse movimento é feito, podem ser acompanhados de uma continuidade de fala e mesmo assim elas acertam, fazem com uma eficiência que impressiona e nos faz acreditar que é fácil. Da mesma forma que deixam fácil o movimento de passar batom, acertar a linha dos lábios e o desenho que precisa ser feito, inacreditável.

O movimento que elas fazem para o diálogo, de darem o primeiro passo, ou de se mostrarem como excelentes ouvintes. Exercem a compreensão e contagia a movimentação da conversa, dirigindo para espaços de fala que estão previamente arquitetados em suas mentes, ou que constroem simultaneamente ao diálogo ou monólogo. Essa característica diz muito sobre as mulheres, suas personalidades e suas capacidades de reinvenção e superação de desafios. Observar os movimentos de fala das mulheres e a mobilidade de seus pensamentos torna o mundo mais sublime, mais respeitável, mais tolerante, mais reflexivo.

O movimento que elas promovem para conquistar espaços, se firmarem, demonstrarem autoridade, oferecer e exigir respeito, suscitar o debate e ocupar lideranças como resultado de lutas cotidianas para combater injustiças e abusos. O movimento que elas fazem para se organizarem em grupos de autoproteção ou em defesa de um propósito de consenso. Em movimentos não organizados, instantâneos que inflamam o debate e que evidenciam preconceitos camuflados, disfarçados ou dissimulados. Ou mesmo que trazem à tona comportamentos inaceitáveis, mas que continuam se movimentando por aí de forma inescrupulosa.

Elas se movimentam em diversas direções e nos carregam para um mundo feminino que aceita todas as pessoas, todas as ideias, todos os debates, todos as contradições. Desafiando a física e seus estudos precisos dos movimentos e evidenciando a química necessária para a boa convivência.

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