O professor não é inimigo da tecnologia!
Recentemente, vi um post que falava de uma novidade tecnológica para educação e apontava que os professores certamente não iriam gostar. Em outro dia, li um texto sobre as mudanças na educação nos últimos anos e o quanto os professores não estavam abertos a essas mudanças. Tanto um quanto outro tinham algo em comum: eram baseados somente na OPINIÃO de quem escreveu, sequer mencionavam qualquer pesquisa ou argumento minimamente racional. Eram puro ACHISMO.
Como professora de educação básica e, ao mesmo tempo, formadora de professores, pergunto: qual a probabilidade de eu não gostar de algo que possa vir a facilitar meu dia a dia, a auxiliar no meu trabalho? E mais: se pensarmos nas mudanças na educação no último ano, houve quem não estivesse "aberto" a elas? Havia escolha?
Todo problema me parece estar, então, em um imaginário sobre o professor: a sociedade pensa que o professor não gosta de mudanças, que despreza a tecnologia e que, ao mesmo tempo, é ineficiente para dar conta do seu trabalho. De tantos imaginários possíveis, é justo este que se tem escolhido fazer circular.
Por outro lado, a pandemia e o ensino remoto jogaram o professor de cabeça na tecnologia: todos tiveram que se inserir, encontrando as suas formas e suas soluções - passando pelos diversos obstáculos que se impõem (sabemos!) quando se trata de acesso a recursos - de colocar sua prática na internet e contar com o intermédio da tecnologia.
Creio que isso seja ponto passivo. Mas é preciso ainda destacar dois pontos:
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O Google Meet, os inúmeros formulários, o Classroom têm me ajudado a tentar conhecer meus 90 alunos, com quem só tive contato virtualmente, em meio a pandemia e ao início em uma escola onde só estive uma vez presencialmente. Eu aqui em Florianópolis, eles no Rio de Janeiro. Eu alguns dias com frio, eles com muito calor. Eu torcedora do Internacional, eles do Flamengo, do Vasco (mas não do Grêmio!). Eles GenZ, eu uma cringe millenial. Eu levando textos e puxando as discussões, eles respondendo a elas e criando novas discussões entre si. Eles fazendo piada via chat, eu não entendendo nada. Eu professora de redação que conhece a letra, a voz, o estilo de escrita e os erros frequentes de vários deles individualmente. Eu amo a tecnologia e o que ela nos proporciona. Mas não consigo alimentar a inteligência artificial com toda esta troca (e nem quero).
Talvez seja isso que alguns confundem com negação/aversão/ódio à tecnologia, mas não poderiam estar mais enganados. Pelo que tenho observado nas minhas pesquisas e no meu trabalho com formação de professores, é que nem deveríamos estar perdendo tempo com esta discussão. Os professores estão atentos, buscando conhecer outras possibilidades de colocar em prática seus objetivos pedagógicos.
Professor é uma espécie curiosa, inconformada, pesquisadora e curadora na essência. E é por isso mesmo que, por vezes, ele reclama mesmo da tecnologia, porque às vezes ela não atende ao que ele imaginou, e por vezes até mesmo o limita. Mas nunca porque a rejeite, pelo contrário: porque ela o inquieta, lhe faz perder o sono pensando em fazer caber, a cada dia, novas e infinitas possibilidades em aulas cada vez mais curtas, em trocas cada vez menos profundas, em uma sociedade que cada vez lhe cobra mais e lança a ele um olhar mais desconfiado.
Gerente de projetos no Departamento de Água e Esgoto DMAE
3 aDebbie super concordo e vejo esse debate super importante para os tempos atuais.
Engineering Manager
3 aQue baita reflexão, Debbie Noble... tem muito professor fazendo acontecer. Precisamos mexer com esse discurso e trazer cada vez mais o professor para a discussão.