O público, o privado e o atentado contra a democracia em Brasília.
Um texto para quem não gosta do governo federal e busca negócios no Linkedin
Trabalho no meu escritório com áreas ditas privadas: imóveis, contratos, famílias e sucessões. E evitaria aqui (apenas aqui) me posicionar sobre política, mantidas circunstâncias toleráveis de estabilidade democrática. No entanto, diante dos crimes inéditos consumados na data de ontem contra o Estado Democrático de Direito, que vinham sendo gestados desde outubro/2022, quero me dirigir a todas as pessoas que estão no Linkedin, em busca de divulgação do seu trabalho, negócios e conexões ou de emprego. Em especial, quero me dirigir a quem não votou na Frente Ampla, encabeçada pelo PT, e está descontente com o resultado da eleição.
Façam uma pausa, por favor, para refletir sobre a relação entre o público (a estabilidade das instituições que regem a vida comum) e o privado (nossa vida familiar, nossos interesses, negócios e projetos particulares). Essa divisão entre público e privado tem limites evidentes.
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O preço de um imóvel urbano, por exemplo, não é definido apenas pela sua área, vista e organização condominial (questões privadas), mas em grande medida pelo acesso a bens e serviços públicos e pela segurança do bairro em que se encontra (questões públicas).
Ah... mas e o divórcio? Não é o exemplo de algo eminentemente privado? Não. Um dos argumentos mais importantes em favor do divórcio, desde quando ainda não era aceito, é de que a felicidade na esfera privada da vida é importante para o convívio social (esfera pública): pessoas enclausuradas em casamentos que não desejam mais tenderiam à infelicidade – e isso repercute na forma como se conduzem socialmente. Um argumento semelhante se estende para o reconhecimento de outros tipos de famílias: promover a felicidade privada também é importante para esfera pública. O caso não muda, tenham certeza, com a divulgação, os negócios e as conexões que pretendemos fazer aqui. Parecem questões apenas privadas, relativas a um encontro de interesses. Não são.
Até há quem especule com a instabilidade das instituições democráticas. Mas nós que estamos construindo dia a dia, pelo trabalho, o sustento e a prosperidade dependemos da estabilidade democrática. Por um lado, a instabilidade gera desconfiança e sem confiança o mercado se retrai. Por outro, a grave instabilidade institucional em escala, que estamos vivenciando, exige que governos federais e estaduais voltem boa parte do orçamento e de sua atenção para a área de segurança e inteligência, em vez de fomentar o mercado. A mídia, cumprindo seu papel e aproveitando a audiência inflada, ficará repercutindo fatos como o de ontem, reações e desdobramentos, enquanto o golpismo não cessar. O espaço que sobra para entreter e promover a cultura no nosso momento de descanso e para auxiliar a retomada econômica, depois das eleições, acaba muito reduzido.
Na democracia, há um espaço reservado e necessário para a oposição, oposição dura e persistente. O golpismo e o terrorismo institucional são outra coisa: crimes intoleráveis, previstos no Código Penal (art. 359, L e M). Saibamos todos fazer a escolha certa.