O narcisismo nosso de cada dia
Esses dias li uma história muito potente sobre um jovem monge que se achava melhor do que todos os seus colegas. Ele vivia se gabando das suas ditas conquistas espirituais e se achava um expert em meditação. Basicamente, vivia querendo reconhecimento e validação. O típico "cara chato".
Um dia, seu orientador o levou para uma sessão de meditação no meio da floresta e lhe pediu para prestar atenção aos sons ao seu redor.
Uma hora, o monge perguntou: "o que você está ouvindo?", e o jovem respondeu: "o canto dos pássaros, o vento nas árvores e a água correndo pelo rio".
O monge então lhe deu um belo tapa na cara. Sorriu e disse: “esses sons não se preocupam com o seu conhecimento ou as suas conquistas. Eles simplesmente existem. A prática não é sobre ser melhor do que os outros, mas sobre estar presente e em paz”.
Essa história ficou na minha cabeça, e coincidentemente dias depois recebi um convite da Editora Sextante para ler um livro que tinha tudo a ver com o tema: narcisismo. Ele se chama "Como se libertar de um narcisista", da psicóloga Sarah Davies.
Li o livro e depois fiquei pensando que na verdade a moral da história do jovem monge choca porque não tem nada de diferente do que a gente vê todo dia não só nos outros, mas em nós mesmos. O desejo por validação, o olhar excessivo para o próprio umbigo e a cegueira que daí decorre.
Todo mundo já mentiu, já manipulou e já controlou alguém pra conseguir algo para si mesmo. E olha que a fofoca não precisa ser gigante, sabe? Às vezes é um causo pequeno do dia-a-dia que a gente mal nota.
Muita gente usa a palavra narcisismo pra ofender alguém, do tipo "você é um narcisista sem vergonha!", mas mal sabe que o narcisismo é um espectro. Tem quem de fato tenha um transtorno de personalidade mais agravado, mas muitos tem apenas traços narcísicos que hora se afloram mais, hora menos.
Sejamos honestos, né? É impossível isso não ser assim se todos os dias somos estimulados a buscar a melhor versão de nós mesmos no trabalho, na família e na roda de bar com os amigos. Todo mundo precisa ser interessante, inteligente e foda o tempo todo. É exaustivo pensar o tempo todo em si próprio, mas não é exatamente isso o que tanto nos vendem?
Gosto de pensar que, antes de sair metendo o dedo na cara de alguém e chamar essa pessoa de narcisista, precisamos olhar para nós mesmos, por mais irônico que pareça.
É fácil julgar o outro e sair correndo, mas não podemos fazer isso com nós mesmos. Não dá pra falar "putz, eu tenho mesmo alguns traços narcísicos aqui e ali" e sair correndo do próprio corpo.
Esse olhar crítico para dentro de si é muito mais difícil do que parece, porque nem sempre conseguimos enxergar nossos traços tóxicos ou egoístas. Podemos ser muito autocríticos para aquilo que nos interessa olhar, mas negligentes com aquilo que não nos chama atenção. Então por mais que você possa ser muito crítico com seu próprio trabalho ou seu desempenho em algum hobby, pode nem notar que possui alguns traços narcísicos que afetam os outros ao seu redor.
No trabalho é fácil: basta pedir um feedback sincero de pares, liderados e líderes. Na vida pessoal, se estiver cercado de bons amigos e parceiros, pode fazer o mesmo. E consigo mesmo ou com seu terapeuta, pode agregar todos esses pontos de vista com o seu próprio.
Tudo para responder a duas simples perguntas: quão Narciso estou sendo no dia-a-dia? Como isso afeta as pessoas ao meu redor?
Já parou pra pensar sobre essas perguntas?
Se você gostou desse post e quer aprender mais sobre o narcisismo, recomendo a leitura do livro "Como se libertar de um narcisista", da Dra. Sarah Davies.
Esse é um #publipost que certamente vai fazer você parar de chamar qualquer um de narcisista.
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Doutora em Linguagens. Criadora da Às de copas Tarot Autoconhecimento.
3 mDesejar holofotes e reconhecimento é natural em todo ser humano. E naturalmente acontece no ambiente de trabalho. Já o narcisista no sentido de transtorno mesmo é algo muito complicado, difícil de ser detectado como algo além de uma vaidade, mas imensamente pior do que um desejo de ser o centro do mundo. As vítimas dos narcisistas reais acabam destroçadas porque eles são algozes torturadores e vampiros energéticos ao mesmo tempo. A sociedade precisa avançar muito ainda na compreensão disso. Geralmente o narcisista não vai entender nem o monge que o educa e nem a pessoa que o apontar de narcisista. São de pouca reflexão. Na prática, os percebi mais em famílias do que em empresas. Mas a nossa sociedade como um todo tem muitos hábitos narcisistas, como o que vemos nos comentários de famosos "você está gorda"; "você está velha"; você isso, você aquilo, como se o outro tivesse que se enquadrar nos padrões de verdadeiros estranhos. A educação que o monge proporciona na história realmente coloca muita coisa no devido lugar. Mas como canta Caetano "narciso acha feio o que não é espelho". Ótima reflexão para nossos ambientes todos. Gratidão 🌷 Precisamos falar sobre isso. 🙏🏻
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4 m@
Diretor de Vendas na LivePerson | PhD em Ciências | Estudante de Psicologia | Esgrimista Veterano da Seleção Brasileira | Leia o perfil para conhecer mais
4 mSeu texto está incrível, Bell Lopes! Já vou adicionar o livro à minha lista de leitura. Embora eu não conheça nada sobre narcisismo (sabendo que eu sou narcisista em certo grau - minha foto do perfil não me deixa mentir sobre isso 😬), me parece que por sermos animais sociais, de certa maneira nos vemos aos olhos dos outros. Ou seja, nossa identidade depende de como nos veem (especialmente nesse mundo de mídias digitais) e dos feedbacks que recebemos. Enfim, obrigado por abrir a caixinha de Pandora do Narcisismo 🫣
Senior AppSec Analyst @ Global Hitss
4 mDe fato a frase "quao narcisista fulano é" é completamente inútil, me parece que ela pode ter a intencao de fazer o narcisista se enxergar e/ou fazer uma autodeflexao, mas se a pessoa for de fato narcisista ela nao vai fazer isso, entao é inutil. E claro, se vc ja se permitiu mergulhar pra dentro de si mesmo e enxergar todo seu lixo emocional e tb suas qualidades e perceber que vc é um ser complexo e que isso pode ser mt desconfortavel inicialmente, apos esse desconforto a sensacao de paz interior vai te abraçar, vc nao vai precisar busca-la, ela virá até vc Uma vez que vc a encontrou e percebeu seu valor, ela irá se tornar cada mais inegociavel pra vc, a partir daí, ao perceber algo que tira sua paz, vc só se afasta sem dizer nada, e vai perceber que acusar alguem de ser narcisista ou se envolver com ele de qqr forma, vai tirar a sua paz, e vc vai se tornar um pouco mais parecido com o narc, estará experimentando o seu veneno, e o narc obviamente sentirá o sabor de ter tirado sua paz, qqr envolvimento com o narc tem um unico objetivo, tirar a sua paz. No final essa acusacao só mostra que a vitima foi fisgada pelo narc, mas tudo bem, nao tem problema ser fisgado, desde que reconheça o erro, e da proxima vez escolha a paz
Gerente, Coordenador, Gestão de Ativos, Operação e Manutenção, Hidrelétrica, Energia Renovável,
4 mQue texto bacana, nos permite fazer boas reflexões. Tratar nossos erros sempre será desafiante.