O PROGRESSO SUSTENTÁVEL TEM SIDO PARCIAL, DESIGUAL E CONTRADITÓRIO
Duas décadas e meia após terem iniciado os debates sobre desenvolvimento sustentável na ECO-92 , especialistas e público em geral encontram-se divididos sobre os resultados alcançados.
De um lado uma parcela considerável de especialistas e da sociedade consideram os progressos alcançados no âmbito econômico e ambiental pouco satisfatórios, e de quebra ainda têm sérias reservas quanto aos avanços ocorridos na área social.
Do outro lado outra parcela igualmente importante e considerável é mais benevolente, especialmente quando levadas em conta as melhorias no meio ambiente. Os processos de reciclagem e reaproveitamento dos resíduos, o aumento da eficiência energética e a menor pegada em termos de emissões de carbono ao longo da cadeia produtiva são apontadas como as principais ações que levariam a esta conclusão positivista. No mundo corporativo, estas práticas deixaram de ser exceção e se tornaram práticas mainstream do universo empresarial ao redor do planeta.
Independente do motivo impulsionador, seja por convicção ou por economia nos processos produtivos, essas modalidades, consideradas amigáveis ao meio ambiente, contagiaram os consumidores, e mantida a respectiva escala motivaram, por exemplo – comportamentos de uso responsável dos recursos domésticos.
Durante estes anos. foi verificado uma evolução nos níveis de bem-estar econômico, e este é apontado como o segundo aspecto melhor avaliado – principalmente entre os países emergentes. O estabelecimento das oito Metas do Milênio no ano 2000 é identificado como incentivador de um esforço coletivo em favor da inclusão, erradicação da pobreza e acesso à educação, entre outros objetivos. Fruto de uma combinação de expansão econômica com esforços articulados para atingir tais metas, o percentual de pessoas vivendo abaixo da linha da pobreza no mundo caiu quase pela metade em duas décadas: de 43%, em 1990, para 24%, em 2008. Só na África Subsaariana, 31 milhões de meninas tiveram acesso à educação de primeiro grau, desde 1999.
Tais avanços, no entanto, têm sido ofuscados pelas disparidades sociais e crises de origem econômica e ambiental, que resultaram em recessão e desemprego, quebra de safras e inflação nos preços dos alimentos. Tanto a opinião pública mundial quanto os experts em sustentabilidade acreditam que ainda há um longo caminho a ser percorrido até a consolidação de sociedades mais saudáveis e equitativas. Poucos números sintetizam tão bem esse desafio quanto o resultado de um estudo do World Institute for Development Economics Research, das Nações Unidas, o qual aponta que 1% dos mais ricos entre a população adulta possui 40% da riqueza mundial – um percentual maior do que aqueles que detêm os 95% menos ricos do planeta!
É certo também que no decorrer desdes anos vimos nações poluidoras assumirem compromissos inéditos. A China iniciou um processo de mudança da sua matriz energética para fontes limpas e renováveis. Em Copenhague, os EUA admitiram aderir às metas de redução de gases de efeito estufa. O Brasil apontou para uma política de redução do desmatamento até 2020. Embora tais medidas ainda necessitassem ser mais intensas e rápidas, eram promessas a caminho do Desenvolvimento Sustentável.
Agora, 2017, vemos que as promessas costumam ficar a certa distância da realidade. Com a posse do novo presidente dos EUA, Donald Trump, um assumido negacionista da mudança climática é indicado para dirigir a Agência para Proteção do Meio Ambiente dos EUA, e se não bastasse no último dia 26, o próprio presidente determinou que a Agência de Proteção Ambiental removesse de seu site todas as informações referentes ao aquecimento global.
No Brasil, em meio ao terremoto político que tomou conta de Brasília desde o ano passado, a Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania (CCJ) do Senado aprovou, sem alarde, a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) 65/2012, que assegura a continuidade de uma obra pública, mediante apresentação de um Estudo de Impacto Ambiental (EIA). A PEC 65 deve passar ainda por votação no Plenário e, caso aprovada, seguirá para tramitação na Câmara, com posterior retorno ao Senado. Por fim, deverá ser sancionada pela Presidência da República.
Estes acontecimentos por si só já me impedem uma leitura mais otimista.
Percebe-se claramente que o que impede a conquista de resultados mais sustentáveis é a falta de vontade política no enfrentamento de obstáculos para impulsionar a agenda global da sustentabilidade.
Por que nossos representantes e autoridades políticas não se tornaram os líderes do tema nas sociedades? Se é verdade que o ciclo eleitoral privilegia o curto prazo diante do imperativo de longo prazo das metas sustentáveis, também é certo que as plataformas dos governos democraticamente eleitos refletem de uma forma ou outra as prioridades do eleitorado. Ou seja, a responsabilidade pela inação é, até certo ponto, consentida por parte dos eleitores. Por outro lado, as próprias empresas vivem pautadas pelo curto prazo numa intensidade bem maior e, no entanto, muitas delas têm liderado o movimento pela economia verde.
Por que os políticos não têm usado isso como inspiração para atuações mais responsáveis?