O pior funcionário, como recuperar - caso real.

A prática leva a substituir maus funcionários por novos, sendo as vezes, a única solução. Porém teremos alguém novo no lugar de um funcionário experimentado. Por isso sempre e bom tentar recuperar o funcionário como primeira abordagem.

Nada melhor para testar esta teoria com o pior funcionário da empresa, se acertamos ele, acertaremos todos os outros.

A seguir, relato caso real onde apliquei este método, que fui aprimorando ao longo da vida profissional.

Cenário: fábrica de automóveis fora de série, 350 funcionários divididos em duas unidades: uma na capital com 230 homens e outra no interior a 120 km com 120 mulheres. Na unidade da capital 75 funcionários reparando 25 automóveis sinistrados diagnosticados em sua maior parte com perda total. Meu cargo: Diretor industrial.

Nosso funcionário, o pior dos 350, trabalhava no setor de reparações. Já tinham desistido dele seu líder, seu supervisor do setor, e o Gerente de produção, recomendando a sua substituição.

Optei entrar no meio disso sem involucrar ninguém. Depois do final do expediente, costumava percorrer a fábrica tentando adivinhar o que poderia falhar o dia seguinte e ver com meus olhos alguns resultados gerais. Observando o local de trabalho deste funcionário, percebi a maior bagunça: sujeira geral, ferramentas espalhadas, lâmpada falhando, tomada da extensão e pinos das ferramentas eléctricas fasquiadas, e portanto falhando, cabo do martelo solto, grampo enferrujado,...

Lavei as ferramentas e as coloquei no quadro, reparei a extensão, lixei os pinos das ferramentas eléctricas, reparei a lâmpada, acunhei o cabo do martelo fixando-o, lixei e lubrifiquei o grampo, barri o local, recolhi o lixo. Nada falei e ninguém me viu fazendo isso.

No dia seguinte obviamente, o resultado do trabalho deste funcionário melhorou e muito, como era de se esperar, ao dispor de melhores condições.

Sempre costumava chamar aos 5 funcionários com pior desempenho do dia anterior, nunca com o intuito de reclamar, castigar, não, nada disso. Mas conversávamos sobre seu baixo desempenho e de como poderíamos ajudar a melhorar o seu. Esta minha atitude retirava barreiras, e a persistência dos chamados era como agua na pedra, cai, cai até que fura.

Não obstante com alguns funcionários esta técnica não dava resultados, como era o caso do funcionário em questão.

Desta vez, quando o chamei tinha um motivo diferente, pois já não estava entre os cinco piores, tinha melhorado é muito. Portanto o parabenizei e perguntei como tinha conseguido isso!. Queria saber aqui se ele mentiria ou não, pois quem mente,...complica seu destino.

Para minha surpresa me diz: "Sr. Manuel, não sei que aconteceu!, alguém arrumou meu local, limpou e reparou minhas ferramentas e utilidades, não sei quem foi pois perguntei a tudo mundo e ninguém soube me dizer. E foi por isso que consegui melhorar"

A partir de comprovar a sua humildade e sinceridade, na minha concepção saiu de funcionário irrecuperável a recuperável. Decidi contar então a verdade:"fui Eu que reparei tudo isso, achei que seu mau desempenho não era culpa sua e sim das condições de trabalho, então decidi ajudar e ver no que dava".

Quase caiu da cadeira, tamanho espanto, imagina o Diretor Industrial, enxergar ele entre tantos funcionários, ajudá-lo de forma direta COM AS SUAS PRÓPRIAS MÃOS e dispondo do seu tempo,..!. Coisa que ele sabia fazer,.. deveria,.. e poderia ter feito!!!

Deu no que deu, se tornou não apenas um bom funcionário, senão um dos melhores.

O efeito cascata: a notícia se espalhou pelas duas unidades fabris, e parecia que uma reação em cadena acontecera. Todos os funcionários passaram a cuidar de suas ferramentas e utilidades, barriam o local no final do dia(parecia impossível ter conseguido isto cuando diversas campanhas, palestras e treinamentos tinham falhado).

A produtividade, aumentou em média 20%. Quanto gastei para isso?: 40 minutos!! Que teorias sofisticadas, demoradas e caras usei: NENHUMA. Qual foi o valor do investimento: ZERO.

Na época não existiam: internet, computador, celular, nem xerox!

Lição: As vezes, pensar e descer do cavalo, vale a pena.