O papel essencial da primeira infância na agenda ESG

O papel essencial da primeira infância na agenda ESG

A pauta ESG (environmental, social and governance) é um dos assuntos mais estudados no momento, transformando-se na régua que mede as práticas ambientais, sociais e de governança de uma empresa. O tema vem evoluindo a tempo no mercado – desde o século passado, na verdade. Nos anos 1950 e 1960, muitos investidores excluíam de seus horizontes corporações que não seguiam valores éticos e morais, como as empresas ligadas ao apartheid da África do Sul.

No final do século 20, o Índice Dow Jones de Sustentabilidade surgiu para mapear empresas com práticas sustentáveis em todo o planeta, o que inspirou bolsas de valores de diferentes países a criarem os próprios índices, sendo implementado, no Brasil, o Índice de Sustentabilidade Empresarial (ISE).

No entanto, o conceito ESG é mais recente, pegando carona em iniciativas como a do presidente da BlackRock, considerada a maior investidora mundial, que comunicou aos quatro cantos não colocar mais um centavo sequer nos setores que poluem o meio ambiente, especialmente com CO2.

Mas não é só isso: a sociedade também está amadurecendo e olhando para as marcas de forma bem mais seletiva do que há alguns anos. Uma pesquisa da Nielsen (2017) mostrou que 81% dos consumidores, no mundo, acreditam que é papel das empresas melhorar o meio ambiente, por exemplo. E isso não depende mais de quem é a culpa, todos temos responsabilidade por um planeta mais sustentável e consciente.

Mas vamos falar do Brasil

A agenda ESG começou a ter peso no nosso ecossistema de negócios, principalmente, depois da tragédia em Brumadinho (MG), em 2019. Mas seus parâmetros ainda estão se configurando, muitas vezes para atender exigências que já são regras lá fora e que orientam os investidores estrangeiros. No entanto, o mercado tem percebido movimentos para mudar esse cenário, ainda tímido. A corrupção (relacionada ao G, de governança), que era o foco de preocupação dos que investiam no Brasil, tem dado espaço também às questões ambientais e sociais. Segundo pesquisa realizada pelo Instituto CFA (Chartered Financial Analyst), até 2022, os temas dos escopos E e S estarão no mesmo nível de importância que as pautas de governança entre os brasileiros.

Por isso, as corporações que não se encaixarem nos critérios ESG sofrem o risco eminente de ficar para trás, perdendo muitos recursos advindos dos pequenos, médios e grandes investidores.

Por onde começar?

A empresa que pretende se comprometer e contribuir efetivamente com a agenda ESG pode avançar rápido adotando causas prioritárias e transversais para cumprir sua responsabilidade social. Ou seja, a causa é o combustível para fortalecer a pauta de dentro para fora da corporação. Por isso, ao responder “por onde começar?”, sugiro que seja pelo início, pelo começo de toda e qualquer existência humana: a primeira infância.

Mas por que as corporações devem implementar ações que priorizem gestantes e crianças até seis anos? Porque a ciência comprova que os primeiros anos de vida são essenciais para a formação do cérebro e, consequentemente, influenciam o

desenvolvimento de cada indivíduo, moldando o adulto que ele se tornará. Por isso, a primeira infância tem sido, cada vez mais, foco de políticas públicas e de iniciativas dentro e fora das empresas. É o investimento com mais retorno para uma sociedade.

E tem mais: para que os negócios perdurem é preciso garantir, também, a preservação da humanidade, o que significa dar condições para que as novas gerações se desenvolvam plenamente e possam vivenciar a fase adulta na sua plenitude, como cidadãos conscientes de seu papel na manutenção de um ecossistema integral, de relações saudáveis, em um ambiente inclusivo (S) gerido com base em valores e transparência (G) para construir um planeta sustentável e mais justo para todos e todas (E).

A primeira infância é o início, a base da sociedade e a causa-pilar para fomentar a agenda ESG a partir de uma visão que não se esgota no presente, mas, sobretudo, prevê frutos sólidos e perenes no médio e longo prazo.

Práticas que podem inspirar para avançar

Os índices ainda são baixos: somente 13% das empresas certificadas pelo Great Place to Work (GPTW) Brasil, em 2019, disseram ter implementado alguma prática de atenção à primeira infância. Ou seja, existe um amplo potencial de investimento a ser explorado para avançar na agenda ESG a partir dessa causa.

Mas a boa notícia é que, ao lado da Fundação Maria Cecília Souto Vidigal , a United Way Brasil realizou, em 2020, uma pesquisa que mapeou mais de 630 diferentes ações e políticas voltadas à primeira infância nas empresas sediadas no País. Percebemos, com esse resultado, que era preciso disseminar ideias e soluções para enriquecer esse escopo e ampliar a atuação das corporações em favor da causa, a fim de que avancem em suas jornadas pela fomentação da agenda ESG.

Após diferentes articulações, convidamos a Fundação Bernard Van Leer e a FEMSA, junto à Fundação Maria Cecilia Souto Vidigal, a realizarem conosco um amplo guia digital que acolha todas as iniciativas, além das centenas já captadas, a serem disponibilizadas para empresas de todos os portes, não só para se inspirarem, mas, também, registrarem na ferramenta as ações que realizam. Ou seja, nosso desejo é o de criar uma rede de boas práticas focadas na primeira infância. Além disso, estamos desenvolvendo uma estrutura de apoio às corporações que queiram implementar e sustentar suas políticas de primeira infância, por meio de uma consultoria especializada na ambiência corporativa.

Acredito que o lançamento da plataforma, no final de junho, é uma contribuição importante para nosso país avançar em duas frentes essenciais: uma forte e próspera base social (a primeira infância) e um Segundo Setor comprometido com a sustentabilidade do planeta, a partir de um ambiente inclusivo e uma governança eficiente, capazes de promover equidade e justiça ao futuro que estamos construindo, coletivamente.

Iniciativa maravilhosamente importante. Acredito que de fato só conseguiremos promover uma mudança real em nosso planeta a partir da EDUCAÇÃO que envolva práticas de sustentabilidade e ESG. Super apoio este trabalho. Parabéns !

Angela Dannemann

Founding Partner at ENI Consultoria

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Um belo artigo, apontando o caminho que nos leva a um país melhor! Parabéns Gabriella Bighetti - uma união importante.

Parabéns Gabi e United Way Brasil por levantar essa discussão tão importante que é a primeira infância e que faz toda a diferença no futuro de todos nós 👏👏👏

Juliana Nobre

Sustentabilidade | ESG | Estratégia & Inovação | Tecnologia | Conselheira

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Excelente a reflexão, Gabi! O olhar de longo prazo é fundamental para uma agenda ESG consistente e a primeira infância é muito estratégica para que sejamos bem sucedidos.

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