O poder da simplicidade
Discutindo com a equipe uma sugestão de comunicação para um cliente, me vieram à mente dois exemplos que são o oposto do que estávamos tentando fazer. No caso, queríamos dizer uma coisa sem falar explicitamente, usando outras palavras para enviar a mensagem de forma que ficasse subentendido nas entrelinhas algo que poderia ser ousado demais para o cliente. Não poderíamos usar a manchete jornalística como gancho de uma notícia que vai perfeitamente de encontro com a solução que o cliente oferece ao mercado sob risco de arranhar a imagem pública num ambiente tão polarizado politicamente em que vivemos hoje.
Os exemplos, curiosamente, vieram do futebol. A simplicidade das perguntas certas no momento exato causaram um impacto imediato e certeiro, resultando no efeito desejado que o exercício de paráfrase não conseguiria.
O primeiro exemplo foi recente. Durante entrevista ao fim de um jogo, o volante Casemiro, capitão da seleção brasileira de futebol, resolveu falar sobre a polêmica de que o grupo de jogadores e a comissão técnica estariam contrários à realização da Copa América no Brasil, e disse um "todo mundo sabe a nossa posição em relação a isso", sendo imediatamente interpelado pelo repórter Eric Faria, da Globo, com um sonoro "eu não sei qual é sua posição". O jogador gaguejou um pouco e respondeu de forma evasiva, insistindo que todo mundo sabia, que estava bem claro e que iriam falar disso num momento oportuno.
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O outro é um clássico da internet. Ao anunciar o novo treinador do Flamengo em 2003, o diretor Eduardo Moraes, o Vassoura, foi imediatamente xingado por torcedores insatisfeitos com o nome de Waldemar Lemos de Oliveira. "E por que o Waldemar?", questiona Cícero Melo, repórter dos canais ESPN, ao assustado diretor do time rubro-negro. Vassoura, porém, parece imobilizado. Tenta falar, mas as palavras não saem. Dá uma explicação genérica e não convence.
Essas duas indagações simples, certeiras, fizeram toda a diferença nessa comunicação. Enquanto tentamos quebrar a cabeça para arranjar uma forma rebuscada de dizer o que queremos sem falar de fato, talvez o mais simples seja abortar a ideia e não ficar sem resposta depois. A parte boa é que não estamos diante de um microfone com um repórter sagaz do outro lado e o texto escrito pode ser lapidado até sair perfeito. No meu caso, outra indagação simples que preciso responder é: "vale o esforço?".