O Narcisista
Qual a relação da vaidade com o desenvolvimento da inteligência social para o gerenciamento das emoções – pessoais e alheias?
“Os infinitamente pequenos têm um orgulho infinitamente grande.” - Voltaire
“Espelho, espelho meu, existe alguém mais belo do que eu?” Esta icônica indagação da madrasta má da Branca de Neve sintetiza o comportamento do narcisista, aquela pessoa que está sempre superestimando as próprias qualidades e conquistas. Claro que um pouco de autoconfiança não faz mal a ninguém, mas quem não tem raiva daquele colega de trabalho que “se acha”?
Cumprimentar o porteiro nem passa pela cabeça do narcisista e ouvir não é seu forte, a não ser que esteja liderando uma equipe. Nesse caso, escuta atentamente, identifica a melhor ideia e a passa adiante como se fosse sua. Se funcionar, o mérito é todo dele; se der errado, não falta quem culpar.
Marqueteiro nato, ninguém vende tão bem o próprio peixe quanto o narcisista. Ao apresentar um projeto, convence facilmente os ouvintes de que a sua é a “ideia do século” e que só ele consegue realizá-la, enquanto menospreza grosseiramente as propostas e contribuições dos demais, principalmente quando os outros recebem elogios ou reconhecimento pelo que fizeram.
No campo amoroso, esbanja um currículo invejável de conquistas – seus ex-namorados (as), porém, cansam de ser desvalorizados, enquanto o narcisista simplesmente afirma que não sabem aproveitar a grande oportunidade de conviver com alguém tão especial.
Há ainda aquela pessoa que “se acha” por medo de perder o emprego.
É o sujeito que ocupa um alto cargo mesmo sem ter a qualidade para isso, sabe que é uma farsa, mas não se esforça para melhorar, tentando a todo custo cobrir sua inaptidão com autoelogios.
Caçador de admiração, o narcisista está o tempo inteiro se vangloriando do que fez – e, mais comumente, do que imagina ter feito. Seu currículo narrado é sempre muito melhor do que o real, já que qualquer pequena realização transforma-se em uma vitória épica em seu discurso prepotente.
“Narciso acha feio o que não é espelho”, diz Caetano Veloso na canção “Sampa”. Por não conseguir enxergar nenhuma virtude além do próprio nariz, o narcisista costuma ser invejoso e ainda se queixa de ser alvo de inveja. Seu bordão é: “Sou a prioridade número um, número 2, número 3 e número 4”, deixando talvez o quinto lugar para o pai, a mãe, o filho ou alguém que considere uma extensão de si mesmo.
Pessoas tão despreparadas quanto o próprio narcisista normalmente são convencidas pela sua estratégia da “mentira dita mil vezes torna-se verdade”.
Elas ficam fascinadas pelo narcisista e tornam-se presas fáceis para a conquista e posterior descarte. No entanto, nem todos são enganados com tamanha facilidade e, quando ele percebe isso, concentra-se em “puxar o tapete” de quem não caiu na armadilha.
Trata-se de um paradoxo, já que essa pessoa tão exibida geralmente assume tal comportamento exatamente por não acreditar em si mesma e sentir que precisa se afirmar o tempo todo.
Assim, apesar da fachada luminosa, indivíduos narcisistas são extremamente sensíveis a críticas e insucessos, que geralmente só aumentam suas demonstrações de arrogância.
A Associação Americana de Psiquiatria aponta oito características que devem ser consideradas para o diagnóstico de narcisismo (APA, 2011):
· Crença de ser alguém único e especial;
· Demanda excessiva por atenção;
· Sensação grandiosa quanto à própria importância;
· Fantasias de sucesso ilimitado na vida pessoal e profissional;
· Certeza de possuir direitos exclusivos;
· Pouca ou nenhuma empatia;
· Tendência a ser explorador nas relações interpessoais;
· Propensão a ser invejoso e sentir-se alvo de inveja.
Essa pessoa deseja acima de tudo reconhecimento e elogios, mas estes devem ser dados apenas quando merecidos. Já as críticas devem ser realizadas com delicadeza, mas também com honestidade. É necessário fazer o narcisista sentir que não é ele quem está sendo questionado como indivíduo, mas sim suas atitudes.
Se for seu chefe, a situação pode facilmente evoluir para exploração e abuso extremos, representando assédio moral no trabalho. Nesse caso, tente ser gentil e opte pela invisibilidade, tratando-o como um personagem que demonstra força, mas oculta uma imensa fragilidade. Não alimente expectativas de reconhecimento ou valorização e, se precisar convencer o narcisista a cooperar em alguma tarefa, enfatize que o resultado será benéfico para ele.
E você, quem é?
O autoconhecimento é a principal chave para aprimorar sua autoconfiança e evoluir para responder com mais precisão a esta pergunta. Até certo grau, a maioria das pessoas tem um pouco de cada característica abordada, alguns mais e outros menos. Esses traços psicológicos integram nosso caráter evolutivo, pois nossos ancestrais lançaram mão de todos esses comportamentos para sobreviver. Atualmente, a medida certa parece ser aquela que não provoca danos – aos outros e a si mesmo.
Enquanto a maioria das empresas testa mil estratégias diferentes para reduzir o turnover e aumentar a retenção de bons profissionais, uma abordagem tão simples quanto efetiva é frequentemente esquecida: fomentar o tipo de lealdade que se desenvolve entre um funcionário e outro. É o que mantém as pessoas felizes em seus empregos – e isso transcende os negócios.
No caso do Narcisista, fica claro que, especialmente na posição de liderança, ele, sua equipe e a própria organização em muito se beneficiarão se houver o desenvolvimento de sua Inteligência Emocional e todas as subescalas que a compreendem.
O time, por sua vez, ao ter clareza e consciência de conceitos como autopercepção, empatia, autoexpressão, autoestima, entre outros, em muito contribuirão para o amadurecimento do seu líder.
Foi pensando nisso, que a Fellipelli desenhou a Jornada do Equilíbrio, com o inventário EQ-i 2.0® iniciando o processo de Coaching e o Projeto Emotions , para desenvolver líder e liderados. Consulte-nos!
Referências bibliográficas
· American Psychological Association, 2011. Narcissism and the DSM. Acesso em: 29/08/2020.
Wellington
8 mFantástico conteúdo!!!
Personal Coach
4 aExcelente!
Coach Executiva PCC, Professora, Learning & Development Manager
4 aExcelente artigo! As pessoas e organizações estão adoecendo e é nosso dever zelar por ambientes mais saudáveis!!
ESCRITOR — romancista, poeta e editor. Executivo aposentado da Gillete Co.
4 aEscrevi um artigo sobre saúde laboral aqui no LinkedIn e como venho de uma carreira internacional, foi inevitável comparar a evolução dos modelos de gestão com a evolução das doenças funcionais. Estou convencido que muitos fundadores de empresas bem sucedidas não aguentariam trabalhar sob comando dos executivos que contratam para comandar seus empregados.
Redatora de conteúdo em Fellipelli Consultoria Organizacional, Capitalismo Consciente Brasil e Pearson Brasil
4 aArtigo sensacional! Obrigada!