O poder do Erro

O poder do Erro

Uma vez ouvi a seguinte frase: o erro é mais importante que o acerto, pois com ele vem o aprendizado. Simplesmente não me importei com a frase no momento em que ouvi, passei batido, porém, diversas vezes, essa frase voltou em meu pensamento quase como um mantra, inúmeras foram as ocasiões em que pude a usar, que me levaram a diversas reflexões que hoje venho discorrer com vocês.

Tradicionalmente abominamos o erro: quem é bom não erra, erro não faz parte do meu vocabulário, o segundo vencedor é perdedor – ora, essas afirmações não fazem nenhum sentido, tanto lógico quanto empírico!

Um bebê só aprende a andar depois de cair várias vezes, você só tira a carteira – exceto raras exceções, depois de errar algumas vezes coisas bem bobas na hora do exame prático, se você nunca tirar a rodinha da sua bike você nunca vai aprender a andar de bicicleta, quantas vezes você errou a ordem dos apps ou escreveu errado no teclado do seu novo celular até aprender como?

A verdade é que falar sobre o erro é um tabu, e você precisar saber que é com o erro que se aprende. Por isso que eu trago o seguinte:


1. Como o erro é jogado para debaixo do tapete


Em Sonho Grande, excelente livro que conta a trajetória de Beto Sucupira, Marcel Teles e Jorge Paulo Lemann, vemos a história de construção do “maior império da história do capitalismo brasileiro”, conforme define a autora Cristiane Correa, também conhecido como 3G Capital.

Em uma visão ignorante, mundana, do brasileiro médio, simplesmente não conhecedora, subentende-se que a história a ser narrada no livro é uma sequência infindável de sucessos, acertos seguidos de acertos, todo ano recorde de faturamento… ledo engano! Para quem teve o prazer de ler Sonho Grande, vemos que erros mais do acontecem, são comuns, são inerentes a qualquer tipo de atividade e empreendimento.


Na história pessoal de Lemann, há casos clássicos de como o empresário errou, quebrou, e pode dar a volta por cima com o aprendizado das perdas que teve.

Fato é que erros não podem ser tidos como pragas, bichos de sete-cabeças ou infernos na terra que vieram simplesmente para lhe tirar o sono. Assim como todo otimista vê um copo como meio cheio, você deve ver cada defeito como oportunidade de aprendizado, e cada erro como chance de melhoria.

É claro que existem erros que são vitais, tão graves que podem comprometer até a continuidade da instituição, e não é difícil achar exemplo quanto a isso: um planejamento financeiro mal executado pode comprometer a saúde financeira de uma empresa, levando-a ao vermelho, uma desordenada em um setor de recursos humanos pode autorizar a saída de funcionários ao ponto de comprometer o próprio funcionamento da organização. Esses são erros graves que merecem sim uma correção incisiva.

Erros existem! E fingir que não é atestado de burrice! Trate o erro como algo normal, tão normal quanto um café gelado que você esquece na mesa ou uma ressaca em dia de semana.


2. Como eu posso tratar um erro


Superada a errada visão em considerar o erro algo não digno de fala, e já desconsiderando o erro fatal, temos os demais erros, que representam falhas corriqueiras e inerentes o próprio exercício da atividade desenvolvida. Quanto a esses erros acontecem, não pense em culpar, gritar ou xingar, guarde as energias para pensar o seguinte:


a. A pessoa que errou foi devidamente qualificada pra exercer essa função?


Não é difícil conhecer alguém de se gabar por conhecer seu negócio como ninguém, ou encontrar alguém que se valoriza por centralizar a tomada de decisões, mas já parou pra pensar que alguém errou simplesmente por você não o treinou corretamente? Reconhecer que erros sempre tem um motivo-causa, e não simplesmente descuido ou descaso do “errante”, importa em entender como o processo do erro pode ser valorizado.


b. Erros não devem ser tomados como individuais.


É possível, plenamente, individualizar um erro de forma que somente um funcionário, um membro ou um colaborador figure como bode expiatório, mesmo sendo cristalino que foi esse que deu toda causa ao erro, mas mesmo assim, não seria um erro da equipe? Que também não o treinou suficiente, que também não esteve disponível suficiente para auxilio? É claro que de boas intenções o inferno está cheio, mas pode acontecer que um erro aconteceu em face de uma tomada de decisão feita erroneamente por um espaço em que não existia espaço para dúvidas ou auxílio.


Essa visão de cada um na sua baia, individualizados como bois para o abate está mais do que superada, chega a ser anti-produtivo! Derrube as paredes ou divisórias que separam sua equipe, se possível coloque todos em uma mesma mesa. O nível de igualdade representará que todos são iguais, todos podem errar, e é mil vezes melhor perguntar pra alguém do lado do que mandar com medo de incomodar.


c. Erros não devem ser justificados, erros devem ser assumidos!


Por último questionamento, e sim, muito mais importante. Em nada importa criar milhões de desculpas, arranjar defeitos ou problemas que levaram ao erro, o máximo que você deve chegar nessa fase acusatória é na identificação das causas, isso sim é essencial, saber exatamente porque esses erros ocorreram, talvez os dois questionamentos anteriores lhe ajudem a pensar.


O erro é da equipe, de todos que participam do mesmo projeto, assumir o erro em equipe, acredite você, ajuda no fortalecimento do time, senso de pertencimento e senso de responsabilidade, mais do que claro que o líder deve levar essa condução, mas nada impede de você, independente da função ou cargo que tenha, também contribuir.


3. Lamentar é perda de tempo, JUST DO IT!


A partir do momento que a equipe assume o erro, quem erra sabe que não está sozinho, aprende que sua falha vai influenciar nos demais, que além de receber a falha, irão trabalhar para corrigi-la. A falha atinge todos que ali formam um time, logo você entende que também é seu dever auxiliar quem está do seu lado, estar sempre disposto a ajudar, ensinar, questionar, mesmo que até você não saiba como faz, e nesse caso, procure alguém que saiba.


Não há problema errar, desde que seja um erro novo, não dê murro em ponta de faca duas vezes pra ganhar seu diploma de burrice, aproveite o tempo que você geralmente gasta se culpando, culpando demais – o que é pior, ou até lamentado a falha; otimize esse tempo em saídas, soluções, traduza toda sua ladainha em planos de ações e aceite as porradas que a vida te dá.


Feito isso é hora de consertar, se possível, deixe quem próprio errou tomar as rédeas da correção, pode até parecer estranho, mas se foi ele que errou por que ele deveria consertar? Pois é daí que vem o aprendizado, não é dispensado uma assistência qualificada, alguém ali do lado que saiba plenamente o que fazer, mas em jogos limpos, deixe quem errou trabalhar, questionar, pensar por si até chegar as conclusões óbvias de acerto de alguém que já sabe como deve ser feito.


Um comentário digno de menção, as vezes desconsiderado, é: ambientes de inovação precisam estar predispostos a tolerar uma margem de erro. Inovação é a capacidade de algo inédito, algo não testado, não usado; algo que ainda não foi ao mercado tem chances de falha, um serviço inovador pode não ser rentável, você só aprende testando, ou seja, errando até acertar e não adianta de nada repetir diariamente que só se aprende errando, se você está inserido em um ambiente desses e abomina o erro!


Empresas de sucesso não empresas que não erram, ou que erram menos, mas são aquelas que reconhecem o erro, independente de motivo, razão ou circunstância do ocorrido, dando o devido tratamento.


Um erro deve ser tido como uma chance de desenvolver uma habilidade, técnica ou conhecimento que ali não se encontrava antes, uma chance madura e sadia do “errante” consertar seu erro mostra que pessoas podem errar, que não há problema algum nisso, desde que se assuma o erro, se busque resolver os problemas causados e não mais repetir as falhas de outrora.

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