O Papel das Empresas no Campo Político

O Papel das Empresas no Campo Político

Ontem, 06/10/2024, tivemos eleições municipais – prefeitos e vereadores – no Brasil. Gostaria de colocar aqui um texto, não usual, sobre o Papel das Empresas no Campo Político. Será que ele deve existir? Na minha opinião sim. Veja os argumentos.

☑ Argumentos:

Historicamente, o papel das empresas no contexto político sempre foi uma questão de grande debate. Afinal, qual deve ser o limite de atuação das corporações em uma esfera geralmente reservada à cidadania e ao Estado? Em tempos de polarização e crescentes desafios sociais, a resposta a essa pergunta se torna mais urgente e complexa. No entanto, uma abordagem provocativa e, ao mesmo tempo, ética pode revelar o papel decisivo que as empresas podem e devem desempenhar no campo político — não como agentes de ideologia, mas como catalisadoras de uma cidadania consciente e voltada para o bem comum.

☑ Empresas: Entidades Econômicas ou Agentes de Cidadania?

Muitas vezes, as corporações são vistas apenas como entidades econômicas, cujo objetivo final é o lucro. No entanto, à medida que essas organizações crescem e ampliam sua influência, a responsabilidade social torna-se uma demanda inevitável. No século XXI, não se espera mais que as empresas se limitem à produção de bens e serviços; a sociedade exige que elas assumam um papel mais ativo no desenvolvimento social e, consequentemente, político.

A primeira provocação, então, reside na seguinte questão: as empresas podem ser, de fato, apolíticas? Em um mundo onde decisões econômicas afetam diretamente o bem-estar da sociedade, é impossível ignorar o impacto político das corporações. Ao escolherem investir em determinadas áreas, apoiar ou rejeitar políticas ambientais, promover igualdade de gênero ou desenvolver programas educacionais, as empresas já estão, mesmo que de forma indireta, tomando posicionamentos que transcendem o campo econômico e adentram o campo político.

A empresa Patagonia, por exemplo, se posiciona de maneira clara em relação a questões ambientais, promovendo iniciativas de educação cívica entre seus colaboradores e incentivando o voto. Essa prática pode ser vista como um movimento político, mas, mais profundamente, trata-se de um posicionamento ético, no qual o bem comum é colocado como princípio central. Ainda assim, o risco de ser percebida como ideológica é evidente. Como evitar que essa percepção contamine o propósito genuíno de uma educação cívica?

☑ Educação Cívica ou Ativismo Corporativo?

Quando falamos de empresas que politizam seus colaboradores, a linha entre educação cívica e ativismo corporativo pode ser tênue. A Salesforce, por exemplo, não promove diretamente uma agenda política partidária, mas incentiva seus funcionários a participarem de iniciativas de voluntariado e desenvolvimento comunitário, ações que, por si só, envolvem um grau de politização. Da mesma forma, a Ben & Jerry’s se engaja abertamente em questões de justiça social, muitas vezes incentivando seus colaboradores a participarem ativamente de campanhas públicas.

A crítica inevitável que surge é a seguinte: até que ponto as empresas podem promover uma educação cívica sem influenciar ideologicamente seus colaboradores?

Afinal, a política envolve escolhas, e a educação sobre essas escolhas pode facilmente se transformar em doutrinação. A resposta pode estar no compromisso com a ética, e não com a política em si. Empresas como a Google e a Microsoft, por exemplo, têm focado em iniciativas que incentivam o pensamento crítico, a responsabilidade cidadã e a participação no processo eleitoral, sem defender explicitamente um lado do espectro político.

O objetivo dessas iniciativas não é guiar os colaboradores a uma ideologia específica, mas sim fomentar a consciência crítica e a capacidade de questionar, de entender o impacto de suas escolhas políticas e de se engajar de forma responsável na vida pública. O foco aqui não está no "certo ou errado" das políticas partidárias, mas no desenvolvimento de cidadãos capazes de agir com responsabilidade e ética.

☑ A Ética como Fundamento Político

Esse é o ponto crucial de uma atuação política responsável no contexto empresarial: a ética como o pilar de toda ideologia subjacente. Se as empresas forem capazes de estruturar seus programas de educação cívica com base em princípios éticos universais, como a busca pelo bem comum, a justiça e a liberdade, é possível evitar a armadilha da politização ideológica.

A Unilever e a Danone, com suas práticas voltadas para a sustentabilidade e o bem-estar social, oferecem bons exemplos de como a ética pode ser o fio condutor dessas iniciativas. Ao promoverem a sustentabilidade e o desenvolvimento comunitário, essas empresas incentivam seus colaboradores a pensarem de forma holística e crítica sobre o impacto de suas ações e escolhas, tanto pessoais quanto profissionais. Aqui, o foco é a criação de uma mentalidade que valorize o bem comum, sem direcionamento partidário.

Nesse sentido, a ética, e não uma ideologia específica, deve ser a base de qualquer iniciativa de politização dentro das empresas. Isso, por si só, já é uma provocação: não existe uma neutralidade total nas ações humanas, e até mesmo a escolha de não politizar já é uma decisão política. No entanto, ao adotar a ética como fundamento, é possível transcender as disputas ideológicas e focar na construção de uma cidadania ativa e responsável.

☑ Empresas como Catalisadoras de Cidadania

A provocação final está no papel que as empresas podem desempenhar na construção de uma sociedade mais justa e ética. É papel das corporações promover a cidadania? O que se observa nas empresas mais inovadoras do mundo é uma mudança de paradigma: de entidades exclusivamente voltadas para o lucro, para organizações que entendem que o desenvolvimento econômico deve caminhar lado a lado com o desenvolvimento social.

A educação política não precisa ser uma doutrinação ideológica, mas pode ser um convite ao questionamento, ao pensamento crítico e à responsabilidade social. Empresas como Patagonia, Salesforce, Google, Microsoft e Ben & Jerry's têm mostrado que é possível incentivar uma cidadania consciente e ética sem cair no campo nebuloso da ideologia partidária.

Ao promover a educação cívica com base em princípios éticos, as empresas podem desempenhar um papel fundamental na formação de cidadãos mais conscientes e engajados, prontos para contribuir de forma positiva para a sociedade. Se as empresas assumirem essa responsabilidade, não estarão apenas beneficiando seus colaboradores, mas também contribuindo para a construção de um futuro mais justo e ético para todos.

☑ Conclusão: A Ética como Norte

O papel das empresas no campo político é inevitável e, por isso, deve ser abordado com seriedade. O caminho não está em evitar a politização, mas em orientar essa politização para o bem comum, com a ética como princípio norteador. Isso implica educar, incentivar a participação cívica e promover o pensamento crítico, sempre com o cuidado de evitar o viés ideológico.

As empresas, ao adotar essa postura, podem se tornar verdadeiros agentes de transformação social, ajudando a construir uma sociedade mais justa, consciente e ética — uma sociedade onde a cidadania ativa é o verdadeiro motor de mudança.

E você? O que pensa disso?
Xiko Acis | Provocador sobre Ética e Moral
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Germano Julio Badi

Independent Consultant Board level, Company Culture, Business Ethics. talks about: #BusinessEthics #ESG/SDG #Sustainability/CSR #OrganizationCulture #Leadership #PeopleEmpowerment #DEI #StrategicPlanning

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Excelente reflexão Xiko Acis. É impossível uma empresa ser apolitica pois sua intervenção econômica ou não afeta a sociedade porém creio que a empresa deva ser apartidaria. Neste sentido concordo com a promoção, de forma neutra, da cidadania seja uma contribuição que as organizações podem dar para melhorar este comportamento tão esquecido e fora de moda atualmente.

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