O MUNICÍPIO E A SUA PROLIFERAÇÃO NO PAÍS
O município brasileiro atual, que é a menor unidade político-administrativa existente no país, estando hierarquicamente abaixo da União e dos Estados membros, já existiam desde a época do Brasil colônia, isto porque as Ordenações Afonsinas, Manuelinas e Filipinas, quem regendo Portugal, regeram também o Brasil desde o seu descobrimento até a independência, utilizando o mesmo modelo municipal lusitano, como as mesmas atribuições políticas, administrativas e judiciais. O modelo foi utilizado na primeira Vila brasileira, a de São Vicente, em 1532, que tinha na sua composição as seguintes autoridades: Um Presidente, três vereadores, um procurador, dois almotacés, um escrivão, um Juiz de Fora vitalício e dois Juízes Comuns, eleitos com os vereadores.
Nessa época, mais do que hoje, os municípios ficavam praticamente subjugados a um poder centralizador, o das Capitanias, mas, desde aquela época já buscavam uma maior independência e autonomia. Mesmo nessa época, apoiados pela Igreja, conseguiram algumas vitórias, desafiando a Coroa, como o caso da criação de novas vilas, sem a autorização real, através da força e da determinação do povo. Essa autonomia política e administrativa só veio mesmo consolidar com a Constituição de 1988.
O município só possui dois poderes: O Legislativo e o Executivo. O Poder Legislativo é composto pela Câmara de Vereadores, eleitos pelo povo para um mandato de quatro anos, variando o seu número, conforme a população. O Poder Executivo é representado pela Prefeitura, que vem do latim “praefectura” que era uma circuscrição territorial comandada pelo Chefe do Poder Executivo, o Prefeito, e dividida em secretarias de governo. Geralmente o município é composto de uma cidade, sua sede e vizinhanças rurais, mas pode também ser representado por vários núcleos urbanos dentro do mesmo território municipal. A subdivisão política do município, são os distritos. É também a cidade sede dividida em bairros. Nas grandes cidades pode haver sub-prefeituras, descentralizando a administração no dia a dia, no entanto, o poder político é exclusivamente do Prefeito, sendo todos os outros auxiliares, cargos de confiança indicado pelo Prefeito.
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Talvez por essa característica simplística, mas ao mesmo tempo, que exerce enorme fascínio, cada vez mais estão aparecendo novos municípios, principalmente após a promulgação da Constituição de 1988, mas o aumento efetivo vem de longe, e podemos verificar tudo isso se lembrarmos que em 1940, existia no país 1574 municípios; em 1950, 1889; em 1960, 2766; em 1970, 3952; em 1980, 3974; em 1990, 4.491; em 2000, 5560 e em 2006, 5.575 municípios, sendo que em Minas Gerais, o estado com o maior número de municípios, tem 853. Pode-se verificar que de 1990 a 2006 foram criados 1084 municípios. Talvez não se apresenta como um número exagerado se não levarmos em conta que cada um desses municípios é dotado de Prefeitura, Secretarias, funcionários públicos, câmara municipal, vereadores, etc., e tudo é custo para o bolso do povo.
Essa proliferação desmedida de municípios no Brasil, leva a uma triste realidade, o aumento das favelas, que hoje já são mais de vinte mil favelas, com quase três milhões de domicílios, vivendo precariamente, em barracos, mocambos, palafitas ou assemelhados.
A pergunta que se faz é: O que poderia estar provocando esse surto de novas prefeituras e câmaras municipais espalhadas pelo país? O jornalista Eduardo Giannetti tem uma visão a respeito, para ele “ a razão é simples e pode ser decomposta em dois elementos básicos: o sonho (fator motivacional) e a carniça (fator institucional) ”. Para o colunista paulista, o sonho de viver na flauta, colhendo sem plantar nem precisar saber de onde veio o fruto é um anseio universal do animal humano, já a carniça, são todas as transferências intragovernamentais obrigatórias, como o Fundo de Participação dos Municípios, que é a maior fonte de recurso dos municípios, notadamente dos municípios novos, ainda sem estrutura e capacidade de gerar nem mesmo seus próprios tributos. É uma realidade preocupante para um país que ainda não conseguiu sair do estágio de país emergente ou de terceiro mundo.