O mundo também é dos multis!
Você já se deparou com muitos momentos de indecisão, em que suas escolhas finais entram em confusão mental com os pensamentos alheios sobre sua personalidade, te posicionando em um lugar incerto, desconhecido e onde você se sente provocado e tem as mais diversas reações por não ser como você esperava ou desejava?
Imagina ser uma pessoa com uma personalidade que destoa da cultura, dos valores e comportamentos de uma empresa, mas por falta de oportunidade por parte das empresas é sua única opção, afinal ainda há muita dificuldade em ser multipotencial quando o mercado ainda demonstra ter um padrão sobre as expectativas sobre possíveis candidatos.
Ainda na escola, somos orientados pelas notas em destaque de um aluno para determinadas disciplinas que se encaixam em uma área - Biológicas, Exatas ou Humanas - para apontarmos, próximo da conclusão do ensino médio, possíveis profissões de nosso gosto e interesse. Mais tarde, a própria escola nos apresenta profissionais, geralmente psicólogos, para nos acompanhar em nossa orientação vocacional e que, às vezes, não são necessariamente preparados para lidar com todo tipo de aluno.
Lembro como se fosse ontem a vez da minha turma... em 2003 começava para nós um ciclo de testes diversos para definirmos nossa carreira até a conclusão em 2005. A orientação profissional foi um verdadeiro desastre! De quase 150 alunos - divididos em três classes - contávamos em uma mão aqueles em que a orientação foi perfeita, tanto é que até hoje permanecem em sua ocupação. Para todo o restante, como eu, a psicóloga ou "errou feio" em suas análises ou mais nos confundiu do que nos ajudou por conta dos resultados.
Como é de se esperar, eu estava entre esses alunos e - pelo fato de nós duas desconhecermos o perfil multipotencial e da psicóloga seguir sempre a mesma metodologia e se basear em uma carreira linear e convencional esperada pela maioria das empresas - tive o processo mais demorado de toda a turma! Foram inúmeras as conversas e vezes em que refiz os testes para tentar encontrar uma direção porque meus resultados se enquadravam em ocupações totalmente diferentes, opostas ou inimagináveis.
Eu era zero à esquerda em Matemática e História! Com muito custo, apoio escolar e estudo, consegui entender e aprender, mas nem mesmo assim nunca foi meu forte. Era mediana em Geografia, Química e Física até que com os professores certos e pela minha curiosidade nas disciplinas eu pude alcançar boas notas e grandes feitos em alguns vestibulares! Porém, com o autoconhecimento e o tempo, eu sabia que meus maiores atributos e minhas melhores notas estavam nas Artes, na Biologia, Língua Inglesa, no Português e na Literatura!
Nem o estímulo em casa com os rolos de papeis e os livros, nem a curiosidade que me fazia estudar pequenos animais no telescópio do meu irmão, nem o gosto peculiar e precoce pelo estudo de idiomas foram capazes de me mostrar o caminho naquele momento de decisão. Muito menos a vontade louca de aprender e trabalhar em Cinema ou em profissões ligadas ao Design por curiosidade ou vocação. Quantas paixões para eu ter que escolher somente uma entre elas e para levar para o resto da vida!
Para quem quer compreender um pouco mais e não viu o último artigo da newsletter, segue abaixo o link para dar uma espiadinha e entender o que se passa na mente multipotencial desde cedo!
Com relação ao momento da escolha da carreira, eu ainda tive como resultado Arquitetura e Engenharia Civil, o que me parecia mais absurdo, já que eu costumava errar alguns resultados de cálculos por bobeira e, por isso mesmo, ri muito em família e entre amigos! Imagina por uma diferença de cálculo, ainda que pequena, construir um prédio torto ou que poderia desabar a qualquer momento... que medo, não é mesmo?! Decididamente, não tive segurança para optar por nenhuma delas exatamente por isso (risos).
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No último ano do colegial, fui questionada, como todos da minha turma foram, sobre nossas pretensões quanto a salários, cargos e qual empresa/tipo de empresa era o nosso sonho, o que me deixava mais angustiada ainda porque, assim como não tinha uma resposta única e certeira com a escolha profissional, também não fazia a mínima ideia com relação a isso. A impressão que eu passava para muitos era a de que eu era burra, não tinha ambições, não queria fazer nada ou que teria muitas dificuldades para ir longe na carreira.
A verdade é que nós, multipotenciais, estamos constantemente querendo fazer algo diferente a todo momento e, com isso, reorganizamos ou mudamos nossos planos sem visar algo permanente necessariamente. Então, quando ingressamos em uma instituição de ensino ou empresa, não temos amarras nem trabalhamos de forma alienada. A zona de conforto não é o nosso lugar. Buscamos sair do nosso setor para nos relacionarmos com os outros setores e para nos sentirmos parte da equipe e de toda a organização.
Minha mãe me "chutou de casa" para eu crescer nos estudos e ter melhores oportunidades de emprego na capital São Paulo - nasci e morei no interior do estado por 18 anos. O que não sabíamos é que, na minha jornada na cidade grande, eu teria muita dificuldade e sofreria com a incompreensão sobre a minha personalidade profissional. O mercado de trabalho várias vezes me vê como uma pessoa perdida, sem objetivos claros e definidos ou em transição de carreira.
Minha vocação e meu amor pela escrita e leitura me levou à área de Comunicação. De longe é nela em que me sinto mais à vontade, onde meu perfil e meu comportamento se encontraram, são aceitos e menos discriminados, apesar das poucas oportunidades de emprego que tive por não ter contatos que pudessem me inserir no mercado. Tive grandes pausas, no caminho como Comunicadora, e responsabilidades que me empurraram para pequenos trabalhos na Moda que acabaram por me reconhecer e me destacar!
Uma habilidade desconhecida que me fez passear por várias classes da sociedade e vários ambientes, conquistando ótimos contatos e, inclusive, transitando por grandes eventos, criando meu networking e sendo vista. Isso foi acontecendo enquanto eu aprendia Recursos Humanos na faculdade, tentando me fixar em algo por necessidade, mas com o coração ainda aberto para estas outras áreas! Sem querer, aprendi e acabei por descobrir um feeling e uma habilidade muito natural para cargos dentro da Gestão de Pessoas.
Passei por instituições de ensino e organizações com metodologias e mindsets modernos e de sucesso, nas quais pude me desenvolver e me afirmar como eu realmente era, estando com pessoas e em espaços livres de julgamentos e abertos às diferenças. Meu coração disparava em alegria e meus olhos enfim brilhavam porque me sentia acolhida e estava realmente sendo desejada pelo mercado pela minha natureza e pelas minhas capacidades distintas adquiridas!
Quanto mais fui me inserindo no mundo dos negócios, através de minhas experiências e contatos tanto acadêmicos quanto profissionais, mais segura, confiante e menos limitada me via! O empreendedorismo com frequência me chamava. O medo da instabilidade era grande, mas a sensação que me subia à cabeça era muito boa. Acabei me rendendo e me entregando de corpo e alma. Só pensava nas inúmeras portas abertas a serem exploradas - virando meu lema.
A visão para o inexplorado e sobre as minhas capacidades mais a adrenalina boa que percorria nas minhas veias foram alguns dos sinais mais claros que me fizeram compreender que eu era multipotencial. Sem rédeas, venho conseguindo afrouxar uma pressão que, sem saber, eu sentia por ser diferente e destoar como muitos do padrão da sociedade, de alguns espaços empregatícios e acadêmicos.
Sou multi como muitos por aí que ainda não se descobriram ou por barreiras de acesso não conseguimos nos encontrar e nos comunicar! Precisamos de acesso e diálogos para que possamos levar descobertas, indignações e insatisfações como as minhas para todos os ambientes para ficarmos mais visíveis, para abrirmos e transformamos os espaços. Afinal, o mundo também é nosso!