O Piso Nacional da Enfermagem está cegando os hospitais
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O Piso Nacional da Enfermagem está cegando os hospitais

O piso nacional da enfermagem é o assunto número um em praticamente todos os hospitais do Brasil, e não é para menos, afinal apesar de muito justo, não vi até hoje ninguém dizer o contrário, existe uma questão delicada de receita e despesa a ser resolvida.

O fato é que, apesar de justa e merecida, os legisladores criaram uma despesa para os hospitais privados e organizações filantrópicas sem nenhuma contrapartida de receitas, e isso é um grande problema empresarial e operacional que pode significar a continuidade ou não de muitos hospitais no Brasil.

Como tudo que é ruim sempre pode piorar, a emenda do Supremo criou soluções diferentes para hospitais públicos, privados e filantrópicos. Os entes públicos vão receber recursos federais extras, incorporar a despesa ao tesouro e vida que segue, os filantrópicos que atendem mais de 60% do SUS vão, em teoria, receber repasses para cobrir o gasto extra na folha, as questões que não estão claras são: o repasse será para todo o gasto extra ou apenas a parcela que atende ao SUS? Como calcular e medir isso? Como será calculado o impacto em férias e 13º? Qual a regularidade destes repasses, afinal a folha quando sobe não volta mais a seu estado anterior, como será de 2024 em diante?

Os privados ficaram em situação ainda mais estranha, a implementação do piso vai depender de acordo coletivo com os sindicatos, como assim? É piso nacional ou não? Uma convenção coletiva pode mudar o piso nacional? Como os funcionários vão se sentir ao receber menos que o piso? Equacionar o problema financeiro pode custar no mínimo o clima organizacional, sem falar na judicialização que isso vai gerar.

Em outros setores a solução passaria necessariamente por buscar aumentar a eficiência e reduzir o quadro de pessoal até as receitas equilibrarem com as despesas, mas na assistência isso não é tão simples, afinal, além das questões operacionais, uma resolução do COFEN define quantitativos mínimos de profissionais que os hospitais precisam manter e os CORENs estão fiscalizando e notificando, ou seja se correr o bicho pega, se ficar o bicho come.

A questão é que o mundo da Saúde não é feito apenas de piso nacional da enfermagem, existem grandes transformações acontecendo no mundo e na Saúde e isso não está sendo visto pela grande maioria dos hospitais que está cego e imobilizado pelos problemas do piso.

A inteligência artificial chegando para transformar as relações e o ambiente de trabalho, as lideranças precisando de atualização para lidar com um mundo cada vez mais complexo onde liderados, pares e pacientes estão vivendo transformações que nem sabem definir, novas tecnologias sendo incorporadas diariamente nas organizações sem que o pessoal esteja preparado.

Profissionais cansados sofrendo com alto nível de ansiedade e outros problemas mentais, gerando um nível cada vez maior de faltas e absenteísmo, lideranças despreparadas para lidar com questões emocionais e comportamentais de sua equipe que surgem a cada dia.

Minha impressão é que o piso nacional da enfermagem está mascarando a pressão de todas as outras questões que estão acontecendo nos hospitais e não estão recebendo a devida atenção, estamos enchendo um tonel de problemas que está a ponto de transbordar, e dizer que não viu e não sabia com certeza não trará solução para estes problemas.

O piso nacional da enfermagem é realmente um problema muito sério e precisa receber a atenção devida, mas pode ter certeza que existe muito mais coisa acontecendo no seu hospital que impacta seu presente e futuro próximo, precisamos reagir.

É hora de abrir os olhos e enxergar que em seu hospital está acontecendo muito mais coisa que precisa ser tratada e equacionada já, é hora de preparar seus líderes e sua equipe para este mundo novo de tecnologias, inteligência artificial, um paciente empoderado, novos tratamentos, novas demandas, principalmente para liderar neste ambiente de transformação e levar a organização aos resultados planejados.

Victor Emmanuel Almeida, MSc, MBA

Gestão | Oncologia | Docente | Preceptor de residência | Guest Speaker

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Lembro-me da frase do Lampedusa: tudo deve mudar para que tudo fique como está!

Victor Emmanuel Almeida, MSc, MBA

Gestão | Oncologia | Docente | Preceptor de residência | Guest Speaker

1 a

Concordo com o texto. Até mesmo os profissionais estão levando o debate do piso como a tábua de salvação das suas carreiras. E quando se analisa a atual conjuntura, vemos prefeituras que ainda não implantaram o piso por não ter recebido a ajuda necessária; hospitais filantrópicos mal ficando em pé e hospitais privados, empurrando com a barriga.

Dr André Chiga Médico Palestrante

Prof. da Fundação Dom Cabral e Presidente da Sociedade Brasileira de Médicos Executivos

1 a

Sensacional e muito sensato.

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