Neymar, Richarlison e a comunicação corporativa
O clichê é total: vou usar o futebol como exemplo e metáfora para falar da comunicação corporativa. Mas o esporte mais praticado no mundo, especialmente no Brasil, tem muita relação com a vida profissional fora dessa esfera. Ao longo deste artigo vou tentar explicar os porquês. Vem comigo!
Recentemente tivemos alguns exemplos de jogadores de futebol que ganharam as manchetes por causa da sua capacidade (ou não) de comunicação.
O Português Marco Silva, Treinador do Everton, voltou a reclamar publicamente do nível de entendimento da língua inglesa de dois de seus atletas, o brasileiro Richarlison e o colombiano Mina.
Não é uma questão à toa e ela vale para o futebol tanto quanto para o mundo corporativo, podendo afetar diretamente o entendimento do que ocorre ao redor, em especial das questões táticas, que exigem explicações mais detalhadas. Além disso, dominar o inglês para um jogador é essencial na Inglaterra tanto quanto em países do Oriente Médio e Ásia.
Vale lembrar que o atacante da Seleção Brasileira já está na Inglaterra há três temporadas. Antes de chegar aos Toffees, o atacante passou pelo Watford. Já Yerry Mina está no clube do Goodison Park desde a metade de 2018.
Luxemburgo e Felipão tiveram problemas com isso quando treinaram Chelsea e Real Madrid e muito se atribui à essa questão como um dos fatore que explicam o pouco (ou quase nenhum) sucesso dos técnicos brasileiros na Europa.
Outro exemplo é Neymar. O melhor jogador brasileiro dos últimos tempos recebeu uma alfinetada do diretor esportivo Leonardo, que assumiu o cargo no Paris Saint-Germain. Conhecido pelo profissionalismo e pela postura exigente com seus jogadores, Leonardo foi trazido justamente por essa personalidade, visando mexer com os brios dos atletas a fim de fazer o clube parisiense mais forte em competições continentais. Segundo o jornal francês "L'Équipe", no dia em que Neymar retornou aos treinos no PSG, em 15 de julho, o dirigente foi ríspido ao conversar com o elenco, mostrando que não mais haverá distinção entre jogadores no clube.
- Falarei em francês. Se alguns não entendem, precisam ter aulas - teria dito o diretor.
Neymar já está há dois anos em Paris e ainda pena para se comunicar em francês. Já Leonardo é poliglota, sendo fluente em francês, italiano, inglês e, claro, português. Tal habilidade e esforço para se comunicar bem na Europa fez o dirigente ser um dos mais importantes profissionais requeridos para atuar nos bastidores de um clube ou na beira do campo, onde também já foi treinador.
Esses exemplos mostram que se comunicar bem tem reflexos na sua imagem corporativa. Não adianta ter um ótimo desempenho no trabalho mas patinar na apresentação para quem importa, o que no caso do futebol, é a torcida - e mesmo os patrocinadores. Essas questões ganham peso quando se espera um retorno à altura de profissionais tão bem remunerados e importantes para suas empresas.
Nem sempre mudar de empresa ou ganhar um salário maior pode ser benéfico para sua carreira. Às vezes você está bem e sai para ganhar mais, porém, o conjunto de fatores que corroboraram para você ir bem não se repete, requer adaptação e tempo - vide Neymar. Mais importante é você poder desempenhar sua função e desenvolver todo seu potencial. Isso inclui o domínio da comunicação!
Um jogador profissional que não entende as instruções do treinador certamente terá um desempenho aquém do esperado em algum quesito. Ser um líder na sua função passa por conseguir ser hábil para desenvolver uma comunicação que agregue no seu trabalho. Obviamente isso ajuda a trazer os colaboradores para perto, trabalhando com você. Tudo é trabalho em equipe! Mesmo as microempresas individuais, por exemplo, precisam de outras pessoas para funcionar. Se você tem dificuldades na comunicação, você não vende seu serviço como deveria e não vende sua imagem como poderia.
Mas, afinal, toda essa fluência é realmente necessária ou o inglês (ou o aprendizado de uma outra língua, como o francês, citado aqui) está sendo banalizado sem necessidade?
Eu acredito que, no mercado corporativo, depende da empresa. Se é uma multinacional e realmente existe necessidade da língua para conversas e reuniões, exigir o idioma dos profissionais faz todo sentido.
De qualquer forma, além da possibilidade de atuar em outros mercados, o aprendizado de um novo idioma pode causar uma série de impactos positivos em sua vida profissional. Em cargos hierárquicos maiores, é essencial ter a capacidade de influenciar e inspirar as pessoas, por exemplo. Mas ainda assim há uma certa tolerância.
Fato é que atualmente, o profissional de alta performance que não consegue conduzir conversas e uma comunicação consistente em outra língua pode ficar de fora, mas sabemos que cada caso é um caso, e que a trajetória é levada em consideração. Nem Neymar nem Richarlison serão colocados de lado por não se comunicarem bem em outra língua, mas é claro que a imagem fica arranhada. Isso vale, e muito, para o mercado corporativo.
Existem inúmeras maneiras hoje de se aprender uma nova língua, com sites, cursos, EAD e outros canais. Mas a lição que fica é que nem jogadores de primeiro escalão escapam das cobranças por melhor desempenho na comunicação. Portanto, para ter sucesso em todos os aspectos, esse investimento vale, e muito!