O negócio é desapegar

O negócio é desapegar

Conheça a história do médico e surfista Marco Aurélio Raymundo, o Morongo, que transformou a Mormaii em uma empresa avaliada em R$ 1 bilhão e que, para continuar crescendo, decidiu repartir tudo com seus funcionários

Hugo Cilo

O empresário gaúcho Marco Aurélio Raymundo, mais conhecido como Morongo, personifica todas as características opostas ao de um empresário de sucesso – exceto pelo sucesso. Veste a primeira roupa que aparece na frente, sem se importar se a camisa é listrada e o short de bolinha. Nunca teve um telefone celular, e não pretende comprar um. Não tem computador, sala própria ou escritório. Uma figura, digamos, que não passa despercebido na multidão. Médico por formação e surfista por paixão, se mudou de Porto Alegre para a pequena Garopaba, em Santa Catarina, na década de 1970, e criou por necessidade própria – para se proteger do frio enquanto pegava onda – a grife de artigos para surfe Mormaii. Mas sua biografia, de empreendedor que começou do zero e construiu uma grande empresa, não seria muito diferente da história de outros nomes do meio corporativo se não fosse outro exótico detalhe: ele está doando a Mormaii, avaliada em R$ 1 bilhão pelo BTG, a alguns de seus funcionários. “Não quero nada para mim. Não vou levar nada”, diz Morongo, hoje com “sessenta e poucos” anos.  “Vou passar 100% das empresas aos funcionários e ficar com uma ‘beirada’ em royalties da marca, morô?”, acrescentou o empresário, conhecido pela generosidade e pelo vocabulário, geralmente, proibido para menores.

 Sob a ótica dos negócios, a iniciativa de Morongo é, de fato, curiosa. A Mormaii vai faturar cerca de R$ 350 milhões neste ano, cifra semelhante à contabilizada em 2015. A marca está nas vitrines de 70 países, estampada em mais de 6,5 mil produtos, desde escovas de dente e bicicletas até coleiras para cachorro. Atualmente são 43 empresas licenciadas. Então, fica fácil entender porque a Mormaii tem despertado o interesse de investidores. Assim como o BTG, o banco J.P Morgan chegou a propor a compra do controle da empresa, deixando a Morongo uma fatia no capital e um assento no conselho de administração. “Fiquei honrado com as propostas, mas não posso aceitar que uma gestão financista assuma e Mormaii e destrua a alma da empresa, morô?”, diz o empresário. “Além disso, eu teria que morar em Nova York. Não quero viver naquela cidade.”

 O estilo peculiar de executar sua sucessão na Mormaii está agradando, evidentemente, seus funcionários mais próximos. Um dos que receberam a maior parte da Mormaii foi o catarinense Carlos Casagrande, 39 anos. Em 2012, Morongo transferiu para ele a fábrica de roupas de neoprene, aquelas que parecem borracha colada ao corpo, produto que mais identifica a Mormaii junto aos consumidores. A fábrica vendia R$ 10,5 milhões por ano. Passou a faturar R$ 24,5 milhões, dois anos depois. “A condição era dobrar a produção. Cumprimos o combinado”, disse Casagrande. “O aumento das vendas e do faturamento aconteceu depois de fazermos uma reestruturação nas operações e organizar a empresa.” Assim como faz Morongo, Casagrande incluiu outros funcionários como sócios, o que, segundo ele, aumentou o comprometimento e a produtividade.

Outro que recebeu doações de Morongo foi o designer paulistano Carlos Carpinelli, 41, surfista desde os 13 anos e que cuidava de departamento de marketing da empresa. Hoje, dentro dos portões da Mormaii, ele comanda a MXM, que se tornou a maior agência de publicidade de Santa Catarina, com 42 clientes. Junto com outros três sócios, além de desenvolver toda estratégia de propaganda da Mormaii, desde a criação de embalagens até campanhas que vão para a televisão, sites e revistas, atende aos franqueados, empresas licenciadas e clientes externos. “Agora, pensamos como empresa, não como funcionários que fazem parte de um departamento”, afirma Carpinelli. O executivo Robson Amorim, que comandava a divisão Mormaii Franchising, agora é dono da A33 Gestão de Franquias e Participações. Já a responsável pelo departamento de comércio exterior, Jacqueline Mendonça, é dona da Internation Bussiness Solution (IBS).

Como manda a cartilha dos desapegados, Morongo não revela em detalhes quanto recebe em royalties nem qual o tamanho de sua fortuna – embora seja possível imaginar pela mansão onde vive, seus três helicópteros particulares e pelo barco de 70 pés que dará volta ao mundo no ano que vem. Sabe-se, no entanto, que os licenciados pagam cerca de 6,5% das vendas ao empresário pelo uso da marca. Hoje em dia, as principais fontes de receita são pela a venda de chinelos (fabricados pela Grendene), relógios (Technos), óculos (JR-Adamver), bicicletas (Free Action) e roupas, que na última semana passou das mãos da catarinense Incobras, de Criciúma, para a conterrânea AMC, de Itajaí, dona de marcas como Colcci, Forum, Triton e Tufi Duek. Além dos royaties, Morongo ainda detém participação entre 5%, como a fábrica de óculos, e 25%, na agência MXM. Nos próximos anos, no entanto, ele pretende se desfazer de tudo. Tudo, não. “Só quero ter a marca. O resto, pode levar, morô?”

Cassio Souza

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8 a

Empowerment fantástico !

Muito bom Hugo. Acompanhamos de perto as matérias de vocês aqui na agência. É uma verdadeira aula de empreendedorismo. Parabéns!

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