O Ponto Final
O ponto final.
Um ponto preto pequenino quase imperceptível contrastando com a brancura imensa de uma página. Este pequeno ser, no entanto, tem o poder de terminar uma jornada épica, uma batalha entre mundos ou uma história de amor. Assim terminam todas as histórias. O fim definitivo, o final supremo, o desfecho de uma vida seja ela sofrida com acontecimentos dramáticos e horripilantes conduzido por tramas diabólicas e reviravoltas interessantes ou caminhadas felizes simples e harmoniosas como um passeio em uma tarde de verão, apreciando o por do sol ao lado da pessoa amada, mas sempre é ele o ponto final que reduz nossa história humana a sua essência efêmera e superficial, a morte.
Por este motivo muitos acreditam que estão isentos de responder por seus atos. Que caminham livres e absolutos em suas jornadas. Afinal o fim é o final. Nada além do nada. Do pó viemos ao pó voltaremos e nada mais. O que temos aqui é o que importa e o importante é ter, pois todos seremos reduzidos a ele, ao ponto final e dele ninguém escapa.
Pelo menos assim deveria ser, assim gostaríamos que fosse, mas somos estes entes estranhos e interessantes feitos de carne ossos vísceras e sangue, mas preenchidos por esta inquietante força vivente que chamamos de alma. Essa estranha sensação com que faz que apreciemos a arte, uma flor, a melodia de uma música o amor. Essa inquietante certeza de não saber. É nela, na alma, que realmente esta nossa essência, nosso verdadeiro eu e é ela que sobrevive ao ponto final, a morte, nos tornando eternos.
Ela é nosso livro sagrado, em nossa alma gravamos nossa caminhada por este plano terrestre. Ela é nosso livro onde escrevemos nossa história e esse livro fica registrado nos arquivos universais e isso não depende de religião porque esse livro é nosso, é particular e próprio somente nós temos acesso a ele e nele escrevemos o que queremos. Só que o que ali escrevemos ali fica, não há como rasurar mudar ou esconder nossos atos e ações deste livro sagrado e pessoal, pois ali fica guardado nosso eu verdadeiro sem espaço para mentiras ou negações. Diante dele estamos nus e sem pudores somos apenas nós e nós mesmos. Nossos atos e ações todos eles para todo o sempre gravados, explicitamente expostos.
Diante de nosso livro da vida, nosso livro sagrado, estaremos sós e seremos advogados, promotores e juízes impiedosos de nossa história pessoal. Aqui se faz aqui se paga! Nosso livro não nos permitira mentir ou procurar desculpas para nossos atos. Quando estivermos diante dele somente as leis imutáveis da vida prevaleceram. O certo e o errado e o resultado deles o aprendizado.
Apesar de ser um livro pessoal e sagrado muitas vezes permitimos que coautores no auxiliem em nossa jornada. Nossa história afeta outras histórias que nos cercam assim como somos afetados por elas. Nosso livro completa outros livros e vice versa. Em nosso livro ficam impressões de histórias de outras pessoas sejam elas boas ou más e nos livros delas nossas histórias. Criando assim uma imensa e maravilhosa biblioteca de impressões, mágoas, amores, alegrias, tristezas, felicidade de vidas conectadas todas umas as outras. Em um eterno ciclo de aprendizado e evolução. O banco de dados universal da alma humana.
Mas a finalidade de um livro é ser lido. Não existem livros ruins existem apenas livros e histórias a serem contadas. O que precisamos fazer é encontrar os leitores certos para nossas histórias, nosso público alvo. E essa busca deve ser incansável, não permitindo que o medo nos trave novas descobertas e novas histórias. Devemos perder definitivamente o medo de escrever nossa história pessoal, afinal existem milhares de pessoas que esperam, que anseiam desesperados por nossa história para poder completar as suas.
Mas e o ponto final?
Nem todo ponto final significa o fim da história, pode apenas significar o início de um novo capítulo.