O Poder e a Sutileza de um Cultura Organizacional para a efetividade de um Conselho Consultivo.
Artigo para o Programa de Formação e Certificação de Conselheiros - PFCC - da Board Academy Br
A cultura organizacional é um dos aspectos mais poderosos e sutis dentro de qualquer organização, definindo não apenas a forma como os colaboradores interagem entre si, mas também como a empresa se posiciona frente a desafios, mudanças e oportunidades. Fato que, a cultura acaba com qualquer estratégia, se esta não for efetivamente entendida e praticada. Quando um conselho consultivo é implementado, principalmente em empresas familiares, a cultura desempenha um papel ainda mais crítico, pois o sucesso do conselho depende, em grande parte, do pleno entendimento da Cultura da empresa, além disto é imprescindível que haja harmonia entre os valores culturais da empresa e os valores individuais dos conselheiros, para que as práticas de governança que o conselho busca implementar sejam realmente realizadas.
Neste artigo vamos explorar a relação entre cultura organizacional e o impacto que ela exerce sobre o conselho consultivo, abordando os principais pontos de atenção para que essa relação seja produtiva, os desafios comuns enfrentados e os erros que devem ser evitados. A partir dessa análise, compreendemos como a cultura pode ser tanto um facilitador quanto um obstáculo para a eficácia do conselho consultivo, influenciando diretamente suas decisões e sua capacidade de orientar a empresa rumo ao crescimento sustentável.
A cultura organizacional refere-se aos valores, normas, comportamentos e crenças que permeiam a empresa e orientam suas ações diárias. Em empresas familiares, essa cultura é ainda mais forte, já que muitas vezes está enraizada em tradições passadas de geração em geração. Para um conselho consultivo atuar de maneira eficaz, ele precisa não apenas compreender essa cultura, mas também integrá-la em suas recomendações. Conselhos que desconsideram o impacto da cultura tendem a enfrentar resistência interna, o que compromete a implementação de suas sugestões e mina sua capacidade de liderar transformações dentro da organização.
Um dos primeiros pontos que um conselho consultivo deve observar ao iniciar sua atuação em uma empresa é como a cultura influencia as decisões de liderança e as relações interpessoais. Em muitas organizações, especialmente as familiares, as decisões podem ser guiadas mais por valores emocionais e dinâmicas pessoais do que por análises objetivas e dados. Isso não é necessariamente negativo, mas o conselho precisa encontrar uma maneira de respeitar essas características culturais enquanto introduz ferramentas de governança que ajudem a embasar e suportar de forma profissional a gestão.
Para que a relação entre o conselho consultivo e a cultura organizacional seja harmoniosa e produtiva, existem alguns pontos que precisam de atenção especial: Entendimento profundo da cultura: O primeiro ponto de atenção é que os membros do conselho precisam fazer um esforço consciente para entender a cultura da empresa, tanto nos aspectos formais quanto nos informais. Isso inclui os valores que orientam as decisões da alta administração, as expectativas dos colaboradores e o histórico da empresa. Respeito pelos valores da empresa: É essencial que o conselho consultivo mostre respeito pelos valores da empresa, mesmo que eles não correspondam às práticas tradicionais de governança. Se o conselho demonstrar que está tentando impor uma nova forma de gestão sem reconhecer a cultura existente, isso criará barreiras que limitarão sua atuação. Alinhamento entre conselho e cultura: Para que o conselho possa orientar a empresa com eficácia, é necessário que ele encontre um ponto de convergência entre as práticas de governança que deseja implementar e os valores culturais que a empresa deseja preservar. Esse alinhamento facilita a aceitação das recomendações do conselho. Abertura para adaptação: Tanto o conselho quanto a gestão familiar precisam estar abertos à adaptação mútua. O conselho pode precisar ajustar suas recomendações para se alinhar melhor com a cultura da empresa, enquanto a gestão familiar pode precisar abrir espaço para práticas de governança mais estruturadas.
A atuação em empresas onde a cultura é fortemente enraizada traz vários desafios para o conselho consultivo. Um dos mais comuns é a resistência às mudanças propostas. Em empresas com culturas conservadoras, onde as decisões são tomadas com base em tradição ou intuição, a introdução de processos mais formais e baseados em dados pode ser vista com desconfiança. O conselho pode se deparar com uma barreira cultural que torna difícil a implementação de práticas de governança mais objetivas e transparentes.
Outro desafio frequente é o equilíbrio entre tradição e inovação. Conselhos consultivos são, por natureza, orientados para o crescimento e para a inovação, buscando formas de manter a empresa competitiva no mercado. No entanto, se a empresa valoriza fortemente suas tradições e modo de operação, as propostas de inovação podem ser vistas como ameaças à identidade da empresa. Encontrar esse equilíbrio é uma tarefa desafiadora, pois o conselho precisa garantir que a empresa não fique estagnada enquanto preserva sua essência.
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Além disso, a condução de conflitos internos é outro desafio. Em empresas onde a cultura é fortemente ligada a relações familiares, é comum que conflitos pessoais interfiram nas decisões de negócios. O conselho consultivo precisa lidar com esses conflitos de maneira imparcial, mas isso nem sempre é fácil em um ambiente onde as emoções e laços familiares têm tanto peso. O papel de mediador que o conselho assume pode gerar desconforto, especialmente se as partes envolvidas não estiverem dispostas a ceder.
Para atuar de forma eficaz dentro de uma empresa onde a cultura é predominante, o conselho consultivo precisa estar atento a erros comuns que podem comprometer sua atuação e sua credibilidade:
Ignorar a cultura organizacional: Um dos maiores erros que um conselho pode cometer é subestimar ou ignorar a cultura da empresa. Quando o conselho tenta implementar mudanças que vão contra os valores ou tradições da organização, ele rapidamente encontra resistência e perde credibilidade. As sugestões do conselho devem ser compatíveis com a cultura existente, ou a mudança desejada será rejeitada.
Focar apenas em métricas financeiras: Outro erro comum é focar exclusivamente em dados financeiros e indicadores de desempenho, sem considerar as implicações culturais. Embora a análise financeira seja fundamental, ela não é suficiente para garantir o sucesso de uma empresa que valoriza profundamente seus valores e relações pessoais.
Impor uma visão externa sem adaptação: O conselho consultivo precisa ser cauteloso para não tentar impor práticas de governança externas sem adaptá-las à realidade cultural da empresa. O sucesso de conselhos consultivos em empresas familiares, por exemplo, depende de uma abordagem colaborativa que respeite as particularidades da empresa.
Subestimar a importância dos relacionamentos internos: A cultura organizacional é profundamente influenciada pelos relacionamentos interpessoais. O conselho que negligencia a importância desses relacionamentos corre o risco de alienar os principais líderes e tomar decisões que não serão apoiadas pelos gestores internos.
A cultura organizacional exerce um impacto direto e significativo sobre a atuação de um conselho consultivo, especialmente em empresas familiares onde os valores tradicionais estão profundamente enraizados. O sucesso do conselho depende de sua capacidade de compreender e respeitar essa cultura, ao mesmo tempo em que introduz práticas de governança que ajudem a profissionalizar a gestão e impulsionar o crescimento da empresa.
Embora haja desafios consideráveis, como resistência a mudanças, conflitos internos e a necessidade de equilibrar tradição e inovação, a chave para o sucesso está na construção de uma relação de confiança entre o conselho e a gestão. Isso envolve adaptação mútua, respeito pelas tradições e abertura ao diálogo. Quando esses elementos estão presentes, o conselho consultivo pode desempenhar um papel crucial na sustentabilidade e longevidade da empresa, promovendo uma cultura organizacional que apoie o desenvolvimento contínuo e o sucesso no longo prazo.