O papel das mulheres na Cafeicultura
No CoffeeTec Informa desta vez, iremos abordar sobre o papel da mulher na cafeicultura. Atualmente, sabemos que as mulheres estão ocupando cada vez mais posições, que antes, não eram ocupados pelo sexo feminino e na cafeicultura não seria diferente.
Teremos a participação da Julenia Maria Lopes da Silva, que é cafeicultora em sua terra natal, Carangola-MG, também é líder na associação de agricultores familiares, Centro Comunitário Rural de Conceição (CCRC), e membro do IWCA (Aliança Internacional das Mulheres do Café).
Questionada sobre como fazermos para inserirmos mais a mulher na Cafeicultura, Julenia disse que: “é muito importante envolvê-las no processo do início ao fim. Da produção da planta à finalização da xícara. Quando há algum seminário, cursos etc; muitas mulheres deixam de ir porque não têm com quem deixar os filhos. A participação dos homens é maior nos eventos por serem mais livres destas responsabilidades. As políticas públicas poderiam ajudar criando mecanismos de apoio, creches, por exemplo. E também, na parte contábil, a receita poderia facilitar a participação da mulher. Se o marido tem o cartão de produtor, a mulher já não pode emitir notas fiscais em nome dela. Há firmas hoje que querem comprar café que passam por mãos de mulheres, mas elas são barradas na hora de emitir a nota. Se passar para o nome dela, o marido perde o cartão de produtor, o que entendo que eles não queiram.”
“A Aliança Internacional das Mulheres do Café - IWCA é uma organização sem fins lucrativos que foi criada em 2003 a partir do encontro de mulheres da indústria do café dos Estados Unidos com produtoras de café na Nicarágua. A metodologia da IWCA é o “success through localization”, quer dizer, através da criação de capítulos nos países produtores e consumidores. Atualmente existem capítulos em 22 países de todo o mundo e diversos outros já manifestaram a intenção de criar os seus”. Julenia como membra da IWCA, perguntamos como ela vê o papel da Aliança na vida das mulheres envolvidas, ela disse que: “vê a IWCA como uma grande sombrinha ou até mesmo uma galinha que tenta alcançar todas debaixo de suas asas poderosas”. Digo poderosas porque a mulher deixa de se sentir só. Ela se reconhece nos desafios que todas as outras têm e isso fortalece e empodera muito. Uma coisa é eu me apresentar como Julenia Lopes, cafeicultora, outra é Julenia Lopes, cafeicultora e membro da IWCA Brasil, sub-capítulo Matas de Minas. Dá para encher o peito de orgulho de pertencimento.
Ela nos contou também, como foi o processo de desenvolvimento do IWCA no Brasil, que em 2012, após quase dois anos de trabalho voluntário e de intensa mobilização, mulheres de diferentes regiões produtoras do país criaram a Aliança Internacional das Mulheres do Café - IWCA Brasil, no dia 6 de outubro, por ocasião do 7° Espaço Café Brasil, realizado em São Paulo, com o apoio do SEBRAE.” Com esse país de proporções continentais viu-se logo a necessidade de criar sub-capítulos para facilitar as ações. Matas de Minas e o Norte Pioneiro do Paraná foram os primeiros e logo outros foram seguindo.
Sabemos da realização dos concursos de qualidade voltados apenas para cafeicultoras na inserção e no reconhecimento das mulheres na cadeia cafeeira, Julenia relatou que, a questão do pertencimento, mulheres participando deste tipo de evento se fortalecem, sinto que não é uma concorrência de quem tem o café melhor, mas de sentir que tem muitas trabalhando em prol de um mesmo objetivo. Os concursos ajudam muito a alcançar visibilidade e assim melhor chance de comercialização por preços mais justos.
Nos últimos anos vem observando-se um crescimento das mulheres que gerenciam e são responsáveis por fazendas voltadas para a produção de soja, milho e algodão por exemplo. Na cadeia cafeeira também pode-se observar esse aumento, ela contou que existem inúmeros casos de mulheres que escolheram a cafeicultura como ramo, como também tem aquelas que caíram de paraquedas devido à herança ou doença dos homens da família. Simone Sampaio de Araponga é só um dos grandes exemplos, encarou uma mudança de vida ao herdar a fazenda do pai. Sarah Xavier de Santa Bárbara provou para o pai que era possível fazer café de qualidade e assumiu assim a fazenda, os exemplos seriam infindos. E fora da porteira temos provadoras e degustadoras de café, baristas, técnicas agrícolas, agrônomas, exportadoras, importadoras, muitas empreendedoras, enfim, em cada elo da cadeia.
E por fim, foi abordado como ocorre a participação das mulheres na cadeia cafeeira em outros países produtores, Julenia contou que graças à IWCA teve a possibilidade de ganhar bolsas para participar da maior feira de café do mundo, que é a SCAA (Special Coffee Association of America) em Seattle. Anos depois em Atlanta e ano passado no World of Coffee em Berlim, Alemanha. Nestes eventos conheci mulheres incríveis de vários países que me abriram os horizontes. Com 10 mil pés de café eu me considerava uma pequena cafeicultora e de repente me sento numa mesa com uma representante de Ruanda que diz que suas cooperadas têm em média 500 pés de café! Fiquei sem chão! Uma quebra de paradigmas! Foi muito bom ver mulheres representando grandes torrefadoras internacionais ocupando posições de diretoria, muitas baristas participando de competições, mulheres de todos os cantos e de proporções diferentes, de influência tendo o café em comum.
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Journalist - Political Communication MA
3 aInformação precisa e transmitida de forma objetiva e clara. Parabéns, Julênica e CoffeeTec. 👏
Engenheiro Agrônomo pela Universidade Federal de Viçosa | Assistente de Pesquisa na Multcrop Pesquisa & Desenvolvimento
3 aMuito bom, parabéns!
Graduando em Engenharia Florestal - UFV
3 aMuito legal!!!!
Ótimo conteúdo, Maria! 👏