O Propósito virou "Hype"?
Sem dúvida, a palavra "propósito" nunca foi tão utilizada em prosa e verso. Basta acessar qualquer mídia social para vê-la mencionada inúmeras vezes, "hashtagzada", com múltiplos conceitos, seja em textos bem desenvolvidos ou em materiais de marketing.
De acordo com um estudo da Deloitte, 79% dos líderes empresariais acreditam que um propósito claro é fundamental para o sucesso dos negócios. Mas, afinal, falar de propósito é uma tendência exagerada, uma moda passageira? Creio que não, mas algumas ressalvas devem ser feitas.
Simon Sinek, em seu livro “Comece Pelo Porquê”, desenvolve o tema do propósito com maestria. Manipulações de curto prazo, como preço e promoções, são úteis para fechar uma venda ou contratar um serviço, mas não geram fidelidade no cliente. Além disso, essas práticas podem ter o efeito inverso, estressando a relação entre as partes.
A declaração de um propósito inspirador no ambiente corporativo e sua comunicação eficiente geram muito valor para a empresa. Ele ajuda a alinhar as estratégias de negócio, motiva e engaja colaboradores, atrai e retém talentos, melhora a reputação da empresa, diferencia dos concorrentes e, em tempos de crise, serve como um pilar que ajuda a manter o foco e a direção da instituição. Empresas como a Patagonia e a TOMS são exemplos notáveis de como um propósito forte pode impulsionar o sucesso e a lealdade dos clientes. Consequentemente, tudo isso se traduz em resultados positivos para a organização.
No nível pessoal, a busca exagerada por um propósito único, inspirador, abrangente, fixo e imutável pode ser frustrante, especialmente para os mais jovens.
Como preceptor de muitos residentes de anestesia, acompanho essa busca estressante, especialmente nos meses que antecedem a conclusão do programa de residência. Além de ajudar os pacientes a passarem por suas jornadas cirúrgicas da maneira mais leve, rápida e segura possível, eles querem mais.
Hoje em dia, parece que nada vale se o seu emprego não for repleto de propósito. Essa pressão precisa ser aliviada, pois essa busca rígida por um propósito idealizado pode ter um impacto negativo na saúde física e mental, diminuindo a autoestima e gerando decepção.
Talvez o jovem recém-formado erre muitas vezes na busca pelo seu propósito, e isso não é um problema. Já pensou que talvez ainda não seja a hora de ter um propósito tão elevado? Especialmente em um mundo VUCA (volátil, incerto, complexo e ambíguo) ou BANI (frágil, ansioso, não-linear e incompreensível).
Conforme o ser humano adquire experiência, suas metas, objetivos e até alguns valores se transformam ao longo da vida. Estamos em constantes transformações, felizmente.
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Em 23 de abril de 2023, Stephen Friedman, em seu artigo na Harvard Business Review, “Sua carreira não precisa ter um propósito” (tradução livre para o português), destaca que o crescimento a partir da exploração, curiosidade e aprendizagem ao longo da vida também está associado à satisfação profissional. Fazer o que você é bom e usar seus pontos fortes no trabalho está associado a uma maior sensação de significado.
Concluindo, no mundo corporativo, um propósito inspirador tem lugar garantido. Porém, se você é jovem e está começando uma carreira, minha dica é:
· Coloque a busca pelo seu propósito em velocidade 0,8x
· Foco naquilo que você é bom
· Faça com dedicação
· Aprenda com isso
· Tenha resiliência
· Não perca oportunidades.
A verdadeira realização vem com a experiência e a constante adaptação às mudanças. Portanto, mantenha-se curioso e aberto às novas possibilidades, pois é através dessa jornada que o seu propósito se revelará. Foi assim comigo.