O pastor e as eleições
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O pastor e as eleições

Estamos em período de eleições municipais em nosso país. Recebi de um jovem pastor amigo, um pedido de ajuda que quero aqui chamar de:  "O pastor e as eleições" . Eis o pedido do jovem pastor: "Preciso de ajuda em uma questão ética: como pastor de uma igreja protestante, devo apoiar um candidato a vereador ou qualquer outro cargo político, de forma pública e explícita? O que me permitiria fazê-lo? O que não me permitiria? Quais são seus conselhos?

Uau! Esta é uma pauta indigesta, mas necessária. Carece de piedade e muita verdade bíblica para ser respondida com sabedoria e maturidade cristã.  Por quê? 

Bem,  esta é uma questão complexa e delicada que envolve considerações éticas, legais e religiosas. Vou apresentar alguns pontos importantes para sua reflexão:

  1. Separação Igreja-Estado: O Brasil é um estado laico, o que significa que deve haver uma separação entre religião e governo. Uso aqui o termo governo intencionalmente, pois o Estado nada tem a ver com política partidária ou preferências ideológicas. O governo deve ser servo do Estado. As ideologias divergem quanto às questões religiosas: se Deus existe ou não, se Deus são muitas formas de expressão da fé ou se é um Deus pessoal, enfim, o governo, que é exercido por pessoas, tem suas escolhas e preferências. O Estado não. O Estado é regulado pela expressão da vontade do Povo, manifesta em sua carta magna, sua Constituição. Assim como os governos não devem impor suas preferências ideológicas sobre o Povo, o líder religioso deve respeitar essa separação e evitar misturar debates religiosos/doutrinários com políticas partidárias. 
  2. Influência sobre os fieis: Como pastor, você tem uma posição de autoridade e influência sobre sua congregação, por isso sua palavra tem que ser muito bem pensada, moderada e pacificadora.Assim, apoiar publicamente um candidato pode ser visto como uma forma de pressão sobre os fiéis para votarem em alguém ou sinalizar preferência pessoal a um determinado  partido.
  3. Diversidade na congregação: Sua congregação provavelmente inclui pessoas com diferentes visões políticas, e devem ser respeitadas.Apoiar explicitamente um candidato pode alienar ou dividir membros da igreja, colocando-os em discussões infrutíferas e intermináveis.
  4. Liberdade de expressão: Como cidadão, você tem o direito à liberdade de expressão e de opinião política. Biblicamente falando, esta é a máxima do Direito Natural: a liberdade individual do ser humano, como um bem inalienável, dado por Deus.Por isso, esteja alerta! É  importante distinguir entre suas opiniões pessoais e seu papel como líder religioso, o que por si só, já é um exercício árduo e constante. 
  5. Legislação eleitoral: A legislação brasileira proíbe o uso de igrejas ou templos religiosos para propaganda eleitoral. Não faça da Casa de Deus (nosso Pai) uma casa de câmbio, nem um mercado. Isso inclui a promoção de candidatos durante cultos ou eventos religiosos, nas redes sociais em época de campanha.
  6. Princípios bíblicos: Muitos líderes religiosos argumentam que é papel do líder religioso guiar os fieis neste quesito, alegando o dever de orientar  princípios morais e éticos. Sim, isso é verdade. O que não é verdade, é influenciar ou manipular escolhas políticas específicas, em nome da fé. Sempre será mais apropriado ensinar valores e princípios bíblicos para que os fieis possam considerar ao tomar suas próprias decisões políticas.

Resumo:

1. Mantenha a neutralidade: Como líder religioso, é geralmente mais prudente manter uma postura neutra em relação a candidatos específicos.

2. Foque em princípios: Em vez de apoiar candidatos, concentre-se em discutir princípios éticos e morais que os fieis podem considerar ao votar.

3. Encoraje a participação cívica: Incentive sua congregação a se envolver no processo democrático, a se informar sobre os candidatos e a votar de acordo com sua consciência.

4. Separe o pessoal do profissional: Se você decidir apoiar um candidato, faça isso em sua capacidade pessoal, fora do contexto da igreja.

5. Respeite a diversidade: Lembre-se de que sua congregação pode ter opiniões políticas diversas e respeite essa pluralidade.

6. Consulte lideranças denominacionais: Verifique se sua denominação tem diretrizes específicas sobre envolvimento político de pastores.

7. Considere as consequências: Reflita sobre como um apoio público a um candidato pode afetar sua igreja e seu ministério a longo prazo.

Conclusão

Em última análise, a decisão de apoiar publicamente um candidato é pessoal e deve ser tomada após cuidadosa reflexão e oração. O mais importante é agir com integridade, respeitando tanto suas convicções religiosas quanto os princípios democráticos e a diversidade de sua congregação. No que depender de cada um de nós, sigamos a paz com todos! 

Paulo Falçarella é pastor associado na Igreja Batista do Povo há 24 anos. Membro da ORMIBAN - Matrícula 2322.  Tem 61 anos, é casado com Marília Falçarella há 38 anos, pai de Priscilla e Ricardo. É um dos fundadores  do Instituto Cristão de Ensino e Cultura, o INCEC, com sede em Vila Mariana, São Paulo, onde é o atual diretor presidente. 

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