O poder da Experiência
Foi em meados de 2004, quando eu - caloura da faculdade de Belas Artes na UFMG - tomei consciência do poder da experiência. Hoje, quase 20 anos depois sendo doze deles atuando como psicóloga clínica especialista em criatividade, o experienciar é uma característica diferencial do meu trabalho e neste artigo quero contar porque.
Começo com essa cena:
durante uma das minhas primeiras aulas de escultura em pedra-sabão, depois da introdução empolgante do professor que nos contava sobre "a facilidade de esculpir aquele material" eu imediatamente me preenchi de empolgação e ânimo, certa de que seria capaz de esculpir um rosto, inspirada nas maravilhosas obras de Michelangelo.
Mas na primeira tacada do formão na pedra veio a decepção e a frustração. "Mas o professor disse que seria tão fácil" - pensei. Não foi... eis o resultado:
Experienciar com meu próprio corpo trouxe-me naquele instante a consciência sobre a cruel diferença entre o campo imaginário e o concreto. O mundo das ideias e o real.
O primeiro guarda infinitas possibilidades, que acontecem mediante um único aspecto: o repertório de imagens mentais, a imaginação. Já o segundo, o prático, exige camadas e camadas de esforços e atitudes para existir.
Estudar Arte não é só sobre idealizar, é antes de tudo sobre FAZER. Assim como criar não é sobre ter ideias, mas principalmente sobre AGIR.
Como psicóloga clínica, conheço de perto o limiar entre sentir, pensar e fazer. E sei que as pessoas não transformam suas atitudes, seus comportamentos e relações apenas a partir do que escutam, lêem ou aprendem de forma teórica. Este é sem dúvidas um ingrediente importante, mas na era da informação tem perdido eficiência do ponto de vista da transformação. Afinal de contas, é muito estímulo textual, visual, virtual.
As pessoas precisam EXPERIENCIAR, sentir na pele, testemunhar suas próprias habilidades e limites para serem capazes de alterar seus rumos, mudar suas ações, ou mesmo, caminhar destinos próprios. É isso o que acontece numa EXPERIÊNCIA: as pessoas se confrontam com suas capacidades e seus impedimentos reais, na prática. E isso significa mais do que a mera percepção que ela tinha sobre eles a partir de seu julgamento próprio ou dos demais à sua volta. Isso corporifica, marca, gera compromisso consigo.
Nenhuma transformação acontece só no campo das ideias.
Neste final de semana (6, 7 e 8/10/23) facilitei mais uma imersão autocriativa em Tiradentes - MG para um grupo de mulheres que pode vivenciar práticas para trabalhar sua autoestima e autoconfiança. O convite veio da Fantástica Fábrica de Domingos, de Cris Pàz e Ariadne Sodré.
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Nesta oportunidade, a experiência com o sentir foi canal de ampliação do olhar sobre si mesmo, oportunizando comprometimentos reais com algumas decisões pessoais. Por exemplo, uma mulher que se sente sobrecarregada por dar conta de tantas tarefas e tantas relações, por ser responsável financeiramente por tantas pessoas de sua família, teve a oportunidade de sentir o peso literal de tecidos pesados sobre seus ombros. Então, através da percepção concreta deste desconforto, guiei essa mulher a experimentar o "abrir mão", o "deixar ir", o "despir-se" de tudo o que não fosse apenas seu, até ficar só com a roupa do corpo. Essa mulher fazia estes movimentos de olhos fechados, sentindo e derramando lágrimas, experimentando sensorialmente o alívio.
A chave que vira através de uma experiência prática é irreversível.
Noutra imersão, em 2022, pude conduzir um grupo à experiência do confronto entre o si mesmo e o outro. Cada pessoa caminhava com um novelo de lã em mãos e a cada passo deixava cair a linha no chão, marcando seu caminho por onde passava. As lãs se cruzaram de muitas formas, elucidando como os caminhos particulares se misturam com o alheio. Em seguida, o desafio era enrolar novamente sua própria lã em seu novelo sem deixar embolar com as dos demais. Assim, as pessoas experienciaram a gentileza, o cuidado com o espaço e o tempo do outro e puderam perceber na prática quando e como suas ansiedades atravessam e confundem suas relações.
Ainda, experienciar representa um registro corporal, sináptico, físico.
As experiências que crio e facilito envolvem cheiro, sons, temperaturas e jogo de luzes. Tudo que ative o sentir de forma genuína e que desperte a atenção e o aprendizado - que é literalmente apreendido.
Experiências marcam e transformam, verdadeiramente.
PS: Estão abertas as vagas para a Jornada AutoCriativa Infinito Particular, no formato semi-presencial com imersão em São Paulo. Se você deseja vivenciar uma experiência transformadora, te convido a participar desta turma.
Ou, quem sabe, possamos conversar para eu criar, desenvolver e facilitar uma imersão personalizada para seu grupo.